Além de formalizar o contrato, o evento realizado no Insper debateu as aplicações da tecnologia para o setor nas cinco áreas estratégicas atendidas pela parceria
Tiago Cordeiro
Inovar no setor de saúde é um desafio. Não é tarefa simples integrar diferentes participantes do ecossistema, buscando a melhoria nos processos e a qualidade de vida para as pessoas, sem perder o controle da rotina do atendimento. Isso porque, diferentemente de outras áreas da economia, neste caso o esforço tem função prioritariamente social, e não financeira.
Ao longo dos últimos anos, o Insper tem fortalecido sua aproximação com o setor de saúde. A busca por novas parcerias com instituições de atendimento, públicas e privadas, culminou na assinatura de um consórcio com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), o maior complexo hospitalar da América Latina, por meio de seu núcleo de inovação (Inova HC), e com o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, referência em serviços de saúde de alta complexidade.
“Vocês têm os problemas, e nossa missão é contribuir com soluções”, afirmou Marcos Lisboa, presidente do Insper, durante o evento de assinatura formal da parceria, realizado na manhã de 28 de fevereiro, na sede da instituição, em São Paulo, e que está disponível no canal do Insper no YouTube. “A regulação do setor é uma das mais difíceis do mundo. O sistema, no Brasil, ainda é mal desenhado, o que acaba gerando ineficiência. Há muito a fazer.”
Presente no evento, José Marcelo Amatuzzi de Oliveira, presidente do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destacou as perspectivas positivas da parceria. “Esse consórcio nasce com um potencial muito grande. O que espero é complementariedade. Contamos com a inteligência do Insper, com os modelos econômicos desenvolvidos e analisados na escola e com sua capacidade de implementar tecnologias capazes de nos ajudar a ganhar escala”, disse Oliveira.
“Os médicos têm as ideias e os engenheiros põem em prática. A inovação é multidisciplinar”, reforçou Giovanni Cerri, presidente do Comitê Executivo de Inovação do HCFMUSP. “Precisamos desenvolver soluções adequadas para a realidade da nossa população e que possam melhorar a qualidade de vida oferecida.”
Eloisa Bonfá, primeira diretora da Faculdade de Medicina da USP em 110 anos de história, disse que a busca por parceiros de expertises complementares leva à excelência. “O Hospital das Clínicas é um complexo com 2.400 leitos. As pessoas da linha de frente têm ideias, mas não conseguem colocá-las em prática. Este projeto só tem motivos para dar certo. A iniciativa nos ajuda a cumprir nosso papel”, afirmou Bonfá.
A proposta do consórcio é integrar experiências de um hospital público, um hospital privado e as áreas de engenharia e negócios do Insper com o objetivo de desenvolver soluções tecnológicas para problemas da saúde.
A iniciativa segue o conceito de inovação aberta em cinco áreas estratégicas:
• Economia em saúde;
• Gestão e análise de dados em saúde;
• Conectividade em 5G, aplicada a operação remota de exames e ambiente de testes;
• Bioengenharia;
• Uma ampla frente educacional e de capacitação (de gestão hospitalar e treinamento para o uso de novas ferramentas), decorrente dos conhecimentos gerados pelos projetos inovadores do consórcio.
Como explicou Marco Bego, diretor executivo de Inovação do Inova HC, durante um painel sobre inovação em saúde mediado por André Lahóz Mendonça de Barros, coordenador-executivo de Marketing e Comunicação do Insper, a parceria começa com a previsão de expansão de um modelo de operação remota de exames, como tomografia e ressonância magnética.
Trata-se de uma iniciativa já realizada atualmente pelo Inova HC e que agora vai contar com o apoio do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, para operar remotamente os aparelhos do complexo do Hospital das Clínicas da USP, e com a expertise do Insper, para elaboração de um modelo de negócios escalável, com o objetivo de facilitar o acesso à saúde qualificada no Brasil.
