Formada em Inovação no Setor Público pelo Insper, a cofundadora e coordenadora-geral do Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará fala sobre sua trajetória e os desafios de inovar no setor público
A transformação digital impacta todos os âmbitos da sociedade e traz enormes desafios aos governos de todos os níveis, municipal, estadual e federal.
Gestores públicos são desafiados a prestar serviços cada vez melhores aos cidadãos, a usar dados para a tomada de decisão e a usar os recursos disponíveis de forma eficiente. Simultaneamente, devem transformar a própria gestão do Estado, ponto no qual a revolução digital e o surgimento de govtechs – as startups de gestão pública – criaram um ecossistema de inovação, com oportunidades e soluções baseadas em dados e com foco nas pessoas.
Diante desse cenário, qual o papel da liderança pública e como os laboratórios de inovação podem contribuir para a melhoria do serviço prestado à sociedade? Para discutir o assunto, conversamos com a cofundadora e coordenadora-geral do Íris | Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará, Jessika Moreira, formada pelo Insper no curso executivo Inovação no Setor Público.
Jessika nasceu em Fortaleza, atua no serviço público há sete anos e se considera uma empreendedora pública. “Acredito que somente ao priorizar o capital humano e olhar verdadeiramente para as pessoas é possível impactar e transformar a cultura do setor público no nosso país”, diz ela.
A seguir, uma entrevista com Jessika Moreira:
Qual é a sua formação?
Sou graduada em Marketing pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Tenho formação executiva em Inovação no Setor Público pelo Insper; Liderança Estratégica e Inovadora na Era Digital pela Cornell University; Liderança de Dados para Negócios pela Tera; certificação nos programas RH Estratégico no Setor Público pela Fundação Dom Cabral; e Liderança Criativa no Setor Público e na Sociedade Civil pela THNK School of Creative Leadership.
Atualmente, estou me especializando em Políticas Públicas para Cidades Inteligentes, pela Universidade de São Paulo. Também me dedico ao estudo sobre a inclusão de diversidade como diretriz essencial para tornar as organizações públicas mais inovadoras e efetivas na resposta aos atuais problemas complexos da sociedade, além de acelerar a construção de um mundo mais justo para todos.
Como surgiu o Íris e o que vocês fazem aí?
Nossa missão no Íris é fomentar uma cultura organizacional orientada à inovação para acelerar o processo de transformação digital do estado. Acreditamos que a transformação digital é sobre gente. Por isso, colocamos as pessoas sempre no centro dos processos para entregar melhores serviços e políticas públicas.
Trabalhar em uma gestão que sempre foi pautada por novas ideias para a entrega de valor público é também um ponto de destaque nesse processo. O Íris nasceu em 2019, em meio a um forte movimento mundial de abertura de laboratórios em governos para estimular a inovação pública e a aceleração da transformação digital centrada no cidadão.
Definimos diretrizes estratégicas para viabilizar uma mentalidade inovadora e orientada a dados na condução de projetos. Orientamos projetos ligados à inovação e à transformação digital, além de facilitarmos experiências de aprendizagem e oferecermos mentorias sobre cultura de inovação, uso de dados no setor público e construção de serviços e políticas públicas centrados no cidadão. Também articulamos projetos e parcerias com instituições de outros diversos setores.
Como você entende a inovação nos governos?
No caso específico de instituições públicas, é criar algo novo, romper com regras do passado, transformar pessoas e sistemas para impactar positivamente o ambiente público e a sociedade. A inovação é valorizada em resposta à melhoria do atendimento às necessidades da população de forma efetiva.
Entendo que a inovação se relaciona principalmente à mudança de cultura. Inovar envolve riscos. Precisamos trabalhar novas abordagens, experimentar, testar. Lidar com problemas complexos envolve níveis de incertezas. É preciso encarar o risco ou erro como oportunidade de aprendizado para seguir no processo e gerar impacto.
Vale ressaltar que inovar no setor público não é mais uma questão de escolha, é uma obrigação imposta pela complexidade dos contextos sociais em que os modelos tradicionais não respondem efetivamente.
Fale mais sobre o papel da liderança na inovação.
A liderança deve exercer não apenas um papel de “patrocinador”, mas sim de um defensor da inovação. Tem que ser alguém que engaja, que inspira e que está disposto a trocar experiências e aprender continuamente. Uma liderança que compõe e forma uma equipe diversa e plural. No Ceará, por exemplo, após 183 anos, temos finalmente uma mulher ocupando a posição de Secretária de Estado da Fazenda, a Fernanda Macedo Pacobahyba, uma grande entusiasta da inovação no setor público para a solução de problemas complexos sociais.
