Os matriculados no terceiro semestre do curso são desafiados a desenvolver projetos para demandas reais da empresa ConnectData, fundada por Gabriel Borges, ex-aluno do Insper
Tiago Cordeiro
Todo aluno que chega ao terceiro semestre da graduação em Engenharia de Computação no Insper cursa a disciplina de Desenvolvimento Colaborativo Ágil. Dedicada a ensinar processos ágeis na criação de softwares, ela exemplifica bem a proposta da instituição: conciliar teoria e prática, com base nas demandas reais do mercado naquele determinado momento.
Ao longo dos anos, entidades, startups e grandes empresas, dos mais variados setores, desafiaram os estudantes da disciplina a atuar em grupo para desenvolver soluções viáveis para problemas concretos. “Levamos em consideração a qualidade da interação com o cliente, o desenvolvimento técnico das soluções e a capacidade de inovar”, afirma Marcelo Hashimoto, professor da disciplina.
Para cumprir esse objetivo, não basta apresentar uma situação simulada, daí o interesse em procurar parceiros. Mas o contato com diferentes corporações, uma interagindo com cada grupo de estudantes, dificultava nivelar o desafio e estabelecer parâmetros objetivos de avaliação. Foi quando a startup ConnectData se apresentou com uma proposta: disponibilizar todos os projetos, atuando como um cliente real prestando um serviço de mentoria.
O fundador da empresa, Gabriel Borges, foi aluno de diferentes cursos de curta duração no Insper, começando em 2015, com o programa Empreendedorismo em Ação. Chegou a vencer o Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes, uma parceria entre o Insper e a família de José Ermírio de Moraes, em homenagem ao alumnus José Eduardo Ermírio de Moraes (1983-2013), cuja trajetória foi marcada pelo protagonismo nos negócios e o espírito empreendedor.
Borges desenvolveu um projeto de um podcast para o Centro de Empreendorismo e cursou, na instituição, o MBA Executivo – atualmente cursa mestrado na Escola Politécnica na Universidade de São Paulo, em Inovação na Construção Civil.
Sua empresa surgiu em 2014, dentro da Universidade de Cambridge. Foi a primeira startup com uma patente requerida a oferecer soluções 100% em internet das coisas (IoT) para a indústria da construção. “Levamos rastreamento de ativos, materiais, pessoas e equipamentos, de forma a trazer mais visibilidade dos indicadores de produtividade, tanto das pessoas quanto dos processos”, diz Borges. A solução também vem sendo procurada por outras indústrias, como a farmacêutica e a de energia.
O empreendedor queria contribuir para a formação dos alunos, levando a eles as demandas reais de IoT de seus clientes. Foi assim que, desde o primeiro semestre de 2021, sua empresa acabou selecionada para atuar, de forma fixa, dentro da disciplina de Desenvolvimento Colaborativo Ágil. “Levamos um desafio, sempre na visão de um problema real de mercado, e avaliamos a solução”, diz Borges. Mais recentemente, a startup passou também a financiar bolsas de pesquisa na área de IoT. “Já temos uma pesquisa aprovada e outras virão. Essa é uma área carente de projetos.”
A experiência é satisfatória para todos os envolvidos, aponta o empreendedor. “A experiência é revigorante. Conviver com os alunos, conhecer seus insights, compartilhar do entusiasmo, agrega para minha experiência dentro da empresa”.
Os alunos abraçam a proposta. No segundo semestre de 2021, Ricardo Mourão Rodrigues Filho, Adney Costa, Lister Ogusuku e Matheus Oliveira formaram um dos grupos dedicados a apresentar soluções.
“Tivemos uma grande oportunidade de nos desenvolver e nos inserir no mercado de trabalho, ao entrar em contato com as principais necessidades das empresas”, diz Ricardo Mourão Rodrigues Filho. “O escopo do projeto se baseou em produzir uma interface para uma empresa ambientada no setor de construção civil, capaz de adicionar, remover e modificar informações respectivas ao gerenciamento de estoques de materiais e ferramentas, e interligar estoques em pontos geográficos à necessidade de uma determinada obra”, ele descreve.
“Ademais, foram criados recursos que orientavam o usuário às mudanças realizadas em base de dados, via notificações ou armazenamento em log de todas as realizadas em um dado período de tempo”, diz ele. Para chegar a essa solução, os estudantes se inspiraram em aplicativos de delivery e e-commerce, a fim de criar interfaces confortáveis e informativas ao usuário.
Um ponto importante dessa solução, segundo o aluno, “foi trazer agilidade e conexão entre setores antes desconexos, como ERP e construção em si, de maneira dinâmica e eficaz, fazendo uso de esqueleto back-end em Java para construção das requisições, modificações e solicitações realizadas no banco de dados de um dado estoque, em consórcio a um esqueleto front-end (JavaScript, NodeJs e React Native), que torna a experiência e a própria interface mais intuitiva e de fácil interação”.
O aluno Eduardo Araújo Rodrigues, por sua vez, diz que o projeto foi um dos mais desafiadores do semestre. “Uma das maiores dificuldades do projeto foi, sem dúvida, o início. Programar em uma linguagem com a qual eu não estava muito familiarizado diminuiu o rendimento nas primeiras semanas. Outra dificuldade foi deixar o aplicativo intuitivo para os usuários, de forma que eles conseguissem completar as tarefas desejadas com facilidade”, ele relata.
“Contudo, principalmente graças ao apoio constante dos professores, meu grupo conseguiu superar essas dificuldades. Eles sempre se mostraram dispostos a ajudar, o que facilitou muito o desenvolvimento do projeto”, ele conta. “Em geral, a experiência com a disciplina foi muito recompensadora, principalmente pelo resultado final e pela oportunidade de trabalhar com uma empresa real.”