Contratados como estagiários, dois alunos da Engenharia Mecânica vão pesquisar o uso sustentável de materiais da manufatura aditiva
Leandro Steiw
Há muitos meios de avaliar o sucesso do trabalho dos primeiros estagiários do Inova Projetos, criado pelo Hub de Inovação Paulo Cunha, do Insper. A mais recente é que a Braskem, empresa do setor químico e petroquímico que apoiou uma pesquisa sobre manufatura aditiva desde a realização de um Projeto Final de Engenharia (PFE) sobre o tema, renovou a parceria em 2023. Dois outros estudantes de Engenharia Mecânica foram contratados para prosseguir os estudos dos estagiários que se formaram no ano passado.
Para o engenheiro Alexandre da Luz, gerente global de manufatura aditiva da Braskem, os resultados do primeiro ano do projeto foram tão satisfatórios que encorajaram o passo seguinte na direção de continuar o desenvolvimento de usos e aplicações com o uso de materiais Braskem por meio da manufatura aditiva. “A equipe que trabalhou com a empresa no ano passado foi muito qualificada e entregou resultados sólidos”, diz Da Luz.
Uma forma de medir o desenvolvimento, por exemplo, é pelo índice TRL (do inglês Technology Readiness Level), uma escala de 1 a 9 que tenta avaliar quão próxima uma tecnologia está da solução de mercado. “Embora uma solução final ainda dependa de desenvolvimento tecnológico, o trabalho feito em parceria com o Insper permitiu avançarmos de um TRL muito baixo para cerca de 5”, afirma. É quase metade do caminho nessa escala de análise de incerteza tecnológica.
Esse progresso incentivou a renovação do contrato com o Insper. Da Luz explica que, como a manufatura aditiva já está consolidada no campo de prototipagem, o desafio é adotar a tecnologia em peças reais para usos reais. “Esse corpo bastante qualificado de pessoas que o Insper habitualmente forma — muito capacitadas não só do ponto de vista técnico, mas também da perspectiva do negócio — nos permite avançar cada vez mais nessa direção, fomentando o uso e a conversão da manufatura aditiva como realmente um método de fabricação que vai além da prototipagem”, diz o engenheiro.
Coordenador do Programa Avançado em Transformação Digital do Insper e orientador dos estagiários, o professor Alex Bottene conta que a parceria começou em 2021, com o PFE. A Braskem propôs a maturação de um projeto de estudos e casos de aplicação para uma linha de produtos novos em impressão 3D, que a unidade de negócio da Braskem estava desenvolvendo. Como o relatório dos alunos apresentou soluções viáveis para o problema inicial, tornando-se referência dentro da área de manufatura aditiva, a empresa sugeriu a continuação da pesquisa.
O pedido foi ao encontro de uma ideia nascente do Hub de Inovação Paulo Cunha, o Inova Projetos, que pretendia dar continuidade às propostas de inovações dos PFEs das Engenharias e da disciplina Resolução Eficaz de Problemas (REP), do curso de Administração. Naquela oportunidade, Ricardo Ferraro Peres e Lucas Noumi Mellis, do curso de Engenharia Mecânica, haviam terminado o PFE e foram selecionados estagiários do Hub de Inovação, dedicados ao projeto da Braskem.
Peres guarda boas lembranças dos aprendizados. “Já no PFE, tive contato frequente com diversos funcionários da Braskem, como diretores, gerentes e engenheiros”, diz. “Além de desenvolver o projeto em si, pude ter noção de como era o trabalho profissional naquela área específica, desenvolver networking e outras habilidades importantes, como comunicação. Durante o estágio pelo Hub, as experiências profissionais foram ainda mais intensas e diversificadas, pois novos desafios surgiam todos os momentos. Uma das experiências mais ricas foi ter participado da otimização da impressão 3D híbrida com polímeros, que envolve o processo de adição e subtração, ainda pouco estudado.”
Essa combinação de esforços gerou muitos frutos, conforme o professor Bottene. Em maio de 2022, os resultados foram apresentados na Feimec, a maior feira de máquinas do Brasil, dentro de um estande de demonstração de tecnologias de indústria 4.0 da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Levamos a máquina, em parceria com a Romi, e os materiais da Braskem, mostramos os projetos e interagimos com várias pessoas”, diz Bottene.
