Encomendado pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, o trabalho é resultado do Projeto Final de Engenharia de quatro alunos da instituição brasileira e de dois colegas da faculdade americana
Tiago Cordeiro
Gerenciar as cadeiras de rodas de um hospital demanda uma inteligência logística não muito diferente da que se aplica ao trânsito nas grandes cidades. São muitas alas diferentes, cada qual com sua demanda própria e horários de pico específicos. Normalmente, mesmo os pacientes que preservaram a capacidade de locomoção são orientados a utilizá-las durante os deslocamentos entre quartos, salas de exames e centros cirúrgicos.
Em geral, os vários setores têm dificuldade de contornar essa situação. Precisam se comunicar por ramais telefônicos internos, em busca da localização das cadeiras que estão livres. Foi por isso que o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, solicitou ao Insper uma sugestão para o problema. O desafio foi lançado a quatro alunos de graduação que chegaram ao momento do curso em que precisavam apresentar o Projeto Final de Engenharia (PFE).
A orientação do projeto ficou a cargo de Alex Bottene, professor nas áreas de design para manufatura, processos de fabricação, processos avançados de manufatura e gestão integrada da manufatura, todas dos cursos de graduação de Engenharia Mecânica e Mecatrônica do Insper. O projeto teve um diferencial: dois alunos de graduação de Engenharia Elétrica da Universidade Texas A&M, em estágio semelhante de formação, participaram da iniciativa.
O PFE é a versão do Insper para o trabalho de conclusão de curso. É desenvolvido no oitavo semestre, em equipe de três ou quatro estudantes, sempre para atender a demandas reais de empresas e instituições. Cada grupo conta com a mentoria de um professor. “Não tem custos para a empresa, que passa a ter direito à propriedade intelectual da solução”, explica Bottene. São quatro meses de trabalho, com dedicação mínima de 300 horas.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz nunca havia encomendado uma iniciativa semelhante ao Insper. “Atuamos em contato com o departamento de engenharia clínica, que nos apresentou o problema e algumas demandas: a solução não podia ser cara de implementar, deveria ser bem documentada e se tornar referência para implementação em outros hospitais”, descreve o professor.
Formado por Beatriz de Carvalho Pacheco, Lucio Hallage Figueiredo, Nicole Sarvasi Alves e Pedro Henrique Menezes, da parte do Insper, e Ryan Nickel e Nifemi Esan, alunos da Universidade Texas A&M, o grupo chegou a um sistema de monitoramento, atrelado a um sistema de gestão de dados funcionando em nuvem.
Será utilizado para teste, por enquanto, com três cadeiras — o hospital, ao todo, tem 80 em inventário. A solução utiliza as antenas de wifi do hospital para fazer a geolocalização e lançar as informações para um sistema em cloud, que pode ser acessado pelo computador interno do hospital. “A comunicação se deu em inglês e foi muito produtiva”, relata Bottene. “Foi o primeiro PFE desenvolvido em parceria com uma universidade estrangeira, com resultados muito positivos.”
No próximo semestre, o trabalho terá continuidade. Outro grupo de alunos brasileiros vai conduzir a iniciativa, em parceria com os mesmos dois estudantes do Texas, que estão no mesmo estágio da formação, mas precisam cumprir um ano do equivalente ao PFE do Insper.
Segundo Luciano Soares, coordenador do PFE, a parceria com a Universidade Texas A&M para um PFE é resultado de um esforço do Insper em participar de conferências no exterior, em busca da aproximação com possíveis parceiros em universidades de ponta no mundo. Durante um evento sobre projetos de conclusão de curso, em 2019, Soares iniciou contato com Stavros Kalafatis, professor de Engenharia de Computação da instituição americana.
“Mostrei os projetos de PFE que estávamos iniciando, e ele ficou interessado pela iniciativa para o Hospital Oswaldo Cruz. Ele então indicou dois alunos e assumiu o papel de mentor.” A iniciativa é inédita, diz Soares, por envolver estudantes do exterior. “Estamos ousando porque queremos nos manter como referência nacional e internacional em alto padrão para os projetos de conclusão de curso da área.”
A experiência foi muito bem sucedida, afirma Stavros Kalafatis. “Nossos estudantes se engajaram, estudaram o layout do hospital, fizeram uma imersão no problema. Era um desafio que eu nunca havia considerado, mas que fazia todo sentido.” A comunicação fluiu bem entre os alunos brasileiros e americanos, ele avalia. E a proximidade com o Brasil, em temos de fuso horário, garantiu um fluxo dinâmico.
“Trabalhamos em parceria com instituições de ensino e pesquisa da Austrália, da Bélgica e da Alemanha. O nível de desempenho dos alunos brasileiros é semelhante, e as pequenas diferenças em relação aos horários garantiram uma conexão muito eficiente”, avalia Kalafatis, que considera a possibilidade de a universidade texana desenvolver outros projetos em parceria com o Insper. “É possível, sem dúvida.”