O alumnus Marcelo Bentivoglio fala sobre o crescimento e os planos da QI Tech, o mais novo unicórnio da América Latina
A fintech QI Tech, que tem dois alumnus do Insper como sócios — o CFO Marcelo Bentivoglio e o CEO Pedro Mac Dowell —, é o mais novo unicórnio da América Latina. A conquista foi concretizada por meio da extensão da rodada Série B, na qual a empresa captou um aporte adicional junto a seus atuais investidores, General Atlantic e Across Capital.
Para ser considerada um unicórnio, uma startup precisa ter uma avaliação de mercado superior a 1 bilhão de dólares. A QI Tech se tornou a 26ª startup brasileira a alcançar esse patamar (veja a lista completa aqui). Assim como os unicórnios da mitologia, essas empresas são poucas e raras, destacando-se em um universo de startups. O alto valuation alcançado reflete o potencial de crescimento da empresa, indicando que ela tem grande chance de se tornar um gigante em seu setor.
De acordo com reportagem publicada pelo Brazil Journal, a QI Tech levantou mais 50 milhões de dólares em uma extensão da sua Série B. O CEO da empresa, Pedro Mac Dowell, alumnus do curso de MBA Executivo em Finanças (2008), revelou que na rodada anterior a empresa já havia sido avaliada em algo próximo a 1 bilhão de dólares. Com a nova captação, a fintech estaria agora avaliada em torno de 1,5 bilhão de dólares.
Desde sua fundação, em 2018, a QI Tech se consolidou como uma plataforma abrangente de infraestrutura financeira, oferecendo uma gama diversificada de soluções, desde crédito e serviços bancários até ferramentas antifraude. Sua proposta de “balcão único” (one-stop-shop) proporciona às empresas acesso a um portfólio completo de APIs, permitindo-lhes oferecer produtos financeiros de forma eficiente e segura aos seus clientes. A QI Tech também foi a primeira fintech no país a receber autorização do Banco Central para operar como Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a primeira a se tornar distribuidora de títulos e valores mobiliários (DTVM), credenciada pela CVM.
Graduado em Economia em 2012, o CFO Marcelo Bentivoglio estudou no Insper com uma bolsa parcial — hoje é um doador do Programa de Bolsas. Em 2022, ele foi o vencedor do 4º Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes, iniciativa que reconhece o protagonismo de alunos, alunas e alumni da Comunidade Insper que são líderes em projetos inspiradores. Na entrevista a seguir, Bentivoglio fala sobre o que representa para a QI Tech a conquista do status de unicórnio e os planos da empresa.
Qual é o significado de a QI Tech se tornar um unicórnio? O que representa essa conquista?
Quando começamos nosso negócio, naturalmente tínhamos algumas metas a alcançar. Mas, mais do que isso, iniciamos um negócio por acreditamos que nosso produto realmente beneficia a sociedade. Quando identificamos uma ótima oportunidade após uma mudança regulatória com a introdução da Sociedade de Crédito Direto (SCD), decidimos agarrá-la e criar algo grande.
No início, alcançar o valor de 1 bilhão de dólares parecia algo fora da realidade. Receber um investimento que valoriza nossa empresa nesse patamar é uma conquista especial e gratificante. Isso demonstra que o mercado reconhece e valoriza nosso esforço.
Mas nunca construímos a empresa com o objetivo de nos tornarmos um unicórnio. Nosso foco sempre foi construir algo valioso para a sociedade. Sempre enfatizamos entre os sócios da QI Tech que nosso objetivo é gerar valor para a sociedade. Se conseguimos isso, a sociedade estará disposta a pagar pelos nossos serviços, o que resultará em ganhos financeiros. Este momento representa a resiliência da nossa equipe e o reconhecimento do mercado de que estamos desenvolvendo um produto disruptivo que gera valor para a sociedade.
A QI Tech oferece uma plataforma com várias soluções financeiras. De que maneira isso gera benefícios para a sociedade?
O primeiro aspecto é o acesso. Com a tecnologia atual, qualquer pessoa pode solicitar a abertura de uma conta bancária pelo celular. A QI Tech fornece a infraestrutura por trás de serviços digitais. Um exemplo é o produto de antecipação do saque-aniversário do FGTS. Antes, as pessoas não tinham acesso fácil aos fundos do FGTS, que muitas vezes ficavam sem rendimento significativo. Com a antecipação, elas podem usar esses recursos quando necessário, melhorando seu acesso a recursos financeiros.