Qual a importância dos laboratórios de inovação para a gestão pública?
Os laboratórios de inovação na gestão pública são espaços para criar e testar novas ideias e soluções, estimular e institucionalizar a cultura de inovação, desenvolver e formar servidores em novos métodos de trabalho, gerenciar e entregar projetos críticos, incorporar novas tecnologias, identificar e engajar talentos no governo e estabelecer conexão com o ecossistema de govtech e muito mais.
Quais os principais desafios para inovar no setor público?
Considero como um dos desafios a resistência das pessoas à mudança, ao novo. Romper com o status quo e mudar processos e comportamentos.
Além disso, temos também que considerar barreiras políticas, barreiras legais, rotatividade de dirigentes e, entre outros fatores, a diversidade social, cultural e econômica da população.
Considero como um dos principais desafios a resistência das pessoas à mudança, ao novo. Romper com o status quo e mudar processos e comportamentos requer o envolvimento das lideranças para engajar, comunicar e capacitar. Além disso, temos também que considerar barreiras políticas, barreiras legais, rotatividade de dirigentes, questões hierárquicas e, entre outros fatores, a diversidade social, cultural e econômica da população.
Como o curso no Insper influenciou a sua trajetória?
O curso no Insper ampliou minha visão e me deu novas perspectivas sobre como poderia atuar no setor público. Foi transformador. O Íris foi fruto de uma série de sinergias, do conhecimento adquirido e das relações construídas a partir do curso. Desde então, foquei em aprender mais sobre as formas de inovar no governo, conhecendo experiências nacionais e internacionais, construindo e fortalecendo redes.
Você tem sugestões para quem estuda ou atua na área?
Aprender todo dia. Atuar em rede. E, acreditar que é possível sim, transformar realidades. As redes de inovação do setor público brasileiro estão muito dispostas a colaborar. É preciso usar essas redes.
A troca de experiências e aprendizados entre laboratórios de inovação é uma prática fundamental para quem atua na área e quer se desenvolver. O Íris está sempre disponível para compartilhar.
Para saber mais sobre o laboratório, acesse o cartão virtual do Íris.
O Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper oferece uma série de cursos para apoiar servidores do setor público, do setor privado e do terceiro setor para conduzir inovações que melhorem a qualidade da gestão e das políticas públicas no Brasil. O professor Manuel Bonduki participou ativamente da concepção e desenvolvimento da trilha, sendo também docente líder dos cursos, que têm política de bolsas parciais ou integrais, concedidas de acordo com critérios como necessidade, aderência ao perfil do curso e possibilidade de aplicação e impacto.
Inovação e transformação do setor público: desafios para uma prática disruptiva
Desenvolvido em parceria com a Fundação Brava, o curso foi criado com o intuito de apoiar gestores públicos, privados e do terceiro setor a responder essencialmente a cinco perguntas: por que é importante falar de inovação e transformação digital no setor público? O que é inovação, ou quais formas ela pode tomar no setor público, sejam elas ligadas a novos serviços ou novas formas de oferecê-los e geri-los? Como é possível inovar e superar os desafios existentes no desenho e implementação desses serviços, em especial nas dimensões de cultura, processos, tecnologia e legislação? Quanto se consegue impactar com a mudança e como mensurar esse impacto? Quem são os atores-chave da transformação, e como garantir seu envolvimento?
Acelerando a transformação digital no setor público
Neste curso, os estudantes partem de um panorama das tecnologias e artefatos da transformação digital e seus impactos na sociedade e Estado para construir uma visão sistêmica das oportunidades e desafios para os governos. Discutimos a gestão da mudança e o papel das lideranças na transformação, compras públicas de inovação, habilitadores da transformação digital e como usar os dados para tomar melhores decisões respeitando a segurança e a privacidade dos cidadãos. O curso já teve apoio da Aliança pela Inovação e atualmente conta com o apoio do BID Lab.
Ciências Comportamentais, Nudges e Políticas Públicas
Neste curso, os participantes têm contato com as principais teorias que dão base à abordagem das ciências comportamentais, assim como conhecem um ferramental prático e aplicado. É uma introdução compacta, porém, profunda sobre como aplicar ciências comportamentais em situações concretas, permeada pela apresentação e discussão de casos brasileiros, europeus e africanos.