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Como a educação permite a mobilidade social da população negra

Convidados do Programa de Bolsas do Insper falaram da importância de ampliar a inclusão e a diversidade no ensino superior brasileiro

Convidados do Programa de Bolsas do Insper falaram da importância de ampliar a inclusão e a diversidade no ensino superior brasileiro

 

Leandro Steiw

 

A educação tem um peso importante na mobilidade social da população negra e, consequentemente, na redução das desigualdades sociais e econômicas. O Programa de Bolsas do Insper é uma das contribuições nesse sentido: 36% dos estudantes bolsistas da graduação declaram-se pretos ou pardos no final de 2022. São, predominantemente, pessoas que teriam dificuldades em cursar a faculdade sem a contribuição dos doadores do programa.

Para entender os impactos da mobilidade social nas mudanças da sociedade brasileira, o Insper reuniu Ana Carolina Velasco (gerente de Relacionamento Institucional do Insper), Bruna Arruda (coordenadora da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper), Michael França (coordenador do Núcleo de Estudos Raciais do Insper) e Wagner Silva (coordenador de apoio e fomento a agentes e causas da Fundação Tide Setubal). O webinar foi realizado no dia 9 de maio e pode ser assistido na íntegra neste link.

O Programa de Bolsas existe há 19 anos e, por meio dele, 496 jovens já se formaram. Atualmente, são 316 bolsistas nos sete cursos da graduação, o que representa 10% dos matriculados. Para Ana Carolina, o programa é uma porta de entrada para a educação de qualidade e uma forma de desafiar as estruturas de desigualdades.

A distribuição das bolsas segue o critério socioeconômico. “Sabemos da correlação do critério socioeconômico com a raça. Então, queremos ampliar cada vez mais o número de bolsas e receber esses jovens talentos negros e negras”, disse Ana Carolina. “Por isso, convidamos todos a doar e a apoiar o programa, para que essas pessoas tenham bolsas, consigam estudar e fazer a transformação geracional.”

A transformação geracional citada por Ana Carolina está embasada nas pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos Raciais, apresentadas por Michael França. A mobilidade social é a mudança na situação socioeconômica de uma pessoa, podendo ser intrageracional (a medida do quanto avançamos ao longo da vida) ou intergeracional (quanto avançamos ou regredimos em determinadas dimensões em comparação aos nossos pais).

“Se, no decorrer do tempo, a cada geração, percebemos que as pessoas estão melhorando em relação aos seus pais, é sinal de que estamos criando uma sociedade melhor, endereçando melhor as políticas públicas e criando mais oportunidades para os indivíduos”, explicou França.

A mobilidade intergeracional pode ser mensurada por renda, classe social, saúde, educação e outras medidas de bem-estar. Especificamente na educação, as estatísticas do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) mostram uma das faces ruins do Brasil. Qualquer que seja o nível educacional dos pais (médio ou superior, completo ou incompleto), a chance de os filhos atingirem o ensino superior é maior para as pessoas brancas em relação às pessoas negras.

Na opinião de França, uma notícia boa é que se pode olhar a mobilidade social comparando diferentes faixas etárias. Para as pessoas negras que têm de 55 a 64 anos de idade, a chance de chegar à universidade era de 7,8%, mas, para os que têm de 25 a 34 anos, a chance cresceu para 11,4%. “Isso indica que se está avançando como sociedade e garantindo melhores condições para a população negra”, disse França. Mas outra vez: a expectativa das pessoas negras é muito inferior na comparação com os jovens brancos, que têm 29,7% de chances de entrar numa faculdade.

França citou dados de uma pesquisa da economista Bruna Cricci, da Universidade de São Paulo, que estabelece a relação entre educação e mercado de trabalho. Os alunos que frequentam as melhores escolas públicas têm taxas mais altas de mobilidade intergeracional na questão da renda: 27% mais chance de ascensão social, 50% mais chance de permanecerem no estrato mais alto da distribuição socioeconômica e 16% menos chance de queda social. Mas, na comparação com o branco, o estudante negro terá 17% menos chance de ascensão social, 13% menos chance de permanecer no estrato mais alto da distribuição e 15% mais chance de queda social.

A mobilidade social está diretamente ligada ao conjunto de oportunidades que tivemos em nossas trajetórias. “Mas muitos fatores estão fora do nosso controle: raça, gênero, orientação sexual, origem socioeconômica dos nossos pais, local de nascimento, condições iniciais de saúde e investimentos que recebemos dos nossos pais e da sociedade”, enumerou França. “Então, as próprias escolas públicas podem ser um mecanismo de perpetuação das desigualdades sociais.”

Os estudos científicos mostram que a discrepância entre os rendimentos de homens e mulheres se amplia, por exemplo, quando as mulheres têm filhos. “Também existe uma série de desigualdades raciais e discriminações que vão afetar mais os negros do que os brancos ao longo da vida”, afirmou França. Adicionam-se à loteria do nascimento as escolhas e o esforço que cada um faz ao longo da vida, cujos resultados acabam sendo legados às gerações posteriores.

 

Senso de pertencimento

A professora Bruna Arruda falou sobre a atuação da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper, que conta com 37 integrantes entre docentes, colaboradores e representantes das organizações estudantis. Mantendo um processo de escuta na escola, pode-se saber como as pessoas se sentem e criar um senso de pertencimento.

“Todos os alunos, colaboradores e docentes estão passando por um programa de formação em diversidade, porque sabemos que todos temos esses vieses inconscientes”, disse a professora. “A construção da promoção da diversidade é algo coletivo, na qual todas as áreas precisam estar envolvidas, e a comissão ajuda com esse suporte.”

Outras iniciativas contribuem para o acolhimento dos bolsistas, que chegam de diferentes cidades do país: a newsletter InsperDiversidade, o projeto do nome social, o MultiInsper, as rodas de conversas com os estudantes, o canal de ética. No final do ano passado, o Insper recebeu, pela quarta vez, o Selo de Direitos Humanos e Diversidade, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo.

Wagner Silva, o Guiné, apresentou dados que confirmam a existência da disparidade histórica. Apenas 25% dos mais altos níveis do governo federal são preenchidos por pessoas negras, embora elas representem 56% da população brasileira. “A plataforma Alas, da Fundação Tide Setubal, é justamente um chamado para a construção de uma sociedade pautada na equidade racial”, afirmou. “Buscamos dar asas por meio da plataforma aos sonhos de pessoas negras.”

Segundo Silva, a plataforma trabalha com três estratégias: despertar o interesse da juventude do ensino médio e dos recém-formados pelo exercício da liderança, articular oportunidades de formação nos setores público e privado e, por fim, articular e financiar cursos de graduação, pós-graduação e intercâmbios. Ele considera ações como a do Programa de Bolsas do Insper fundamentais para a inserção e a permanência dos alunos nas universidades. “Todos nós temos a ganhar com a construção de uma sociedade pautada pela equidade”, disse.

 

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