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Maternidade é um desafio para a igualdade no acesso ao mercado de trabalho

Em evento no Insper, a economista Cecilia Machado falou sobre as dificuldades para avançar em políticas públicas e ações corporativas para as mulheres

Em evento no Insper, a economista Cecilia Machado falou sobre as dificuldades para avançar em políticas públicas e ações corporativas para as mulheres

 

Tiago Cordeiro

 

Independentemente do grau de desenvolvimento econômico e social do país e da maturidade de seu mercado de trabalho, um dado não muda: a partir do momento em que uma mulher tem filhos, sua carreira se descola da dos homens. O acesso a vagas de trabalho cai, assim como a renda — 39 em cada 100 não estarão empregadas depois de 48 meses do nascimento de um filho.

Existem políticas públicas que contribuem para reduzir a dificuldade, como as licenças maternidade e parentais e o acesso a creches, mas elas são suficientes. Para alcançar um maior equilíbrio de gênero no mercado de trabalho, é preciso avançar com ações capazes de lidar com este desafio. Mas não há respostas simples: aumentar o tempo de licença para as mães, por exemplo, não tem se mostrado comprovadamente eficaz em todos os casos.

Essa foi, em linhas gerais, a argumentação compartilhada pela economista Cecilia Machado, uma das principais pesquisadoras brasileiras na área de diversidade de gênero no mercado de trabalho, além de economista-chefe do banco BOCOM BBM, colunista da Folha de S. Paulo e professora da Fundação Getulio Vargas. Ela participou de um evento no Insper, no dia 30 de novembro.

Ao lado do presidente da instituição, Marcos Lisboa, ela abordou as dificuldades encontradas pelas mulheres no mercado, a desigualdade social e os desafios para a formulação de políticas públicas voltadas para assistência social. O vídeo do evento “Diversidade de Gênero e Mercado de Trabalho” está disponível na íntegra no site do Insper.

 

Evento Diversidade de Gênero e Mercado de Trabalho

Análises criteriosas

Cecilia Machado tem doutorado na Universidade Colúmbia, de Nova York, foi visiting scholar na Universidade Stanford e visiting assistant professor na Universidade de Chicago. “Ela tem uma carreira muito sólida, tanto nos temas de que trata quanto no cuidado analítico”, comentou, na abertura, Marcos Lisboa.

Ele lembrou que, até duas décadas atrás, a produção acadêmica brasileira em economia era dominada por discussões de temas menos relevantes, como câmbio e juros. “Temos outros temas, como desigualdade no mercado de trabalho e discriminação, tudo com validação de resultados. Felizmente, os tempos mudaram. Que bom que as pessoas estão mais preocupadas com temas relevantes e trabalham apoiadas em técnicas de análises com base em microdados, testando hipóteses”, afirmou.

Foi com base em dados que Cecilia Machado concluiu que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho representa um desafio complexo, para o qual não há soluções prontas. “Se as pessoas em geral acham que as mulheres vão interromper muito a carreira ao longo da vida, elas internalizam essa afirmação e investem menos em formação.” Cria-se, por exemplo, uma situação em que a desigualdade no ambiente doméstico, com as mulheres comprometidas com um volume muito maior de tarefas do que os homens, retroalimenta as desigualdades no ambiente profissional.

 

Novas oportunidades

Nas últimas décadas, segundo Cecilia, ocorreram progressos enormes. “Temos a redução de fecundidade, a escolha ótima do momento para ter filhos, vimos mulheres escolhendo ocupações parecidas com as antigamente consideradas tipicamente masculinas e aumentando o grau de escolaridade a tal ponto que o nível de instrução de homens e mulheres se aproximou.”

Mas ainda permanecem desbalanceamentos, que passam, principalmente, pelo momento de ter filhos. “Até mesmo quando é a mulher quem ganha mais no casal, se um dos dois precisar ficar em casa, vai ser a mulher”, observou a economista.

Para lidar com este desafio, é preciso implementar políticas públicas validadas por dados, argumentou. “O Brasil precisa avançar em normas sociais e de identidade de gênero, alinhando as políticas públicas às evidências, reformas no mercado de trabalho e práticas corporativas, mas também representação política e direitos reprodutivos.”

Por fim, Cecilia Machado também identificou um avanço nas políticas das empresas, especialmente depois das mudanças de rotina profissional efetivadas nos últimos dois anos. “A pandemia trouxe outros arranjos no mercado de trabalho, incluindo flexibilidade nos horários e atividades remotas. Essa é uma oportunidade enorme, caso o trabalho híbrido permaneça. A permanência das mulheres é boa para todos, tanto para as empresas que investiram nas profissionais, quanto para a economia.”

 

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