Está pensando em mudar de área? Quer se realocar no mercado? Então, tire suas dúvidas sobre transição de carreira neste artigo
Considerado o maior jogador de basquete da história, em 1994 Michael Jordan tinha abocanhado três títulos da NBA, principal liga de basquete dos Estados Unidos, quando decidiu assinar um contrato com o Chicago White Sox, clube da primeira divisão do beisebol norte-americano. Acabou obtendo a média de somente 20% de aproveitamento como batedor.
Em contrapartida, Emerson Fittipaldi entrou para a história do automobilismo como o primeiro brasileiro a se tornar campeão mundial da F-1 (em 1972 e 1974). Quando se aposentou na F-1, lançou-se em uma nova empreitada: correr a Fórmula Indy.
Logo sagrou-se como o primeiro campeão brasileiro na Indy e, com o feito, ganhou notoriedade como o único brasileiro a ganhar as duas principais competições de automobilismo do mundo.
Os dois casos são representativos do que pode ocorrer em uma transição de carreira. As escolhas de Jordan não foram tão bem-sucedidas quanto as de Fittipaldi, mas em pouco tempo ele retomou o basquete e voltou a ser astro novamente, ganhando mais três títulos consecutivos pelo Chicago Bulls.
Há demais profissionais que também desejam migrar para outras áreas de atuação pelos mais variados motivos. E, ao contrário do pensamento padrão, nem sempre a questão financeira está envolvida nesta decisão.
“Conheço um médico que chegou à conclusão que não queria ser médico ou fazer plantões. Ele tinha um salário muito bom como residente, mas o sonho dele era administrar um negócio próprio, era empreender”, conta Tatiana Angelotto, especialista do Núcleo de Carreiras do Insper.
Mas, afinal, qual é hoje o perfil de quem faz uma transição de carreira? A resposta é: os mais variados perfis!
Há os alunos que cursam sua primeira graduação ou pós-graduação e percebem que não se identificam com o programa escolhido. Tem ainda os mais avançados que se dão conta de que precisam de mais tempo com a família ou se sentem descontentes no emprego atual.
A transição de carreira não é um processo fácil, mas é possível de ser realizada com um bom planejamento e avaliação de habilidades pessoais que podem ajudar a desenvolver uma carreira em uma nova área.
Segundo Tatiana, um dos principais questionamentos é se a pessoa quer voltar a estudar ou não para iniciar o processo de transição.
Para quem se identificou com a primeira possibilidade, a graduação com dupla titulação e a pós-graduação para profissionais com alguma experiência são opções. Na segunda, há meios de identificar as “ferramentas que já se têm nas mãos” para tornar a transição viável, ou seja, suas qualidades e conhecimentos que foram sendo desenvolvidos nos últimos anos.
O descontentamento profissional pode estar ligado a vários fatores. Muitas vezes não é o trabalho que desmotiva no dia a dia, mas os superiores, remuneração não condizente, pequena possibilidade de ascensão, perfil da empresa, longas jornadas e impactos na qualidade de vida devido a poucas horas pessoais ou familiares. Percebeu que a lista é longa?
Por isso, vale a pena fazer uma análise objetiva do momento em que você está vivendo e certificar-se se trocar de emprego resolveria o problema ou se é a área de atuação que não traz mais satisfação.
“O importante é não deixar de acreditar. A transição de carreira foi positiva para mim porque encontrei meu lugar”, conta Mariana Lotito. Depois de concluir a graduação em Design de Moda e trabalhar com modelagem, ela percebeu que não gostava do que fazia e não era a carreira que queria continuar trilhando. Ao mesmo tempo, fazer uma segunda graduação não era opção pelos quatro anos de dedicação, no mínimo.
A solução para Mariana foi buscar ainda mais conhecimentos. “Entrei em uma pós-graduação lato sensu em Administração no Insper, de dois anos, que foi um divisor de águas para mim.” Ela conta que, durante muito tempo, procurou trabalho fora da área de moda. “Mas muitas corporações não aceitam que o candidato tenha outra formação ou não possua experiência anterior.”
