Pedro Santos, já formado, e Fernando Fincatti, no último semestre do curso, estão inseridos no mercado de trabalho europeu, com possibilidade de trilhar uma carreira internacional
Bruno Toranzo
Fazer um intercâmbio na Europa é o objetivo de muitos universitários, que veem a possibilidade de estudar fora do país como uma oportunidade de conhecer novas culturas e aperfeiçoar seus conhecimentos. O aluno Fernando Fincatti e o ex-aluno Pedro Santos, além dos alunos Lorran Lopes, Adney Moura, Fabrício Lima, Jean Sanandrez, Marco Teixeira e Samuel Porto, da Engenharia do Insper, viajaram para o mesmo destino: a cidade alemã de Ingolstadt, localizada no sul do país, às margens do Rio Danúbio, com quase 137 mil habitantes. Eles estão fazendo, com exceção de Pedro, que já concluiu o curso, um programa de seis meses na escola técnica Technische Hochschule, onde lecionam professores e pesquisadores de diversas nacionalidades.
“Os laboratórios são bem completos e equipados. Por ser uma escola técnica, há um direcionamento para pesquisa muito forte, com os estudantes nos laboratórios dedicados a montar projetos complexos, como carros autônomos, e fazer simulações nos corredores da instituição de ensino”, destaca Pedro, que foi aluno da graduação de Engenharia Mecatrônica e fez o intercâmbio entre março e setembro de 2022. “O aprendizado é totalmente mão na massa, assim como no Insper, com aula toda semana no laboratório.”
Já Fernando, que é aluno do último semestre do curso de Engenharia de Computação, diz que o mais interessante é poder se relacionar com pesquisadores e professores dedicados a projetos que ainda não são vistos no Brasil. “Aprendi bastante sobre inteligência artificial a partir dessas conversas baseadas no dia a dia desses profissionais. A área de visão computacional, que é basicamente a IA aplicada a imagens e vídeos, despertou meu interesse”, afirma. Ele cita como exemplos o reconhecimento facial do celular para que sejam desbloqueadas suas funções e os drones utilizados na agricultura para verificar as condições das plantações. “Ninguém da minha família teve a possibilidade de estudar fora do país. Essa oportunidade abriu minha cabeça, pois eu estava muito restrito ao Brasil, sem noção do mundo. Meus planos atualmente são diferentes de seis meses atrás, ocasião em que enxergava como muito distante o trabalho no exterior.”
Pedro conta que cursou matérias de eletrônica e controles no intercâmbio, como modelar sistemas para que eles se comportem da forma programada. “O sistema de um carro em velocidade de cruzeiro deve se manter sempre na mesma velocidade, não importando inclinação da curva ou intensidade do vento. O mesmo processo se aplica a uma geladeira para que ela se mantenha na temperatura certa de resfriamento dos alimentos”, explica.
O estudante diz que se desenvolveu como pessoa por ter conhecido outras culturas, outros jeitos de pensar, ritmos diferentes de trabalho, estudo e convívio. “As salas de aula têm estudantes de vários países. Os alemães focam em cada detalhe, com planejamento meticuloso antes da execução. Os indianos são receptivos, colaborativos, e se assemelham um pouco mais à nossa cultura, assim como os latinos, com destaque para mexicanos, colombianos e argentinos”, observa.
Em Ingolstadt, assim como em outras cidades do sul da Alemanha, há muitas montadoras de automóveis, que contratam uma série de fornecedores de peças e prestadores de serviços. As universidades fazem parcerias com essas empresas para viabilizar uma espécie de estágio. Fernando está em uma dessas vagas, atuando para a multinacional Valeo.
“A empresa vende peças para carros elétricos, como sensores de ré do tamanho de um dedo. Também oferece um sensor que escaneia o ambiente em 3D para que o carro elétrico dirija sozinho, de forma autônoma. A Valeo usa IA para garantir a qualidade na linha de produção dos sensores, avaliando se estão em boas condições na última etapa da fabricação, o que permite sua venda para o consumidor”, diz Fernando. “Provavelmente, vou continuar aqui na Alemanha depois de formado, porque meu chefe já demonstrou interesse na minha contratação em full time.”
Pedro já está efetivado em um laboratório de pesquisa. “No fim de uma aula prática, o pesquisador responsável perguntou se eu não poderia ser assistente de pesquisa dele. Aceitei e fiquei três meses como estagiário. Não pude ficar mais porque precisava cumprir algumas exigências do curso no Brasil para completar a graduação”, diz. “Depois disso, voltei para a Alemanha para trabalhar com a mesma pessoa — agora sim como efetivado. Meu plano é fazer mestrado em pesquisa aplicada em engenharia depois de terminar o curso de alemão.”
O caráter internacional de sua atuação contribuiu para que o Insper se tornasse recentemente a primeira instituição do país a ter seus três cursos de engenharia (computação, eletrônica e mecatrônica) acreditados pela ABET, organização não governamental sem fins lucrativos com certificação ISO 9001:2015. Essa acreditação atesta os programas universitários de ensino em ciências aplicadas e naturais, computação, engenharia e tecnologia de engenharia que atendem aos padrões exigidos para formar profissionais preparados para ingressar em áreas técnicas inovadoras e inseridas em tecnologias emergentes. A ABET acredita atualmente mais de 4,5 mil programas em 895 faculdades e universidades em 40 países.