Participantes do bate-papo no Insper no Dia do Orgulho discutiram dificuldades relacionadas à aceitação pela família e à inclusão no mercado de trabalho
Bárbara Nór
Para marcar o Dia do Orgulho LGBTQIAP+ e promover a conscientização sobre o tema, o Insper realizou, no dia 28 de junho, uma roda de conversa com a participação especial de Diego Oliveira, secretário-executivo da Parada LGBT de São Paulo. Participaram também membros do coletivo Inspride, da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper e do Comitê Alumni de Diversidade, Equidade e Inclusão.
A ideia do evento, conforme explicou Gabriel Borges, empreendedor e alumnus do MBA Executivo do Insper, além de coordenador do Comitê Alumni de Diversidade, Equidade e Inclusão, era não só debater a questão das pessoas LGBTQIAP+, mas também compartilhar histórias e vivências, trazendo à tona temas como sociedade e mercado de trabalho.
“Fiquei muito feliz por esse encontro e por poder compartilhar um pouco mais de toda a experiência tanto dentro quanto fora do Insper”, disse Borges na abertura do evento. “Também agradeço muito a todos por terem aceitado nosso convite para estarem aqui.”
A abertura contou também com a exibição de um vídeo com a participação especial de membros da comunidade do Insper, que falaram sobre o que significa o Mês do Orgulho e a importância dessa data para lembrar da resistência e da luta do movimento LGBTQIAP+.
Um dos temas discutidos pelos convidados foi a questão da família e como seu molde tradicional trouxe dificuldades para que eles pudessem se assumir.
“Acho que, desde cedo, está posto para a gente o que deve ser a família”, disse Fabio Tomio Sato, colaborador da área de Relacionamento Institucional do Insper e líder do Pilar LGBTQIAP+ da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão. Ele comentou a dificuldade de ele se assumir por causa da ideia de que, para poder constituir uma família, seria preciso estar um relacionamento heterossexual.
Hoje, disse Sato, sua visão sobre o assunto se ampliou. “A família vai muito além do sangue e mesmo de relacionamentos homossexuais, mas inclui também amizades. São as escolhas das pessoas no dia a dia.”
Kleber Abreu, gerente de riscos de crédito Nubank e Líder do Pilar LGBTQIAP+ na empresa, compartilhou as mesmas dificuldades. “Isso de a família ser algo de sangue era algo que, de fato, me incomodava”, disse Abreu. Para ele, outro fator que dificultou sua experiência em se assumir como homossexual foi a própria aceitação. “Eu diria que parte da dificuldade era muito associada ao fato de como eu mesmo me via e me julgava, mais do que a minha família.”
Para Isabelle Murollo, estudante do curso de Engenharia Mecatrônica no Insper e representante do Inspride, uma organização estudantil e também o coletivo LGBTQIAP+ do Insper, os últimos anos têm representado um avanço nas discussões sobre família. Ela chamou a atenção para o questionamento da própria ideia de monogamia, algo que seria uma tendência.
“Acho que a nossa geração tem um pouco mais de abertura, e uma coisa que vem crescendo muito são os relacionamentos não monogâmicos”, disse Murollo. “E temos visto mesmo os relacionamentos para pessoas assexuais, em que não necessariamente você tem relação sexual ou amorosa, mas é uma relação séria, e as pessoas constroem famílias em volta disso.”
Diego Oliveira, secretário-executivo da Parada LGBT de São Paulo, lembrou que muitas dessas dinâmicas de família já existiam, mas acabavam sendo invisibilizadas. “As formas diferentes de famílias antes não eram respeitadas ou reconhecidas, como apenas mãe com filho ou homem cuidado das filhas, ou o poliamor e diferentes formas de se relacionar”, disse. Ele comentou também sobre o medo dos próprios familiares quando as pessoas resolvem se assumir. “Minha mãe não queria que eu me assumisse por medo de que eu sofresse violência na rua”, contou Oliveira.
Outro assunto trazido à tona durante o bate-papo foi o papel das empresas no tema de diversidade e inclusão. Para Raul Valle, consultor em clima e cultura organizacional, é importante que as organizações busquem identificar as necessidades das pessoas discriminadas para identificar quais ações devem colocar em prática.
Além disso, elas devem garantir treinamentos da liderança para conscientizar a respeito dessas questões. “Quando você consegue ter esse mindset aberto e inclusivo, as ações acabam acontecendo de forma mais automática”, disse Valle. “Os próprios funcionários começam a pedir mais ações quando a empresa tem uma mentalidade mais moderna.”
Mesmo ações que parecem simples podem surtir muitos efeitos, de acordo com Cesar Andrade, responsável pela área de serviço a clientes na indústria petroquímica Braskem e líder do pilar LGBTQIAP+ na empresa. “Por exemplo, ter o plano de saúde extensível para quem tem união estável ou é casado com alguém do mesmo sexo é uma ação muito boa”, disse. Outra atitude importante, para ele, é promover palestras e ações ao longo do ano para falar sobre o tema.
No entanto, muitas dessas iniciativas ainda esbarram em dificuldades e preconceitos, como observou Diego Oliveira. “Hoje mesmo deveria ocorrer uma palestra sobre diversidade em uma escola, mas, faltando 50 minutos, o evento foi cancelado”, relatou. “A situação ainda continua difícil.”
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