As pesquisas sobre mobilidade urbana no Brasil podem ser amplamente beneficiadas pelos dados gerados diariamente pelo iFood, empresa brasileira de delivery que processa 100 milhões de pedidos por mês para 350 mil estabelecimentos parceiros em cerca de 1.500 cidades no país.
Foi com o objetivo de compartilhar essas informações que, em setembro de 2024, a empresa lançou seu Portal de Dados. Logo na sequência, em novembro, anunciou também que passaria a fornecer dados desagregados, exclusivamente para pesquisadores, com o suporte de uma instituição qualificada: o Insper passou a fornecer acesso a essas informações nas salas seguras de seu Centro de Dados e IA.
Firmado junto ao Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper, esse acordo apoia a produção de estudos e pesquisas fundamentadas em evidências, capazes de colaborar para políticas públicas em diferentes frentes, incluindo a mobilidade. Os dados agora disponibilizados de forma segura oferecem oportunidades únicas para análises sobre o impacto de políticas corporativas e programas educacionais, bem como sobre o perfil de engajamento dos entregadores.
Os detalhes a respeito da parceria entre Insper e iFood foram compartilhados durante o evento “Parcerias que Transformam: Dados e Pesquisa para Cidades em Movimento”, realizado no último dia 27 de maio.
O evento contou com as presenças de Sérgio Avelleda, coordenador do Núcleo Mobilidade Urbano, que abriga o Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper Cidades; Cristine Pinto, diretora de pesquisa; Adriano Borges, coordenador acadêmico do Centro de Estudos de Cidades – Laboratório Arq.Futuro; Suelane Garcia Fontes, coordenadora técnica do Centro de Dados e IA; Luciana Arjona, coordenadora executiva do Centro de Dados e IA; e Helena Coelho, coordenadora-adjunta do Núcleo Mobilidade Urbana e do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper Cidades.
O iFood esteve representado por Débora Gershon, diretora de Políticas Públicas e Economia; Johnny Borges, diretor de Impacto Social; Marina Merlo, gerente de Políticas Públicas; e Marcela Costa, consultora de desenvolvimento de negócios da Motiva, , empresa brasileira de infraestrutura de mobilidade anteriormente conhecida como CCR, parceira do Núcleo Mobilidade Urbana no Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável. “A sala segura do Insper amplia e desburocratiza o acesso da comunidade acadêmica a dados administrativos do iFood, reforçando a política de transparência e de fomento do debate da empresa”, afirma Gershon.
“Assim, estamos colaborando com a produção de conhecimento sobre o trabalho intermediado por plataformas digitais, incentivando a produção de pesquisas acadêmicas fundamentadas em evidências e que resultam no aumento da nossa compreensão sobre essa nova dinâmica de trabalho. Isso possibilita a formulação de políticas públicas mais robustas e eficazes”, completou ela.
Suelane Garcia Fontes ressalta que o rigor no tratamento das informações é característico do Centro de Dados e IA do Insper. “As atividades do Centro já foram validadas pela Universidade de Aberdeen, da Escócia, onde fica o Grampian Safe Haven (DaSH), um dos cinco ambientes confiáveis de pesquisa daquele país. Também abrigamos, no Centro, dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), entre outras instituições públicas e privadas”, diz Suelane.
“Ao compartilhar os dados conosco, o iFood atesta o rigor dos nossos protocolos”, prossegue ela. “A empresa também participa do comitê que avalia cada projeto submetido ao Insper. Assim, está segura de que vai contribuir para a sociedade, com dados qualificados e estudos relevantes, preservando o sigilo e a proteção necessários e alinhados com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)”.
Conforme sublinha Adriano Borges, o Insper é uma instituição de pesquisa muito orientada à análise de dados e à produção de evidências científicas que ajudam a melhorar as políticas públicas, as empresas e o desenvolvimento do Brasil: “Os dados são um insumo fundamental para a nossa pesquisa, e as empresas de tecnologia, como o iFood, podem ser importantes parceiros nesse sentido. Hoje utilizamos os dados de rotas dos entregadores em uma pesquisa sobre segurança viária em São Paulo. Nossa análise é totalmente independente e baseada em métodos científicos. Sem essa parceria e o acesso aos dados do iFood, teríamos menos insumos para produzir uma pesquisa mais robusta e relevante para a sociedade.”
O acordo entre o Insper e o iFood foi articulado a partir de julho de 2024, quando os alunos do curso de férias Mobilidade Urbana e Desenvolvimento Sustentável, conduzido por Borges, visitaram a sede da empresa para conversar sobre segurança viária e suas políticas nessa área. A partir dessa colaboração, surgiu a proposta de o iFood compartilhar seus dados a respeito, por exemplo, de ganhos por hora trabalhada dos entregadores, horas de trabalho dedicadas à plataforma e velocidade em rota na cidade de São Paulo, além dos impactos das iniciativas de educação do iFood voltadas para esses profissionais.
“Agora a comunidade acadêmica conta com dados sobre as rotas dos entregadores, as vias que os motociclistas utilizam, a velocidade, a quantidade de entregas, assim como dados sobre renda e carga horária. O iFood participa da governança dessas informações, sabe quem pediu, o que pediu e como usou”, diz Borges.
Para Helena Coelho, os dados disponibilizados pelo iFood se somam a um conjunto robusto de informações que apoiam pesquisas em mobilidade urbana, mais especificamente nos temas de transporte, segurança viária e logística. São pautas que vêm ao encontro dos objetivos do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Centro de Estudos de Cidades – Laboratório Arq.Futuro: reunir de forma aberta dados de mobilidade de municípios brasileiros, democratizando o acesso a eles e provocando um debate sobre a padronização e uniformização dessas informações.
Atualmente, o Observatório conta com dados de mais de 20 cidades, do Ministério das Cidades e de parceiros privados, incluindo a Motiva..
Sobre a parceria com o iFood, Helena pontua: “A plataforma gera informações que o poder público não mapeia. Para nossas análises dos efeitos da faixa azul para motocicletas em São Paulo, por exemplo, agora contamos com informações mais detalhadas sobre a velocidade das motocicletas e das bicicletas, ou em que circunstância acontecem os sinistros. A parceria potencializa o acesso e facilita e consolidação das cidades inteligentes, com base em políticas públicas apoiadas em pesquisas baseadas em dados”.