No decorrer da parceria, outras possibilidades de divulgação foram se abrindo. “O Alexandre também levou, parcialmente, os resultados para as feiras das quais a Braskem participa no Brasil e fora do país”, diz o professor do Insper. “E tivemos um contato mais próximo com algumas empresas parceiras que já usavam esse novo produto da Braskem, para desenvolver estudos de caso, e uma participação ativa com o centro de inovação e embalagens sustentáveis da Braskem, a Cazoolo.”
Naturalmente, os avanços sugeriam a continuidade da parceria. Dois alunos foram selecionados para prosseguir com os estudos em 2023: Pedro Dinacci Célia e Gabriel Pascua de Freitas Moreira, do curso de Engenharia Mecânica. No PFE, em 2022, ambos avaliaram um estudo de caso de polímeros mais sustentáveis provenientes de fonte renovável ou de pós-consumo em manufatura aditiva. Com essa perspectiva, eles darão seguimento às atividades iniciadas por Peres e Mellis, os dois primeiros estagiários do Inova.
Os novos contratados se empolgaram com a próxima experiência em manufatura aditiva. “A intenção é focar nas inovações que se demonstraram mais promissoras e, dessa forma, criar soluções que podem gerar impacto significativo tanto no processo de produção como no mercado como um todo”, diz Pedro Célia. “Nesse momento do projeto, estamos trabalhando em concretizar essas soluções e isso é extremamente empolgante, pois é nessa etapa que ocorre o brain storming e que são feitos o desenvolvimento e os testes, o que torna as expectativas as mais altas possíveis.”
Por sua vez, Gabriel Moreira conta que, durante o PFE, no semestre anterior, aperfeiçoou várias competências e aprendeu muito em relação à impressão 3D. “Acredito que agora, como um estágio, terei mais tempo para me desenvolver, com projetos mais longos e mais aprofundados”, diz. “É muito bom trabalhar com a mesma equipe, e acho que será muito benéfico para a minha formação.”
A integração entre as duas equipes de estudantes evita que se comece a pesquisa do zero. “Agora temos um plano de trabalho de mais 12 meses, buscando a entrega de maturação tecnológica um pouco mais alta”, diz Bottene. “Aprendemos bastante sobre processos dos materiais. O objetivo é aprimorar esses estudos de casos tecnológicos para fazermos um road show, apresentando aos potenciais clientes da Braskem resultados quantitativos que permitam a eles comparar o que já fazem ao processo que nós desenvolvemos.”
Para o professor, o Inova possibilitou contemplar diversos desafios na formação dos graduandos. O primeiro é reunir motivação e recursos financeiros, dois elementos fundamentais em pesquisa tecnológica. “No PFE, os alunos se dedicam quase integralmente ao projeto por um semestre, mas ele está formatado para ser uma disciplina da graduação”, diz Bottene. “Quando se extrapola a formatação da disciplina, em um projeto criado entre parceiros — neste caso, o Insper, via Hub de Inovação, e a Braskem —, os estudantes estarão supermotivados nas 30 horas semanais de estágio.”
Bottene complementa: “Os alunos integram um projeto no qual conversam direto com um líder global na área, o Alexandre da Luz, e numa corporação que também é líder, a Braskem. Eles estão sendo orientados por quem habitualmente supervisiona profissionais sêniores, e isso é motivacional. De minha parte, como professor, oriento uma equipe que consegue dedicar bastante tempo e almejar desafios maiores. Então, está sendo um modelo muito legal, porque temos pessoas bem formadas e motivadas, com recursos que permitem deixá-las trabalhando no projeto por um grande período de tempo. E disso, inevitavelmente, se colhem bons resultados”.
A parceria com a Braskem, no primeiro ano do Inova, funcionou como validação da iniciativa construída dentro do Hub de Inovação e que, em sua formatação, engajou diversas áreas do Insper. Para Carolina Fouad Kamhawy, gerente de projetos do Hub de Inovação, a recontratação para 2023 reforça a confiança entre as empresas que participam do PFE. “Já temos no pipeline outros projetos dessa categoria, com parceiros diferentes, e renovamos com a própria Braskem, o que é um ótimo sinal a respeito do funcionamento da iniciativa do Hub”, diz Carolina.
As atividades do Hub priorizam a geração de conhecimento, a transformação, a inovação de ponta e a formação de líderes inovadores. “Estamos, assim, contribuindo para o desenvolvimento dos alunos do Insper e para a atualização do corpo docente em relação às demandas do mercado e às tendências de inovação”, afirma Carolina.