O segundo aspecto crucial é o preço. Quando há apenas um provedor de serviços, o preço tende a ser alto. A competição é essencial para garantir preços justos. A QI Tech facilita isso, pois nossa infraestrutura permite que várias empresas compitam no mercado financeiro. Isso inclui empresas não financeiras, como a Vivo, uma empresa de telefonia que agora oferece serviços financeiros. A empresa tem interesse em ser competitiva nesse setor para aumentar o engajamento de seus clientes e fortalecer sua base de usuários.
E o terceiro ponto que considero importante é a experiência do cliente. Antes, os créditos só estavam disponíveis em dias úteis e em horário comercial. Você não podia solicitar um crédito no Itaú, por exemplo, às 2h da manhã de um sábado. Com a infraestrutura da QI Tech, agora as pessoas podem acessar crédito 24 horas por dia, 7 dias por semana. Lançamos isso em 2020 com a chegada do Pix. Integrando o Pix em nossa plataforma, tornamos nossos créditos disponíveis o tempo todo. Durante o último carnaval, por exemplo, realizamos quase R$ 150 milhões em créditos, mostrando como o crédito 24 horas por dia é útil, especialmente para pequenos comerciantes que precisam de crédito instantâneo para suprir suas necessidades durante feriados. Isso exemplifica como melhoramos a experiência até mesmo de clientes que já têm acesso a serviços financeiros de grandes instituições.
Quais são os próximos passos da QI Tech? O que pretendem fazer com o valor captado na última rodada de investimento?
Recentemente, realizamos uma grande captação de recursos, que foi uma continuação de outra captação anterior. Usamos parte desses recursos para adquirir a Singulare, uma corretora de grande porte. Antes dessa aquisição, a QI Tech tinha cerca de 100 colaboradores, enquanto a Singulare conta com cerca de 300. Temos agora o desafio de integrar as duas empresas e promover um ambiente de trabalho conjunto. No curto prazo, nosso foco é garantir uma integração eficiente com essa aquisição, ampliando nossa infraestrutura para serviços financeiros. Até agora, mencionei aspectos como contas bancárias, transações, pagamentos e crédito, mas o universo dos serviços financeiros é vasto, incluindo câmbio, seguros e investimentos. Nosso objetivo no médio e longo prazo é expandir nossa oferta para abranger essa gama completa de serviços, de forma a oferecer aos nossos clientes uma infraestrutura comparável à dos grandes bancos, como o Itaú. Desejamos que nossos clientes possam atender às necessidades de seus próprios clientes da mesma forma que os grandes bancos, oferecendo uma cesta completa de serviços, desde contas correntes até seguros diversos.
A QI Tech tem planos de internacionalização ou é algo que vocês não pensam porque ainda há muita coisa para explorar no mercado brasileiro?
Temos muitas oportunidades a explorar no Brasil e estamos bastante empolgados com o mercado nacional. A internacionalização é um grande objetivo para nós, pois queremos construir uma empresa global. No entanto, é importante considerar que nosso produto é altamente regulamentado e adaptado ao contexto local. Não podemos simplesmente replicá-lo em outros países sem entender completamente as regulamentações locais. Eu, particularmente, dedico pelo menos uns 10% a 15% do meu tempo estudando regulamentações de outros países. É um sonho grande, mas hoje ainda estamos em fase de pesquisa.
Você foi aluno bolsista do Insper e hoje é doador do Programa de Bolsas. Continua atuando como mentor de aluno bolsista?
Sim, sou padrinho de um aluno bolsista. Temos encontros mensais, nos encontramos uma vez por mês, almoçamos juntos, e para mim essa é uma das partes mais gratificantes. É quando consigo retribuir um pouco do que recebi. Eu sempre repito que meu desejo é que o Insper se torne no Brasil o que Stanford é nos Estados Unidos: um polo tecnológico, um berço de grandes negócios e inovação. Continuo como doador e mentor, e sempre reservarei um tempo para continuar fazendo isso, pois considero extremamente importante o Programa de Bolsas.
Você também costuma ser convidado pelo Hub de Inovação e Empreendedorismo Paulo Cunha para ministrar aulas de empreendedorismo e fintechs no Insper, certo?
Sim, às vezes participo de algumas aulas para contar minha trajetória. A ideia é compartilhar minha experiência com os alunos, mostrar a realidade do mercado e como eles podem alcançar seus objetivos. Nesses contatos com os estudantes, procuro ser transparente e mostrar o dia a dia do trabalho, os desafios e as conquistas. Uma das coisas que mais me motivava quando era aluno no Insper era conhecer pessoas que tinham feito coisas legais em grandes empresas. Eu me inspirava nelas e tentava participar de todos os eventos. Hoje, tenho muito orgulho de poder voltar ao Insper como um desses exemplos. Acredito que minha experiência pode ser útil para os alunos se identificarem e aprenderem com ela.
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