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É hora de conhecer as preferências do desenvolvedor de softwares

O conceito de Developer Experience expande as métricas de experiência de usuário para as necessidades dos profissionais da computação, diz o professor Luciano Silva

O conceito de Developer Experience expande as métricas de experiência de usuário para as necessidades dos profissionais da computação, diz o professor Luciano Silva

 

Leandro Steiw

 

Em uma visão bem restrita, usuários de aplicativos e desenvolvedores de tecnologia da informação vivem em pontas isoladas da computação. Talvez faça sentido para os primeiros. No entanto, desenvolvedores e programadores também são usuários de softwares — não necessariamente do produto que eles criam, mas de produtos que utilizam para desenvolver outros programas de computador. A necessidade de medir a qualidade da experiência desse profissional de TI está difundindo um conceito relativamente novo no mercado: Developer Experience (DX).

Segundo Luciano Silva, professor dos cursos de Engenharia de Computação e Ciência da Computação do Insper, a DX foi inspirada no termo User Experience (UX), amplamente propagado na indústria de software e em setores com atividades dependentes da tecnologia (e-commerce, bancos, mídia, prestação de serviços etc). “A UX tenta entender qual é o relacionamento entre o usuário e produto”, diz Silva. “Isso envolve, por exemplo, questões de facilidade de uso e acesso, manual do produto e suporte para manutenção. Quem projeta se preocupa com a experiência do usuário, imagina como será a relação do consumidor com o produto.”

Um software com boa UX é reconhecido por uma série de qualidades: interface, usabilidade, acessibilidade, facilidade de manutenção. Quando monta um site ou aplicativo de varejo, por exemplo, o profissional de TI não parte do zero. Ele seleciona softwares conceituados que organizam cadastros, executam pagamentos por cartão e abrem chatbots de atendimento, entre outras funções, e empacota tudo numa interface funcional para o consumidor.

Se o desenvolvedor também é um usuário de programas, deveria existir uma metodologia de avaliação das características das ferramentas que eles utilizam no trabalho. Essa métrica é a DX. “Uma das características bem interessantes da DX é avaliar se o ambiente que o desenvolvedor está usando é estável, no sentido de não ficar travando. Também se ele consegue aplicar esse software em vários contextos, se é possível migrar de uma plataforma para outra, se a documentação é bem feita ou não”, comenta Silva.

Essas métricas de DX estão começando a ser vinculadas à divulgação dos softwares para desenvolvedores e programadores. “Isso levando a uma área muito interessante da computação que é a engenharia de software experimental. Porque é comum adotar experimentos estatísticos para fazer essas medidas de experiência”, diz Silva. Questionários com desenvolvedores ou com pessoal de manutenção de softwares geram uma série de dados da qual se obtêm as métricas.

Nos rankings de linguagens de programação, essas métricas tornaram-se atraentes, porque até então se costumava optar, basicamente, pela que tivesse a maior quantidade de usuários. Bastava consultar o repositório de programas GitHub — popular entre os adeptos do código aberto — e contar o número de projetos em Python, em Java, em C++. “O pessoal percebeu que apenas a popularidade não é uma boa medida para escolher uma linguagem ou não. Justamente por isso, estão começando a elaborar essas métricas de DX”, observa.

 

DX alta

O professor narra uma transformação recente do universo da programação: “Durante muito tempo, vários profissionais desenvolveram software em Java. Dizia-se que Java era a linguagem do mundo, que iria resolver todos os problemas. Mas o Java tinha uma curva lenta de aprendizado da linguagem. Então, surgiu no mercado o Python. Hoje em dia, todo mundo fala de Python. Por que tomou esse vulto tão grande? Porque é um caso típico de DX. De uma DX boa. O Python tem uma curva de aprendizado muito mais rápida do que Java ou C++ porque a sintaxe da linguagem é simples”.

Em resumo, pode-se inferir que, em termos de linguagem de desenvolvimento, o Python tem uma DX alta, porque apresenta uma série de características relevantes: base funcional, estabilidade, facilidade de uso, clareza. O que não significa que seja a melhor de todas. “O Python tem o mesmo poder de expressão de outras linguagens, mas ainda sofre na questão da eficiência. Por ser uma linguagem interpretada, o Python precisa de uma camada intermediária que chamamos de interpretador para traduzir aquilo que o programa está fazendo naquilo que o processador entende. O mesmo acontece com o Java. Mas o C++ é uma linguagem compilada, que consegue gerar código que o processador entende diretamente, sem precisar desse intermediário”, compara Silva.

As métricas de DX estão começando a ser transportadas do ambiente acadêmico para o mercado. “Quem define esses parâmetros ainda está muito vinculado a congressos na área de softwares, de desenvolvimento. Estão se criando modelos para DX e, a partir dos modelos, começa-se a proposta de métrica. Acredito que deva demorar um pouco para chegar completamente ao mercado, embora as empresas já tenham acendido a luz amarela para a importância de medir a experiência do desenvolvedor”, analisa.

A temática da experiência do usuário faz parte das disciplinas da área de engenharia de software do Insper, como a disciplina Codesign de Aplicativos, da Engenharia de Computação. “Com a DX entrando no mercado, essas questões voltadas para desenvolvimento também integrarão as disciplinas do Insper, justamente por querermos preparar os alunos para essa demanda”, afirma Silva. “O aluno terá a experiência de saber que, como desenvolvedor, utilizará um produto que tenha uma qualidade tão boa quanto o produto que vai desenvolver.”

 

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