Realizar busca

Ex-aluno do Insper cria startup de design participativo para governos

O paulistano Tomaz Vicente Santos é cofundador da Catálise, que desenvolveu o chatbot Pesquizap para melhorar a capacidade de avaliar políticas públicas

O paulistano Tomaz Vicente Santos é cofundador da Catálise, que desenvolveu o chatbot Pesquizap para melhorar a capacidade de avaliar políticas públicas

 

Tiago Cordeiro

 

Tomaz Vicente Santos
Tomaz Vicente Santos: cofundador do negócio de impacto social

 

A implementação de políticas públicas no Brasil esbarra em uma dificuldade: a baixa capacidade de fazer um monitoramento contínuo, capaz de agregar insights valiosos do público atendido por um determinado programa. Afinal, quando as pessoas destinatárias da ação são ouvidas, é possível melhorar a qualidade do atendimento, fazendo ajustes muitas vezes simples, mas que fazem a diferença no resultado final. Mas esse é um trabalho que demanda tempo, dinheiro e pessoal dedicado a entrevistar e tabular dados.

Foi para atender a essa demanda do setor, e de organizações que trabalham no desenvolvimento e na implementação de políticas públicas, que surgiu a startup Catálise. A grande aposta é o Pesquizap, um chatbot de WhatsApp que permite, de forma intuitiva, ouvir uma grande quantidade de pessoas atendidas por um determinado programa.

“Modulamos o questionário junto à organização e utilizamos o WhatsApp, um aplicativo acessível que está instalado em 99% dos smartphones brasileiros”, diz o economista Tomaz Vicente Santos, de 29 anos, cofundador da Catálise, ao lado de Bruno Rizardi. O sistema permite escalabilidade e apuração de resultados em tempo real, sem demandar o tempo e o esforço de profissionais.

Para estimular os participantes a acessar um QR Code e responder à pesquisa, a startup vai oferecer recompensas na forma de crédito de celular. Assim, ampliaria o volume de participantes, inclusive entre os mais vulneráveis, o que fortaleceria a abrangência dos resultados. “Muitas vezes, a avalição de políticas públicas acontece a cada dois anos. Com o Pesquizap, é possível medir resultados e promover ajustes com uma agilidade muito maior”, diz Santos.

A Catálise já realizou mais de 350 entrevistas em profundidade, recolheu mais de 26 mil opiniões e reuniu mais de 1.100 participantes de oficinas. Entre os clientes que já utilizaram o serviço estão a Fundação Lemann, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as prefeituras de Fortaleza e do Rio de Janeiro e o governo do estado de São Paulo. O Pesquizap foi selecionado pela iniciativa BNDES Garagem, que escolheu 20 projetos para financiar, entre mais de 800 iniciativas de impacto que se candidataram.

Para chegar ao formato da startup, o paulistano Tomaz Vicente Santos vivenciou uma trajetória marcada pelo dinamismo, que incluiu temporadas de moradia em Rondônia e em Brasília. Ter cursado o Programa Avançado em Gestão Pública do Insper também foi decisivo para fundamentar as escolhas que ele realizou ao longo da carreira.

 

Ferramenta para gestores

Santos cursou a graduação em Economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e começou a trajetória profissional realizando o sonho de atuar com consultoria de finanças para grandes instituições financeiras. “Cheguei aonde eu queria, desde o início da faculdade. E então me vi frustrado. Descobri que o que eu queria mesmo era trabalhar com impacto, contribuir para reduzir desigualdades”, ele relembra.

Começou então a trabalhar com educação. Atuando pela organização da sociedade civil Vetor Brasil, transferiu-se para Rondônia, onde passou um ano e meio, entre 2017 e 2018, ouvindo as demandas dos estudantes de escolas públicas de 11 municípios. “Só se cria política pública efetiva quando se ouve o cidadão”, afirma.

O trabalho seguinte levou o economista a um ambiente completamente distinto: o gabinete do Ministério da Educação, no último ano do governo do presidente Michel Temer. “Minha tarefa era criar evidências científicas que suportassem políticas educacionais, uma área em que se mede muito pouco. Entrei com a missão de criar a inteligência, saber o que dá certo e o que não dá.”

O trabalho deu origem a uma ferramenta capaz de auxiliar os gestores na compreensão mais clara dos resultados de programas educacionais. Nessa época, o economista estudava no Insper, o que contribuiu para o sucesso de seu trabalho no ministério. “A vivência dentro do Insper me ajudou a entender a importância da inovação no setor público, levando um olhar propositivo, que considera a participação dos atendidos e também de quem aplica os programas.”

Técnicas de monitoramento e avaliação debatidas ao longo do curso, diz ele, deixaram um legado definitivo em sua atuação profissional. “Carrego comigo conceitos que aprendi no Insper e que estão por trás da solução que, posteriormente, a nossa startup passaria a propor”, afirma.

 

Aprendizado aplicado

A mudança de governo provocou a descontinuidade do programa de Santos, que então se transferiu para o Ministério do Trabalho. “Fui convidado a avaliar uma plataforma de empregos, voltada para pessoas que fazem parte do programa Bolsa Família”, ele relembra. “Levamos as equipes para a rua, fomos conversar com as pessoas. E descobrimos que ninguém buscava pela plataforma. E, mesmo quem tentava utilizá-la, não conseguia”. Ou seja: uma política que fazia sentido para um público carente simplesmente não era acessível.

Quando a política foi mais uma vez descontinuada, Santos e seu time fizeram uma terceira tentativa, agora no Ministério da Economia. Desenvolveram uma versão mais amigável do site oficial do governo federal, que se mostrou muito mais fácil de utilizar, simplesmente porque foi desenhada com base na escuta atenta do público-alvo. Quando o programa foi descontinuado mais uma vez, a equipe se reuniu com o objetivo de fundar a Catálise. “Esse é um problema crônico no poder público: a falta de continuidade. Muito tempo e dinheiro são desperdiçados”, afirma.

O grupo então aplicou todo o aprendizado acumulado em Brasília para formar a startup. “Se você ouve as pessoas, seja o público-alvo, seja o implementador dos programas, você constrói junto com elas. Os resultados são melhores”, sintetiza Santos. Mas como ouvir as pessoas da maneira mais eficaz? Rapidamente, ficou claro para os empreendedores que o WhatsApp era uma ferramenta poderosa. Mas era preciso estabelecer uma metodologia.

“Começamos a explorar entrevistas qualitativas, técnicas de negociação, design thinking, pensamento sistêmico, metodologias ágeis, gestão de conflitos. Fizemos um sopão de estratégias até chegar ao nosso próprio processo”, diz o cofundador da startup. “Com base nessa estrutura, fazemos os ajustes para o caso de cada cliente. Afinal, em políticas públicas, não existe receita de bolo.”

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade