25/05/2022
O paulista Marcelo Bentivoglio está à frente da área de estratégia da QI Tech, que no final de 2021 captou 270 milhões de reais e realizou sua primeira aquisição
Tiago Cordeiro
Primeira fintech na modalidade de Sociedade de Crédito Direto aprovada pelo Banco Central, a QI Tech é um caso de sucesso que dá uma dimensão do crescimento do mercado do novo banking as a service (BaaS), ou banco como serviço — como são conhecidas as soluções que permitem a qualquer tipo de negócio oferecer serviços financeiros sem necessidade de um banco ou outra instituição financeira.
A QI Tech surgiu em 2018, com o objetivo de atender a demandas financeiras da gestora Quatá Investimentos, onde trabalhavam dois fundadores, Pedro Mac Dowell e Marcelo Buosi. Ao longo de 2021, a empresa registrou ou crescimento de 500% e anunciou a captação de 270 milhões de reais em sua rodada da Série A, liderada pelo Fundo Soberano de Cingapura (GIC), um dos maiores investidores de fintech do mundo, que estimou que a QI Tech já vale 1 bilhão de reais.
Além disso, na madrugada de 24 de dezembro,a QI Tech formalizou sua primeira aquisição: a compra da Zaig, uma startup que oferece prevenção de fraude e checagem do cadastro. Outras rodadas de investimento e outras aquisições virão, e uma IPO (oferta pública inicial) também está no horizonte.
Recentemente, a QI Tech saiu de 20 para 70 funcionários. Realizava 100 operações de crédito por dia, agora saltou para 5 mil. Todos os meses, finaliza de 500 milhões a 700 milhões de reais em novas operações de crédito. Os 4,2 bilhões de reais processados em 2021 representam três vezes e meia o valor do ano anterior.
“Voltado para clientes de grande porte, nosso produto de tecnologia proprietária permite que qualquer empresa construa um banco do zero, com opções que incluem de financiamento automotivo e estudantil a cartão de crédito pré-pago”, explica o terceiro sócio, o ex-aluno do Insper Marcelo Bentivoglio, de 31 anos.
Com a solução da QI Tech, qualquer empresa pode oferecer contas, emissão e liquidação de boletos e transferências bancárias, incluindo PIX e QR code. A carteira de perto de 150 clientes inclui o operadora de telecomunicações Vivo e os aplicativos de entrega Rappi e iFood. “Nosso objetivo é atender empresas capazes de democratizar o acesso aos serviços bancários”, diz Bentivoglio.
Ele aderiu ao time de Pedro Mac Dowell e Marcelo Buosi em 2021. Trazia na bagagem outra iniciativa empreendedora no currículo, além de uma passagem pelo banco Goldman Sachs.
Nascido em Campinas, Marcelo Bentivoglio vive em São Paulo desde a infância. “Minha família é humilde. Fui aluno bolsista a vida toda, incluindo no Insper, onde entrei em 2008 para cursar a graduação em Economia”, relembra. Para reforçar a renda, enquanto fazia faculdade, Bentivoglio trabalhava como recreador infantil e crupiê de pôquer. “Montei, dentro do Insper, um grupo de estudos de estatística aplicada ao pôquer, mas a iniciativa teve vida curta. Sempre tive vontade de fazer as coisas acontecerem”, diz.
Disposto a entrar no mercado e reforçar o apoio financeiro à família, Bentivoglio foi aprovado no processo seletivo do banco Goldman Sachs, onde se viu efetivado e cumpriu o ciclo como analista. Em setembro de 2015, criou seu primeiro negócio, que liderou por quatro anos: a fintech Banfox, que buscava as melhores soluções de crédito para pequenos empreendimentos. “Na época, o Nubank ainda era apenas uma boa ideia com uma fila de espera e não havia rodadas de captação de forma consistente. Comecei do modo tradicional, vendendo meu carro e investindo tudo na empresa”, conta.
A experiência foi bem sucedida. “Passamos pelo InovaBra, o hub de inovação do Bradesco, e pelo programa de batalha de startups da TV Record. A empresa ganhou corpo, formou uma carteira de clientes consistente, tornou-se sustentável rapidamente.” Mas então veio uma lição: “Aprendemos do jeito mais duro o que significa timing de mercado. Quando nos demos conta, em meados de 2018, já existiam pelo menos outras 20 fintechs de antecipação de crédito, muitas criadas por empreendedores experientes.”
Bentivoglio e os sócios venderam a Banfox. E ele partiu então em busca de novas oportunidades para empreender. Foi quando se aliou a Pedro Mac Dowell e Marcelo Buosi. Tornou-se sócio e responde pela área de estratégia da QI Tech, incluindo os departamentos de marketing e vendas. “Eu vinha desenhando uma proposta muito semelhante à que eles estavam implementando. E eles precisavam de braço para auxiliar no crescimento. Foi um encontro produtivo”, diz.
O ex-aluno do Insper visualiza um futuro em que o ecossistema financeiro, cada vez mais democratizado e diversificado, alcance um novo estágio. “O open finance será tão disruptivo no mercado quanto foi o Pix. Aliás, as duas ferramentas vão atuar juntas’, afirma. “Também há muito espaço para crescer na área de gestão de dados e construção de motores de machine learning. Além disso, o crediário, um produto tão conhecido dos brasileiros, há décadas, está sendo rapidamente transformado pela jornada digital.”
Nas horas vagas, Bentivoglio ainda joga pôquer, mas sem compromisso. “É uma atividade que demanda muito tempo. Não tenho condições de me dedicar, mas ainda brinco com os amigos”, diz.