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Como combater as perdas e o desperdício de alimentos no Brasil e no mundo

O Insper Agro Global e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais discutiram soluções para os problemas, agravados na pandemia, que contrastam com a insegurança alimentar de parte da população 

O Insper Agro Global e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais discutiram soluções para os problemas, agravados na pandemia, que contrastam com a insegurança alimentar de parte da população 

Com agravamento da crise econômica durante a pandemia de covid-19, o tema da insegurança alimentar tem sido cada vez mais discutido. Tanto na cadeia produtiva quanto na casa dos consumidores, a questão da perda e do desperdício de alimentos vem à tona. Por outro lado, estima-se que mais de 55% da população brasileira viva em insegurança alimentar. 

Não é uma situação nova. Reconhecendo a importância do tema, em 2019 a Organização das Nações Unidas designou a data de 29 de setembro como o Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos. 

Como parte da parceria entre o Insper Agro Global e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), foi promovido um webinar no dia 16 de setembro para discutir o tema e maneiras de mitigar os efeitos desses problemas.  

O evento contou com a moderação de Marcos Jank, professor do Insper e coordenador do Insper Agro Global, e as participações como debatedores de Walter Belik, professor aposentado da Unicamp e diretor do Instituto Fome Zero, Murillo Freire Júnior, pesquisador da Embrapa, Marcio Milan, vice-presidente institucional e administrativo na Associação Brasileira de Supermercados e Ana Cristina C. G. Barros, gerente de assistência do Sesc Nacional e gestora da Rede de Bancos de Alimentos Mesa Brasil. 

Panorama da perda e do desperdício de alimentos 

Ao longo dos anos, o Brasil desenvolveu diversos programas e políticas para diminuir a pobreza e assegurar a nutrição da população. Porém, mesmo antes da pandemia, a condição dessas políticas sociais veio se deteriorando em função de cortes orçamentários, recessão econômica e crises políticas. 

O professor Marcos Jank frisou o agravamento dessa situação com a chegada da pandemia: estima-se que 9% da população esteja em situação de grave insegurança alimentar, caracterizada pela falta de disponibilidade e o acesso das pessoas aos alimentos. Por outro lado, o Brasil detém o maior saldo comercial agrícola do planeta, exportando cerca de 40% do que produz.  

Ao mesmo tempo, há alta perda de produtos agropecuários e alimentos no processo produtivo e o desperdício de alimentos no consumo. “Em geral, o problema da perda de alimentos nas cadeias produtivas é maior nos países mais pobres, que têm graves problemas de distribuição, armazenamento e refrigeração. Já a questão do desperdício é mais comum em países mais ricos, pois muitos alimentos são descartados nas casas e em restaurantes”, afirma Jank. 

O problema tende a crescer caso a a situação no mundo não mude. O professor Walter Belik apresentou a previsão de que, em 2050, a população do planeta deve atingir 9,8 bilhões de pessoas, pressionando a demanda por alimentos, água e energia. “O que produzimos já é suficiente para atender à demanda – o problema é a distribuição dos alimentos. Podemos também reaproveitar parte das perdas para aumentar a oferta de comida, o que permitiria maior sustentabilidade na produção, menor desmatamento e menor pegada de carbono”, diz Belik. 

Nesse sentido, vêm sendo organizadas diversas iniciativas para combater o desperdício, como a Save Food, iniciativa que reúne a FAO, braço das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o Unep, programa ambiental das Nações Unidas, a empresa de eventos Messe Düsseldorf e a feira de embalagens Interpack. O assunto também foi evidenciado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, entre os quais foi estabelecido que os países devem diminuir o desperdício de alimentos em até 50% até 2030. 

Perda atinge várias fases da cadeia produtiva 

Mesmo antes do plantio, já são observadas perdas que irão atingir diferentes etapas da cadeia produtiva de maneira distinta. Para o pesquisador Murillo Freire Júnior, o desconhecimento de técnicas para escolha de variedades adaptadas ao local de plantio e a falta de zoneamento agroecológico podem gerar baixa produtividade e produtos defeituosos. No momento da colheita, a escassez de mão-de-obra especializada e a falta de treinamento geram manuseio errado e danos ao alimento. 

Após a colheita, a perda pode ocorrer por erros no armazenamento, como má refrigeração e falta de paletização. O transporte inadequado e rudimentar também prejudica a qualidade dos alimentos. “Os principais pontos a ser resolvidos são levar informação a todos os elos da cadeia e integrá-los para buscar o fim das perdas, com atuação em todas as etapas”, diz Freire. 

Após plantio, armazenamento e transporte, é hora de o alimento chegar ao consumidor. No Brasil, 28 milhões de consumidores vão diariamente ao mercado. Marcio Milan explicou que, há alguns anos, o valor da perda de produtos era igual ao lucro líquido dos mercados. Porém, em 2020, a perda de alimentos caiu, como resultado de um trabalho de conscientização e evolução conduzido pela Associação Brasileira de Supermercados. 

O vice-presidente da associação explicou ainda que é preciso articular maneiras de discutir, junto ao governo federal, alternativas para que produtos que estão com a validade vencida, mas não estão impróprios para consumo, possam ser utilizados. A ideia é deixar de usar a expressão “vencido” em favor de “consumir até a data”, o que já é conhecido em outros países como best before. 

Enfrentamento à insegurança alimentar 

Nesse contexto, existem iniciativas para reduzir os impactos das perdas e do desperdício, como os bancos de alimentos. Eles são equipamentos de segurança alimentar e nutricional espalhados pelo mundo que fazem um trabalho de coleta de alimentos próprios para o consumo humano, mas fora dos padrões de comercialização. Esses bancos também destinam os itens para pessoas em situação de vulnerabilidade, por meio de parceria com redes socioassistenciais. 

Para Ana Cristina C. G. Barros, os bancos de alimentos contribuem para atenuar os efeitos da fome e têm impacto ambiental, pois evitam que alimentos sejam jogados fora quando ainda podem ser consumidos. “A rede Mesa Brasil Sesc tem 93 bancos de alimentos espalhados pelo Brasil. Em 2020, a rede distribuiu mais de 50 milhões de quilos de alimentos para 3 milhões de brasileiros, no contexto da pandemia”, afirma Ana Cristina. 

Além de trabalhar com os alimentos doados pelo varejo e pela indústria, os bancos coordenados pela Mesa Brasil Sesc tiveram de investir na captação de doadores para distribuição de cestas básicas e refeições prontas, uma adaptação ao contexto de pandemia. Os equipamentos também promovem iniciativas educativas de combate ao desperdício junto aos consumidores. 

O maior desafio atual para os bancos é a criação de leis como base para o trabalho desenvolvido, do ponto de vista do doador, de quem recebe os alimentos e de quem os consome no fim da cadeia. “Precisamos de um fortalecimento das políticas públicas, do investimento em pesquisas e de uma sensibilização de toda a cadeia, desde o campo até a mesa, para que possamos reduzir as perdas e o desperdício”, diz Ana Cristina. 

 

Confira a programação de webinars no site do Insper.

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