O jornalismo de dados tem crescido em importância em todo o mundo, sendo usado, principalmente, para a descoberta de novas pautas e para a checagem de fontes, conteúdos e fatos, de acordo com a pesquisa The State of Data Journalism, divulgada em fevereiro de 2023.
Mas qual é a importância dessa prática nos dias de hoje? E como um profissional pode se especializar nisso? Este artigo vai detalhar melhor a realidade do jornalismo de dados, de acordo com os maiores experts no assunto.
O termo Data Journalism foi usado, pela primeira vez, em 2006, pelo programador Adrian Holovaty, no artigo “A fundamental way newspapers sites need to change”,mas remonta ao “jornalismo de precisão”, defendido por Philip Meyer, ainda na década de 1960.
Também chamado de jornalismo guiado por dados (JGD) e jornalismo em bases de dados (JBD), o jornalismo de dados utiliza informações disponíveis na rede como fonte para apuração de reportagens, além de conceitos da ciência de dados para automatizar a produção de conteúdos.
Ou seja, jornalismo de dados nada mais é que uma tentativa de racionalizar a rotina das produções jornalísticas, inserindo técnicas de análise de dados na apuração dos fatos e/ou na organização dos conteúdos.
Ele pode tanto utilizar dados como fonte para uma pauta ou como sustentação de uma reportagem, quanto utilizar ferramentas tecnológicas para coletar, minerar e combinar informações, reduzindo os riscos de erros e facilitando o trabalho dos profissionais.
“O uso dos dados também permite a formulação de reportagens mais complexas e a criação de infográficos que atraem e envolvem o leitor. Muitos jornais já se atentaram para esse fato e passaram a investir na formação de uma equipe de jornalismo de dados”, destaca a pesquisadora Mariane Pires Ventura em seu artigo “Jornalismo de Dados como diferencial: o caso do Nexo” (2018).
Num mundo em que as notícias fluem quase instantaneamente, por meio de múltiplos canais e plataformas, com incontáveis testemunhas oculares de tudo, a corrida pelo furo do jornalista profissional deixou de ter o mesmo peso que há algumas décadas.
Diante disso, a possibilidade de “juntar informações, filtrar e visualizar o que está acontecendo além do que os olhos podem ver” – ou seja, de utilizar a análise de dados para trabalhar as informações – ganhou valor e importância crescentes. Quem aponta isso é o jornalista Mirko Lorenz, no texto que escreveu para a primeira edição do “Manual de Jornalismo de Dados”, livro que é referência na área.
A própria acurácia do fazer jornalístico é impactada pelo uso mais consistente dos dados, como escreveu ele:
“Ter conhecimento sobre busca, limpeza e visualização de dados é transformador também para o exercício da reportagem. Jornalistas que dominam estas habilidades vão perceber que construir artigos a partir de fatos e ideias é um alívio. Menos adivinhação, menos busca por citações; em vez disso, um jornalista pode construir uma posição forte apoiada por dados, o que pode afetar consideravelmente o papel do jornalismo.”
O mesmo manual trouxe as respostas de diversos jornalistas e pesquisadores importantes para a seguinte pergunta deste tópico: “Por que o jornalismo de dados é importante?”. E foram apontadas questões como as seguintes:
Um bom resumo dessa importância pode ser visto na resposta do jornalista Alex Howard para a publicação (grifos nossos):
“Na era do big data, a crescente importância do jornalismo de dados reside na capacidade de seus praticantes de fornecer contexto, clareza e, talvez o mais importante, encontrar a verdade em meio à expansão de conteúdo digital no mundo. […] Na era da informação, jornalistas são mais necessários que nunca para fazer a curadoria, verificar, analisar e sintetizar a imensidão de dados. Neste contexto, o jornalismo de dados tem uma importância profunda para a sociedade.”
Trata-se de uma evolução do jornalismo, que ocorreu de forma paralela com a evolução tecnológica e de toda a sociedade.
Apesar de derivar de práticas jornalísticas já antigas, como o jornalismo de precisão, ele se fortalece a partir de novas condições, como as listadas pela pesquisadora Ana Pinto Martinho em seu artigo “Jornalismo de dados: caracterização e fluxos de trabalho” (2014):
Trata-se, enfim, de um campo do jornalismo que é “contemporâneo do big data e das tendências de abertura de dados”, e que é capaz de tornar seu potencial mais inteligível e acessível para todos.
Trata-se de uma área importante para todos os profissionais de comunicação e de áreas correlatas que buscam se especializar desenvolvendo habilidades de programação, estatística e narrativas guiadas por dados, cada vez mais demandadas pelo mercado de trabalho.
Como bem destacou o jornalista e professor Pedro Burgos, do Insper, as habilidades essenciais para os jornalistas continuam as mesmas de sempre e envolvem “a capacidade de obter/organizar informações e repassá-las para o público de forma coerente, interessante, com ética”. Mas, nos últimos anos, ocorreu uma mudança muito rápida e significativa:
“Temos mais ferramentas para atingir esse objetivo, e muitas delas passam pelo uso de novas tecnologias e áreas do conhecimento que estavam fora do radar de jornalistas tradicionais, como economia, análise e visualização de dados.”
Uma forma de se tornar um jornalista de dados é aplicando o conceito do uso das ferramentas tecnológicas no dia a dia da profissão, seja na apuração das pautas ou na estruturação das reportagens.
Profissionais que queiram desenvolver habilidades essenciais de análise de dados, e inclusive aprender conceitos básicos de programação, estatística e outros, podem também fazer algum curso de jornalismo de dados.
A Google News Initiative, por exemplo, tem um treinamento online disponível para estudantes de nível iniciante a avançado. A Open Knowledge Brasil também oferece um curso gratuito de Jornalismo de dados para coberturas locais.
Também é comum que algumas entidades, como sindicatos de jornalistas, e organizações, como a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), ofereçam esses cursos, mas geralmente pagos.
Já aqueles profissionais que querem realmente se diferenciar no mercado, tornando-se experts no uso de dados na comunicação, inclusive para se reposicionar na carreira e ocupar funções mais estratégicas ou prestar consultoria, por exemplo, o mais indicado é fazer uma pós-graduação lato sensu de qualidade.
Várias instituições de ensino superior já possuem programas de especialização na área, como o Master em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling do Insper.
Quer conhecer um pouco mais sobre o universo do jornalismo de dados? Confira os artigos que selecionamos a seguir: