Dos 180 colaboradores da Z1, uma startup com conta digital para adolescentes e que tem o ex-aluno Thiago Achatz como cofundador, 15% são trans e 60% são negros
Tiago Cordeiro
Especializada em serviços financeiros para adolescentes, a fintech Z1 surgiu no final de 2019 e disponibilizou o produto ao mercado em janeiro de 2021. Um ano depois, alcançou a marca de 100 funcionários. Agora, já são 180. As contratações são necessárias para dar conta do ritmo de expansão do empreendimento, que cresce 30% ao mês. Do total de colaboradores, 15% são pessoas trans, 60% mulheres e 60% pessoas pretas ou pardas.
“Desde a fundação da empresa, estamos decididos a nos estabelecer como referência no mercado no que diz respeito à adoção de práticas de diversidade”, afirma Thiago Achatz, um dos quatro fundadores e ex-aluno do Insper. Para facilitar esse processo, o acesso à vaga prioriza a possibilidade de trabalhar de forma remota.
A diversidade é um dos pilares mais importantes da empresa, ao lado do foco em educação financeira: os clientes são jovens, principalmente de idades entre 13 e 17 anos, que contam com conta bancária em seu próprio nome e cartão de crédito pré-pago. A proposta vem se mostrando bem-sucedida.
A expansão da Z1 é sustentada por diferentes rodadas de captação. Em março de 2020, a startup recebeu um aporte pre-seed de 4 milhões de reais, liderada pelo fundo Maya Capital e por alguns investidores-anjos, como os fundadores do aplicativo de transportes 99. Entre janeiro e março de 2021, foi acelerada pelo YCombinator.
Já em maio de 2021, a startup captou um seed de 14 milhões de reais, liderado pelo Homebrew, um fundo americano que foi um dos primeiros investidores do banco digital americano Chime. A operação contou com a participação de Cocktower Ventures, Mantis, Rebel, Goodwater e Gaingels (fundo de venture capital focado em empreendedores LGBTQ+). Por fim, em novembro de 2021, levantou uma captação serie A de 55 milhões de reais, liderada pela Kaszek, fundo que já investiu em unicórnios como Nubank, Kavak, Creditas e QuintoAndar.
A Z1 foi fundada por Mateus Craveiro, Thiago Achatz, Sophie Secaf e João Pedro Thompson. A combinação entre os sócios é a ideal, diz Achatz, que hoje tem 28 anos. “Sócios precisam ter talentos complementares e conseguir dialogar entre si”, diz ele, que já teve uma experiência negativa nesse sentido. Foi na França, em 2015, enquanto fazia intercâmbio na mesma época em que cursava a graduação em Economia no Insper.
“Conheci dois empreendedores franceses e juntos realizamos um crowdfunding para financiar uma startup que iria desenvolver uma camiseta que ajuda a corrigir a postura”, relembra. Sensores posicionados na peça fariam uma leve pressão toda vez que seu usuário ficasse torto ou curvado. A ideia era arrecadar 30 mil dólares em um mês.
“Levantamos o valor em menos de 24 horas e alcançamos 400 mil dólares em um mês”, relata. Apesar do sucesso da iniciativa, os desentendimentos de Achatz com os sócios, e a necessidade de retornar ao país para concluir a graduação, o levaram a deixar o empreendimento, que rapidamente já havia conquistado clientes em diferentes continentes. “Viajei para a França com apoio do Insper, contei com o suporte para estender minha permanência e, ao retornar, continuei contando com mentoria dos professores”, conta.
Na volta, Achatz entrou para a Liga de Empreendedores do Insper, que colocava alunos interessados em empreender em contato com líderes de diferentes setores da economia. Também passaram pela liga Rodrigo Tognini, CEO da fintech Conta Simples, Alexandre Maluli, da startup de gestão de RH Zazos, e Fábio Blanco e Bruna Vaz, do site de compras Shopper.
“Eu sempre fui apaixonado por empreendedorismo e tecnologia. Escolhi o Insper por isso, e contei com um nível de suporte tão importante que é difícil colocar em palavras”, afirma Achatz. O processo de formação e amadurecimento levou o futuro cofundador da Z1 a tomar uma decisão: trabalhar como colaborador, a fim de ganhar experiência, antes de embarcar em um novo empreendimento próprio.
Ele então passou quase dois anos na startup de entrega sob demanda Rappi, que havia acabado de se instalar no Brasil. “Fui o funcionário número 14 da Rappi”, afirma, com orgulho. “Fomos do zero para uma iniciativa sólida”. Na sequência, entrou para o time inicial da Yellow, uma startup de micromobilidade. “Na Yellow, entrei para desenvolver o Yellow Pay, com foco na bancarização dos usuários do app de mobilidade. Acompanhei o crescimento da empresa e participei do processo de fusão com a Grin, em 2019”. Foi então que chegou à conclusão de que estava pronto para abrir uma nova startup.
“Meu pitch de elevador era: ‘Meu nome é Thiago, quero empreender, estou procurando sócios’”. Na época, fortaleceu os laços com João Pedro Thompson, um conhecido, irmão de uma amiga próxima, e que já havia cofundado a Vereda Educação. Desse encontro teve início a Z1 — que não é, diz ele, uma startup criada com o objetivo de ser vendida no futuro. “Estamos construindo um empreendimento com propósito, para ganhar escala ainda maior e gerar impacto perene”, afirma.