A solução, desenvolvida para o Hospital Alemão Oswaldo Cruz durante o Projeto Final de Engenharia, permite que o equipamento Sequel seja encontrado rapidamente pela equipe de apoio aos médicos
Bruno Toranzo
Nas cirurgias, uma das principais preocupações dos médicos é evitar riscos ou complicações que possam ser gerados por essa intervenção. Um desses riscos é a trombose, a formação de um coágulo que pode bloquear o fluxo normal do sangue. Isso pode ocorrer em qualquer parte do corpo, mas mais frequentemente nas veias das pernas e coxas. Para evitar esse problema nas cirurgias de longa duração, utiliza-se um equipamento auxiliar chamado Sequel. Ao simular uma caminhada, por meio de um processo que infla e desinfla de forma contínua as pernas, o equipamento possibilita que a circulação nesse local seja mantida ativa durante a cirurgia.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, que tem perto de 30 desses aparelhos para utilização nos centros cirúrgicos, solicitou aos alunos de Engenharia do Insper uma forma de encontrá-los rapidamente, já que são realizadas muitas cirurgias diariamente, tornando a gestão desse recurso mais eficiente, com ganho de qualidade no atendimento aos pacientes.
Esse pedido foi feito no contexto do Projeto Final de Engenharia (PFE), desenvolvido no 8º semestre da graduação e que funciona, na prática, como um trabalho de conclusão de curso, com a mentoria de um professor. Os trabalhos atendem a demandas reais do mercado ao longo de quatro meses de trabalho, com dedicação mínima de 300 horas de cada aluno. As empresas, que não têm custo com a solução disponibilizada, apoiam na formação dos alunos mentorando a solução e passam a ter direito à propriedade intelectual dela.
A demanda do Oswaldo Cruz veio como consequência de outro PFE entregue no segundo semestre do ano passado com esse mesmo propósito de encontrar rapidamente um recurso no hospital. As cadeiras de rodas foram o alvo daquela vez. Participaram quatro alunos do curso de Engenharia Mecatrônica e dois da Universidade Texas A&M, o que representou o primeiro PFE desenvolvido em parceria com uma universidade estrangeira. Desta vez, para o PFE referente ao Sequel, trabalho desenvolvido no primeiro semestre deste ano, houve novamente a participação dessa universidade americana, mas com três alunos de Engenharia de Computação do Insper: Andresa Buchala Bicudo, Rafael Libertini Argondizo e Rafael Seicali Malcervelli.
Em termos tecnológicos, não houve diferença entre os dois PFEs, já que a solução oferecida foi basicamente a mesma. “O protótipo do dispositivo, que está instalado nas cadeiras de rodas e nas bombas Sequel, utiliza a própria rede wifi do hospital e se guia a partir da localização das antenas. Quando a antena do wifi emite o sinal, o dispositivo desenvolvido pelos alunos recebe esse sinal, permitindo assim identificar onde estão, em qual bloco e andar, esses importantes recursos, que são a cadeira de rodas e o Sequel. Isso faz a diferença em termos de agilidade de atendimento, já que a área do hospital é extensa”, diz o orientador desse PFE, Alex Bottene, professor de Engenharia Mecânica e Mecatrônica do Insper nas áreas de design para manufatura, processos de fabricação, processos avançados de manufatura e gestão integrada da manufatura.
Segundo Bottene, o localizador está baseado em uma eletrônica de desenvolvimento e foi criado a partir de insumos que os alunos já conheciam do laboratório de ensino. “Em termos de software, que se aplica principalmente ao dashboard da solução construída, utilizamos a experiência em IoT (internet das coisas), a fim de permitir a plena integração da conexão de internet com a cadeira de rodas e o Sequel. Contribuiu para isso o conhecimento dos alunos em relação à programação de um serviço de nuvem, fazendo as devidas conexões das informações necessárias para o funcionamento correto do localizador”, explica o professor.
O centro cirúrgico representa a área mais lucrativa de qualquer hospital e, do ponto de vista de negócios, precisa trabalhar com a máxima eficiência, motivo pelo qual encontrar rapidamente as bombas Sequel é uma medida bem-vinda. “Essa necessidade do localizador no Sequel veio de uma conversa com as equipes do Oswaldo Cruz, que apontaram esse recurso como de alto impacto para redução dos atrasos das cirurgias, envolvendo inclusive a possibilidade de a intervenção não ocorrer por falta desse aparelho”, destaca Bottene.
O PFE foi viabilizado por meio de reuniões semanais dos alunos com os profissionais do Oswaldo Cruz, estando entre eles engenheiros clínicos, médicos, enfermeiros, chefes de enfermagem e gestores hospitalares. “Essa diversidade de formação, assim como o engajamento do Oswaldo Cruz, trouxe abordagens distintas de pensamento e de conhecimento que contemplaram todos os aspectos relevantes para o sucesso da solução criada”, afirma o professor.
A demonstração do protótipo pelos estudantes, com a montagem no centro cirúrgico, já foi feita com sucesso. Na visão de Bottene, a característica mais interessante do PFE é dar oportunidade para os alunos terem contato com problemas reais e, mais do que isso, serem desafiados a trazer a solução. “O Oswaldo Cruz tinha uma proposta mais cara para resolver esse mesmo problema solucionado pelos alunos com um projeto de implantação de baixíssimo custo, que utiliza o serviço de nuvem já adotado pelo hospital”, finaliza.