“Com a chegada do 5G, muitas possibilidades na saúde começavam a ser desbloqueadas”, disse Bego. “Queremos usar a rede pública e privada num piloto para utilizar equipamentos remotamente. Existem muitas cidades onde os equipamentos ficam ativos apenas parte do dia, porque na outra parte não há quem opere. O Insper pode nos ajudar a montar toda a parte tecnológica e de modelo de negócio.” Trata-se de uma iniciativa pioneira e ambiciosa, segundo Bego. “Chamamos de consórcio porque a parceria é aberta, não vai parar nessa iniciativa. Vamos desenvolver projetos que transformem a vida das pessoas.”
Durante o painel, Carolina da Costa, diretora-executiva de Educação, Pesquisa, Inovação e Saúde Digital do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, lembrou que a inovação pode levar o setor a lidar com uma série de gargalos. “Temos um desbalanço muito grande no acesso à saúde entre capital e periferias. Mais de 75% das pessoas no Brasil não acessam a rede privada. Ao mesmo tempo, no ano passado, as operadoras de saúde suplementar sofreram um prejuízo de quase 3,5 bilhões de reais.”
Diante desse cenário, é mandatório, para garantir a continuidade do sistema de saúde pública, assegurar a qualidade do atendimento ao menor custo, segundo Costa. “Os gargalos para inovar são de várias naturezas. Para lidar com eles, é fundamental atuar em colaboração, como parte de uma estratégia de perenidade e busca de qualidade”, disse Costa. “Com o consórcio, estamos unindo forças, expertise e vocações.”
Para Paulo Furquim, diretor de Ensino e Aprendizagem do Insper, a parceria traz benefícios do ponto de vista também dos professores da instituição. “Nossas diferenças e nossas expertises são complementares. Existem benefícios diretos na nossa carreira de professores. É importante produzir conhecimento relevante, transformador. O experimento é o insumo necessário para produzir conhecimento”, afirmou Furquim.
A parceria, que agora ganha escala, dá sequência a uma série de iniciativas já realizadas em parceria pelas três instituições. “Já temos um histórico recente de projetos desenvolvidos em parceria tanto com o Hospital Oswaldo Cruz quanto com o Hospital das Clínicas no âmbito dos Projetos Finais de Engenharia (PFEs)”, disse Carlos Valente, professor e coordenador do curso de Engenharia Mecânica do Insper. “Trata-se de projetos desenvolvidos por uma equipe de alunos concluintes dos cursos de Engenharia, envolvendo problemas reais de empresas parceiras e buscando a análise e a prototipação de soluções.” (Veja um vídeo com uma amostra dos Projetos Finais de Engenharia.)
De fato, em 2022, foi realizado um projeto com o Hospital Oswaldo Cruz que buscou criar um sistema de baixo custo para localização de cadeiras de rodas nas áreas hospitalares. No mesmo período, foi desenvolvido um PFE em parceria com o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas para estudar alternativas de soluções de drenagem torácica capazes de trazer maior segurança, portabilidade e monitoramento do fluido drenado, além de se tornar uma alternativa viável para utilização no Sistema Único de Saúde, do setor público. “Ambos os projetos apresentaram protótipos muito interessantes, e o consórcio representará uma via para dar continuidade ao desenvolvimento”, disse Valente.
O Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da USP (Inova HC) conecta empreendedores e recursos com o objetivo de gerar soluções de inovação em saúde mais eficientes para gestores, médicos e pacientes. Para isso, atua com três frentes: In.cube (incubadora de ideias), In.pulse (aceleradora de negócios) e In.pacte (impacta pessoas por meio do apoio à potencialização e à escalabilidade dos negócios desenvolvidos).
Já o Hospital Alemão Oswaldo Cruz é um centro hospitalar de referência em alta complexidade. Em 2022, completou 125 anos oferecendo aos pacientes acesso a altos padrões de qualidade e de segurança no atendimento, atestados pela certificação da Joint Commission International (JCI), principal agência mundial de acreditação em saúde. Com corpo clínico renomado, formado por mais de 4,7 mil médicos, e com uma das mais qualificadas assistências do país, tem capacidade instalada de 806 leitos, dos quais 583 na saúde privada e 223 no âmbito público.