A sociedade contemporânea está imersa em um fluxo constante de informações, impulsionado pela tecnologia e pela era digital.
Nesse cenário, os jornalistas desempenham um papel crucial na filtragem e na análise de dados para fornecer um relato preciso e impactante dos fatos – e, de quebra, para rebater as fake news e a desconfiança gerada pela existência delas.
Não é a primeira vez que os jornalistas precisam se adaptar para sobreviver às mudanças tecnológicas. Desta vez, a sobrevivência depende da compreensão de conceitos de dados e automação.
Neste artigo, vamos abordar a relação íntima entre o jornalismo e a tecnologia, mostrar como a inteligência artificial é usada nesse campo, explicar por que um jornalista deve estudar dados e automação e de que maneira eles auxiliam a escalar o processo jornalístico.
O jornalismo sempre foi moldado pela tecnologia. “Se não tivesse existido a prensa de Gutemberg (inovação de meados de 1455) a gente não teria nenhuma publicação impressa. Como seria o jornalismo sem a invenção do rádio, da televisão, dos computadores e depois da internet?”, provocou, em entrevista à Agência Brasil em abril de 2023, Sílvia Dalben, pesquisadora de doutorado na Universidade do Texas, lembrando que a “bola da vez” é a inteligência artificial.
Dalben, que estuda o jornalismo automatizado e o uso da inteligência artificial nos conteúdos noticiosos com o foco principal nas redações de veículos de comunicação da América Latina, entende que há uma (nova) mudança do modelo de negócios do jornalismo e que essa mutação gera desconfianças (mais uma vez).
Por outro lado, avalia Dalben, essas mesmas mudanças podem se constituir em novas oportunidades de trabalho e viabilidade de existência. Naturalmente, para aqueles profissionais que buscam se adaptar e qualificar para enfrentar os novos desafios.
A inovação tecnológica apresentada agora traz oportunidades para que a narrativa jornalística seja aprimorada, atendendo a um público cada vez mais exigente.
A incorporação estratégica de tecnologias avançadas no jornalismo não apenas possibilita melhorar a eficiência e a precisão, mas também permite que as histórias sejam contadas de maneira mais envolvente e impactante.
Nesse contexto, estudar dados e automação pode ser questão de sobrevivência para o jornalista contemporâneo.
Sobrevivência e boas oportunidades. Com tanta informação ao alcance de todos, se faz cada vez mais necessário um “filtro” para o que é importante e para o que não é mentira.
No artigo “Dez livros para aprender sobre jornalismo de dados e computacional”, publicado em abril de 2020 no site Escola de Dados, a jornalista e pesquisadora Marília Gehrke cita o livro “Facts are sacred”, do jornalista Simon Rogers, para lembrar que o uso de dados no jornalismo é antigo, com registros do século 19.
A diferença, ressalta Gehrke, é que um número jamais visto de bancos de dados está disponível hoje no mundo todo, servindo de valiosa matéria-prima para o jornalismo.
Mas é preciso colocar cada coisa em seu devido lugar:
“Ainda que programar seja importante e capaz de tornar mais efetivos os trabalhos que demandam automação, aprender essa competência não é pré-requisito – o jornalismo guiado por dados ainda é sobre contar histórias.”
Além de servir como inspiração, esses dados trazem consistência e credibilidade para as matérias. O jornalista capacitado para acessar essa grande quantidade de informações, extrair delas insights valiosos e traduzi-las em linguagem acessível e envolvente terá um lugar de destaque nesse mundo altamente tecnológico e acelerado.
Um dos principais benefícios de estudar dados e automação é a habilidade aprimorada de compreender a audiência. Ao analisar os padrões de consumo de informações, os jornalistas podem personalizar a narrativa jornalística de acordo com as preferências e os interesses específicos do seu público, garantindo, assim, um envolvimento mais profundo e significativo.
A compreensão dos princípios de transparência e ética no uso de dados é crucial para a manutenção da confiança e da credibilidade do público.
No artigo citado anteriormente, Marília Gehrke ressalta como a integridade das informações divulgadas promove uma cultura de responsabilidade na divulgação de notícias precisas e imparciais:
“Na Web, as narrativas baseadas em dados ganham diferentes formatos, sem limitação de caracteres, e permite contar histórias aprofundadas, e contextualizadas em camadas por meio de hipertexto. Assim, uma das principais premissas do jornalismo guiado por dados na atualidade tem sido a demonstração de uma prática transparente, com referência às fontes originais, explicação do método utilizado e disponibilização do código-fonte empregado nas análises.”
A proficiência em análise de grandes conjuntos de dados (Big Data) capacita os jornalistas a descobrir padrões e tendências significativas, que impulsionam a cobertura de histórias relevantes e impactantes.
Ao explorar essa vasta fonte de informações, os jornalistas podem produzir reportagens mais aprofundadas, fornecendo uma análise mais assertiva dos eventos e questões atuais.
A inteligência artificial revoluciona a maneira como as notícias são produzidas e entregues. Desde a automação de tarefas rotineiras, até a geração de conteúdo personalizado e análises avançadas de grandes conjuntos de dados, a IA desempenha um papel vital no fortalecimento da eficiência e na expansão das capacidades jornalísticas.
Por meio de algoritmos sofisticados, a IA pode identificar padrões, realizar análises estatísticas complexas de maneira rápida e precisa e até mesmo auxiliar na redação automatizada de notícias simples, liberando os jornalistas para se concentrarem em tarefas mais elaboradas e criativas.
Ao automatizar tarefas repetitivas e analisar dados complexos de maneira eficiente, os jornalistas podem dedicar mais tempo à investigação e à criação de narrativas envolventes.
Isso resulta em uma produção de conteúdo jornalístico mais rápida e precisa, ampliando o alcance e o impacto das reportagens em uma sociedade cada vez mais ávida por informações.
Naturalmente, tudo isso deve ser feito com ética e responsabilidade, e a regulamentação do uso de inteligência artificial é uma preocupação crescente em todo o mundo.
Agora que você já sabe por que é tão importante para um jornalista estudar dados e automação, que tal ler outros artigos sobre esse assunto?