O que você quer ser quando crescer? Com seis anos de idade, Enrico Gazola respondia: “dono de banco”. Na época, seu pai, que trabalhava na construtora da família, atuava com home broker nas horas vagas, e o filho espelhou a Bolsa de Valores em uma planilha no Excel para praticar compra e venda de ações. Um pouco mais tarde, com nove anos, planejava dar aulas particulares. Aos dez anos, criou um brechó no lobby do prédio onde morava, em Santos.
De todas essas experiências, a ideia de dar aulas foi uma das que se mostrou mais produtiva. Aluno de Economia do Insper desde o segundo semestre de 2019, ele identificou a possibilidade de criar um cursinho nas férias. “Eu me saí muito bem na segunda fase do vestibular do Insper, que envolvia oratória. Um amigo me pediu dicas, gostou, indicou outro. Então fui a um grupo de estudantes no Facebook e postei uma mensagem anunciando aulas para segundas fases de vestibulares”, ela relembra.
Começou com 10 alunos. No semestre seguinte chegou a 60. Rapidamente começou a ver alunos sendo aprovados nos processos seletivos. “Foi quando percebi que eu estava exausto, dando 16 horas de aulas por dia. Pensei: ‘Por que não reunir meus melhores alunos e eles darem aulas também?’”.
Surgiu assim a ASF, que chegou a ter 40 pessoas na operação, com faturamento anual acima de R$ 1 milhão. Em cinco anos, acumulou mais de mil aprovações em instituições como Insper, FGV e Ibmec, desde 2023 com o apoio do ALAN, uma inteligência artificial (IA) capaz de simular dinâmicas de grupo, entrevistas e arguições orais.
A ASF foi vendida recentemente para o Grupo CPV Educacional, uma empresa que surgiu como cursinho preparatório, em 1959, e atualmente é um colégio e um sistema de ensino presente em mais de 200 escolas. Mais recentemente, vem focando em soluções personalizadas, que se utilizam de IA. Com a aquisição da ASF, reforça a capacidade de entregar formação em soft skills, como comunicação, argumentação e raciocínio crítico.
“A venda da ASF representou uma grande conquista e o reconhecimento do mercado para o diferencial da nossa proposta para o ensino”, diz Gazola, que, aos 25 anos, passa a concentrar todos os esforços na outra empresa da qual é cofundador, a Nero.AI.
Gazola nasceu em um ambiente empreendedor. “Minha família batalhou muito, veio de baixo, minha família atuava construindo imóveis em Santos. Desde muito novo, eu queria empreender”, diz o empreendedor. Ele se lembra de, ainda na infância, pensar em um presente para o Dia dos Pais. “Desenhei meu pai ganhando um aumento do chefe. Ele respondeu: ‘Filho, eu não tenho chefe, nem aumento. Sou empreendedor, minha renda depende do meu trabalho’. Aquela resposta me impressionou muito”.
Antes prestar o vestibular do Insper, Gazola seguiu a orientação do pai e seguiu para fazer intercâmbio nos Estados Unidos. “Fui fazer faculdade em Miami, com 18 anos. Adorei a cidade, mas as coisas não aconteceram como eu imaginei. Me senti um outsider, isolado do meu ambiente”, relata ele. Chegou a produzir vídeos para o YouTube sobre a vida nos Estados Unidos. Alcançou 15 mil seguidores, mas entendeu que não fazia parte daquele ambiente.
“Não me senti satisfeito. Conversei com meu pai sobre voltar para São Paulo, porque eu tinha ouvido falar de uma faculdade voltada para o mercado, que poderia me apoiar nos meus interesses. E eu queria, de alguma forma, devolver todo o investimento que ele fez na minha formação”, conta.
Depois de voltar ao Brasil, Gazola se mudou para São Paulo e iniciou sua formação no Insper, que se mostraria decisiva para sua trajetória como empreendedor. “Conheci a Liga de Empreendedores, vi muitos colegas criarem marketplaces de venda de roupa ou de ingresso para shows. Nas aulas mais técnicas, eu era mediano, mas percebi meu diferencial quando se tratava de oratória. O ambiente empreendedor do Insper me incentivou a valorizar meu potencial e investir naquilo em que eu me diferenciava”, relata o jovem empresário de 25 anos.
A iniciativa em educação para pré-vestibulandos, especialmente os que têm maior dificuldade em acessar formação qualificada, levou o empreendedor longe. Mas sua aposta mais recente, a Nero.AI, também se mostra promissora. Já tem entre os clientes o próprio Insper, a Fundação Lehmann e o BTG, entre outras empresas. As operações continuam baseadas no Hub de Inovação e Empreendedorismo do Insper.
“O Hub proporciona conexões muito ricas. É um ambiente favorável à formação de parcerias produtivas para os negócios, nossos e de nossos clientes”, diz Gazola. A Nero.AI é conduzida por Gazola em parceria com João Gabriel Valentim Rocha, com quem ele fundou a empresa no segundo semestre de 2023. “Eu e o Valentim temos talentos complementares. Nosso alinhamento é automático”, afirma.
O aluno, aliás, se tornou presença constante nas newsletters do Insper ao longo de sua jornada de formação. Em, 2022, ele foi notícia, ao lado de Guilherme Sanchez Okida, por desenvolver em apenas 15 dias um projeto premiado pelo Babson College, sediado em Wellesley, Massachusetts. Em 2024, a empresa chegou à fase final da competição atual da competição realizada pela Brazil Conference, evento anual organizado pela comunidade brasileira em Harvard e no MIT. O projeto reconhecido foi o chatbot Edu, que oferece professores particulares online gratuitos sob demanda, utilizando inteligência artificial para encontrar as melhores informações para tirar as dúvidas dos alunos.
Impulsionado pela venda de sua primeira empresa, Enrico Gazola segue disposto a garantir o sucesso de sua segunda empresa. E, quem sabe, em algum momento do futuro, se tornar dono de banco, como projetava aos seis anos de idade.