13/06/2022
A tecnologia permite processar um volume maior de dados, mas de nada adiantará se não soubermos as métricas que desejamos entender do negócio para tomar decisões mais assertivas
Renata Frischer Vilenky*
Há pelo menos uma década, é comum ouvirmos que dados são o novo petróleo. Mas será que os dados são realmente o novo petróleo ou são as informações produzidas por eles? E se o valor está na informação, de que adianta ter os dados se não soubermos a que perguntas queremos responder?
Para uma reflexão um pouco mais profunda sobre o tema, recuemos para o século 20. Lembremos do velho talão de notas fiscais, com o qual, para cada venda realizada, obtínhamos minimamente as seguintes informações:
Com essas informações, se tabulássemos cada nota fiscal em uma planilha, incrementando os dados dos fornecedores dos itens, conseguiríamos saber, olhando para o período de 6 meses, por exemplo:
Poderíamos continuar gerando uma lista enorme de perguntas, mas, se avaliarmos o rol de informações que conseguimos extrair com essa lista inicial, perceberemos de forma simples que conseguimos entender quem são os melhores clientes, de onde vem nossa receita recorrente, quais são os itens de estoque que exigem disponibilidade constante e qual o possível impacto da inflação de custo de acordo com a matéria-prima usada para produzir os itens mais vendidos. Conseguimos entender também qual o cenário de risco a que a empresa está exposta, construindo planos de ação para gerir a companhia em época de crise.
Claro que estamos fazendo uma pequena simulação para desmistificar a questão dos dados e ferramentas. O que a tecnologia nos proporciona é a capacidade de processar um volume maior de dados e, de posse de mais cenários, é possível que o resultado das respostas mude. Contudo, de nada adiantará a melhor tecnologia se não soubermos quais as métricas que desejamos entender do nosso negócio para tomar decisões mais assertivas.
Faremos as perguntas erradas ou nem as faremos por não saber o que perguntar. Assim, antes de pensar na ferramenta de big data que deve comprar ou quais as tecnologias mais modernas para processar dados, questione-se sobre as perguntas que quer responder sobre o seu negócio, para entender seu mercado, sua concorrência direta e indireta, sua capacidade de gestão e entrega, sua avaliação aos olhos de seus clientes, sua avaliação aos olhos de seus colaboradores e seus níveis de parceria dentro da cadeia de suprimentos, por exemplo.
Como costumamos falar para startups, faça seu PMV (produto mínimo viável), sem a necessidade de ferramentas incríveis, mas de forma a explorar as informações que você tem dentro de casa e que podem ajudar sua empresa a ter um ou mais olhares sobre cenários de atuação com visões otimistas, pessimistas ou equilibradas e que permitam discussões entre seus colaboradores para validar percepções, orientar atuações e, principalmente, oferecer a oportunidade única de se aprofundar no seu negócio e enxergar, por meio de novas lentes, possibilidades de negócios, mudanças de rota e, eventualmente, eliminação de processos e discussões desnecessárias.
Esse exercício de aprender ou reforçar a arte de fazer boas perguntas pode gerar uma musculatura de altíssimo valor para a empresa e ajudar a desenvolver o hábito de olhar para os dados de forma diferente, entendendo a responsabilidade de como cadastramos um cliente, como registramos uma venda, uma reclamação de cliente ou um cancelamento de venda. Aprenderemos que, se uma informação nasce com dados mal cadastrados ou ajustados no caminho, podemos gerar narrativas completamente diferentes para o comportamento de nossos clientes, o que pode resultar em uma decisão errada ou incompleta por uma resposta distorcida para perguntas sobre comportamentos de compra do nosso consumidor.
Portanto, se avaliarmos com carinho, será que podemos afirmar que os dados — que existem desde a 1ª vez que escrevemos na caderneta do boteco sobre uma venda — são o petróleo deste século?
Ou a nossa capacidade de fazer boas perguntas — buscando informações de qualidade por meio da composição de dados, usando a tecnologia que exponencia a capacidade de processar altos volumes de dados — é o nosso verdadeiro petróleo?
Após avaliar e responder às duas perguntas acima, reflita como você tem lidado com as informações de sua empresa e o quanto você tem usado apenas intuição em vez de fatos para decidir.
Se você achar que fazer boas perguntas não é importante, quero lhe trazer um único fato, sobre o qual já conversamos em um podcast do Insper: havia na Renault uma certeza na linha de produção, a de que manutenção de caminhões era o tipo de manutenção mais custosa para todas as áreas, de acordo com a percepção das equipes envolvidas. Mas quando a empresa decidiu perguntar sobre custos de manutenção para seus sistemas de informação, verificou que o custo de manutenção dos caminhões não era representativo em relação aos custos totais. Também identificou que o nível de estresse gerado na manutenção, em função de alguns processos estabelecidos, gerava a percepção de que esse era o processo mais oneroso para fábrica.
Após a apuração das informações, além de mudar o processo da linha de manutenção, a empresa abriu a avaliação de informações para fábrica, ajudando a tomada de decisão na linha de manutenção e produção. Isso mudou o engajamento dos colaboradores e não só melhorou os indicadores, como também incrementou no seu modelo de trabalho a avaliação de informações para tomada de decisão, ganhou agilidade, reduziu custo operacional e desenvolveu ou fortaleceu habilidades de análise de informações nos profissionais envolvidos na fábrica.
Assim, pense na tecnologia como uma ferramenta para escalar seu potencial decisório, pense na qualidade do dado como o alicerce para construir uma informação de qualidade, mas, fundamentalmente, pense nas respostas que você precisa obter sobre seu negócio para torná-lo cada vez melhor e mais relevante para o seu consumidor final. Com essas escolhas, você conseguirá encontrar os seus barris de petróleo e torná-los cada vez maiores e melhores para sua organização.
Sucesso em suas novas perfurações!
* Renata Frischer Vilenky é alumna Insper do MBA de Administração da turma de 2008, coordenadora do Grupo Alumni de Tecnologia e membro da Academia Europeia da Alta Gestão. É conselheira de estratégia e inovação e mentora de projetos de inclusão social no Instituto Reciclar e na ONG Gerando Falcões. É autora dos e-books Artificial: Uma Oportunidade para Você Aprender e Startup: Transforme Problemas em Oportunidades de Negócio, ambos publicados pela Expressa Editora.