Charles Kirschbaum, que estuda estratégia empresarial e teoria organizacional, também analisa a forma como os músicos do estilo se conectam em redes
Tiago Cordeiro
Professor de empreendedorismo, inovação e estratégia empresarial, vinculado ao Insper desde 2009, Charles Kirschbaum atua na graduação dos cursos de Administração, Economia e Engenharia de Computação, nos mestrados profissionais em Administração e Políticas Públicas e no doutorado em Economia dos Negócios.
Entre as aulas e a orientação de projetos, ele também pesquisa estratégia empresarial e teoria organizacional, com foco em compreender a formação de redes. “Existe toda uma trilha de estudos, muito extensa, dedicada a detalhar como e por que as pessoas e as empresas têm mais ou têm menos vantagens dependendo do padrão de relacionamento em que elas se encontram”, explica.
Diariamente, Charles se cerca de música. “Escuto absolutamente de tudo, o dia todo. Ouço rap, bossa nova e, mais recentemente, tenho ouvido música contemporânea israelense”, relata. Mas o jazz tem destaque especial em suas playlists, desde que ele morou uma temporada nos Estados Unidos, entre 1998 e 2001.
“Comecei a conhecer o estilo quando morei lá e assisti ao documentário do Ken Burns. Foi uma forma de entender a realidade onde eu estava, a história americana. O jazz atuou como uma porta de entrada para aquela civilização”, diz, fazendo referência a uma série de dez episódios que detalha a evolução do jazz, foi ao ar em 2001 e chegou a vencer um Grammy
Em 2003, quando iniciou seu doutorado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, Charles escolheu pesquisar as conexões entre músicos no campo do jazz. “Os músicos de jazz tocam muito entre si, intercalam atuações. O meu conhecimento do estilo ajudou, mas seria difícil realizar o mesmo trabalho com um estilo como o rock, por exemplo, em que os músicos tendem a tocar em uma única banda”, detalha.
A tese “Campos Organizacionais em Transformação: o caso do Jazz americano e da Música Popular Brasileira” foi publicada em 2006. Ela apontou, com base em dados empíricos, que o estilo havia passado por uma mudança importante a partir da década de 1950.
“A intenção era mostrar sob quais condições o centro do jazz absorveria as mudanças surgidas na periferia. Em função das várias crises do estilo, ele acabou oferecendo uma abertura maior para mudanças vindas da periferia. Começa inclusive a incorporar outros gêneros, de rock, bossa nova a música indiana”, relata.
O professor, que por alguns meses, aos 16 anos de idade, chegou a estudar violino para relaxar no período de preparação para o vestibular, segue produzindo e orientando análises no campo da cultura, especialmente da música. Quanto ao jazz, com toda a riqueza e a diversidade do gênero, ele tem uma fase preferida. “Para mim, o auge aconteceu nos anos 1950”.
Para quem quer conhecer melhor o gênero musical, Charles recomenda, além do documentário de Ken Burns, um livro: Jazz Standards, de Ted Gioia. “É um guia completo”, ele resume.
Charles também sugere quatro álbuns:
• Ella and Louis, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, 1956: Os dois iniciaram com esse álbum uma trilogia bem-sucedida de discos em parceria, Ella and Louis Again e Porgy and Bess.
• Time Out, Dave Brubeck, 1959: Criticado na época do lançamento, estabeleceu-se como um do trabalhos mais populares e influentes do jazz.
• Kind of Blue, Miles Davis, 1959: Já foi apontado na 12ª colocação da lista de 500 melhores álbuns do mundo, segundo a revista Rolling Stone.
• My Favorite Things, John Coltraine, 1961: Com mais de 500 mil cópias vendidas, o álbum ficou marcado pelo uso do saxofone soprano, que havia caído em desuso na época.