A posição como key account manager, que Mariana conseguiu perto de concluir a pós-graduação, veio de uma empresa de fidelização no varejo — na época, a vaga foi divulgada internamente pelo Insper aos alunos. “Tentei por muito tempo fazer a transição de carreira, mas quando chega o momento, você tem que estar preparada – e eu estava! Hoje, aplico diariamente no meu trabalho tudo que aprendi e estudei na pós.”
Segundo Tatiana, em torno de 80% das empresas tradicionais consideram a experiência profissional anterior como requisito para um candidato a novas vagas de trabalho, mas este cenário está mudando com as empresas jovens que estão revolucionando o mercado.
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Para ela, quem pensa em fazer uma transição de carreira deve investir principalmente em networking para superar essa barreira. “O ideal é que a pessoa entre em contato com conhecidos ou com profissionais que tenham estudado na mesma faculdade, que tenham alguma coisa em comum ou que já atuem na área para a qual você quer migrar. E, a partir daí, iniciar uma conversa e pedir aconselhamento para ver se é viável a mudança”, afirma Tatiana.
E apesar do mercado estar mais aberto para quem possui um certificado ou uma titulação, também é muito importante que o interessado em mudar de carreira adquira outras habilidades. “Vale ir em busca de vocabulário específico da nova área, por exemplo, para ficar por dentro de todos os termos utilizados no dia a dia”, diz Tatiana.
Então, leia as dicas a seguir:
Costuma-se usar “transição de carreira” como o movimento que os profissionais fazem ao migrar de uma área de conhecimento para outra diferente da adquirida na graduação, como de direito para economia. Porém, o termo também é usado para se referir à troca de um conhecimento especializado por outro, como é o caso da administração, que pode ser direcionado, por exemplo, tanto ao marketing quanto à gestão pública.
Uma diferenciação é saber se o descontentamento é momentâneo e circunstancial, ou seja, se tem a ver com o emprego atual (o que poderia ser solucionado com uma mudança de empresa) ou se a insatisfação com a área em que atua é geral.
Há também outras justificativas, como o profissional desejar melhores salários e oportunidades de ascensão, propósito pessoal e maior empregabilidade.
É bom ter um planejamento de até onde se quer chegar para avaliar a evolução que levará à sonhada transição de carreira. Dois pontos são extremamente importantes: os objetivos que se quer atingir profissionalmente e como se manter financeiramente antes, durante e após a transição de carreira.
A elaboração de um plano não será fácil, uma vez que o profissional precisará selecionar as áreas de conhecimento com as quais se identifica e aquelas que têm potencial de atender o que deseja para a carreira. Porém, quando tiver o básico em mãos, ele se sentirá mais seguro para avançar. Um terceiro ponto é se informar o quanto puder em relação às atividades, aos salários, ao mercado de trabalho da nova carreira.
Investir em uma nova formação é um dos caminhos mais indicados, que pode ser uma nova graduação, um curso de especialização lato sensu, um mestrado profissional, um MBA, entre tantas opções disponíveis para as possibilidades pessoais de cada um.
Conversar com profissionais que fizeram a transição de carreira, que atuam na área para a qual se quer migrar ou com profissionais mais experientes ajuda bastante para esclarecer como seria o trabalho no dia a dia e as capacidades e habilidades mais procuradas pelos empregadores. As instituições de ensino também costumam ter grupos de ex-estudantes e departamentos de aconselhamento de carreira que podem esclarecer diversas dúvidas.
Ativar o networking e avisar que está em um processo de transição para a carreira “X” também pode abrir novas oportunidades de emprego, assim como identificar seus pontos fortes profissionais desenvolvidos até o momento e que possam colaborar no futuro em uma área de trabalho totalmente nova. Afinal, no mundo de hoje, as empresas também procuram habilidades intercambiáveis entre seus diversos departamentos.