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Pandemia ressalta papel do agronegócio na segurança alimentar

Brasil pode assumir protagonismo na oferta de produtos e garantia de padrões sanitários
19/08/2020 20:25

Vaqueiro conduz gado em fazenda no Mato Grosso
 

A Covid-19 pôs em foco o modo como se produz e se consome alimento no mundo. Com a propagação de uma doença que possivelmente derive de práticas inseguras de abate e preparo de animais, países se veem diante da tarefa de aperfeiçoar padrões sanitários. Ao mesmo tempo, em resposta à onda infecciosa, lançam mão de medidas que oferecem risco à operação de cadeias globais e às famílias mais vulneráveis.

Os estudos Cadeias produtivas e segurança alimentar e Saúde única, zoonoses e segurança do alimento, publicados pelo Centro de Agronegócio Global, do Insper, avaliaram esses feixes de desafios trazidos pela pandemia.

Em relação à produção e oferta de alimentos, segundo os pesquisadores, os problemas em geral estão mais associados às atividades que dependem do uso intensivo de mão de obra, afetadas pelas restrições ao deslocamento das pessoas e mais concentradas nos países em desenvolvimento.

Também chamam a atenção ações restritivas e protecionistas adotadas por alguns governos em resposta aos efeitos do novo coronavírus. Políticas com esse viés podem prejudicar o funcionamento de mercados internacionais agropecuários, tornando as cadeias globais menos eficientes, a exemplo do ocorrido em 2007 e 2011.

Outro foco de preocupação são os países dependentes da importação de alimentos, frequentes no Oriente Médio e da África. Além de rupturas de cadeias de suprimentos no início da crise, o que foi amenizado nos últimos meses, a escalada protecionista pode agravar e alastrar gargalos.

Essas nações seriam mais castigadas em um quadro de menor disponibilidade e encarecimento de alimentos. A última ameaça se mostra, ao menos por enquanto, distante. Ao longo do primeiro semestre passado, o comportamento de preços mundiais não apresentou variação significativa.

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O nível de preços interessa sobretudo às populações mais pobres. Os impactos nos rendimentos de pessoas afetadas pela retração da atividade econômica, em especial onde os governos não têm capacidade fiscal ou organizacional para estender colchões de socorro financeiro e humanitário, arriscam elevar o volume de indivíduos sujeitos a passar fome no mundo, hoje estimado em 800 milhões.

Segundo o Programa Alimentar Mundial, das Nações Unidas, os efeitos da pandemia podem fazer dobrar, para 265 milhões, a quantidade de pessoas com carência aguda de comida até o fim deste ano. Sob maior risco encontram-se regiões como a África subsaariana, em que a maioria dos habitantes não dispõe de renda suficiente para adquirir uma cesta saudável de alimentos.

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Padrões sanitários

O fato de o novo coronavírus ter sua origem provável em morcegos, alvos de caça para consumo na China e em outras nações, despertou preocupações sobre como prevenir a emergência de outros patógenos potencialmente danosos para o ser humano.

Com a Covid-19, já somam três os episódios desse tipo num curto período –antes, houve a Sars em 2003 e a Mers em 2012. A reincidência e a permanência das condições favoráveis a que vírus de animais silvestres se tornem capazes de infectar humanos chamam a atenção para a necessidade de identificar de antemão o risco da eclosão de novas zoonoses e de atuar de modo tempestivo sobre as causas.

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O aumento populacional, sua maior densidade e o avanço cada vez maior de atividades como a agropecuária em direção a recursos naturais promovem maior interação entre o ser humano e animais domesticados, de um lado, e de espécies e patógenos antes mais distanciados, do outro, elevando a probabilidade de irrupções infecciosas.

Como repercussão dessas transformações demográficas, regiões altamente povoadas como a Ásia e a África passam a ser locais propícios para o surgimento dessas doenças.

Só na China, a indústria de animais silvestres para alimentos, vestuário e medicina produz o equivalente a US$ 74 bilhões por ano e emprega cerca de 14 milhões de trabalhadores. Em algumas regiões do globo, a carne de caça é praticamente a única fonte de proteínas.

As condições sanitárias em que se dá essa atividade são frequentemente precárias, com falta de acesso à refrigeração e a técnicas de higiene. Mesmo o fornecimento de carne de espécies domesticadas ocorre, por vezes, por meio de cadeias altamente informais –apenas metade da produção chinesa de suínos, por exemplo, é feita em escala industrial.

O porém é que esses animais, que convivem há séculos com os humanos, são hospedeiros potenciais de novos patógenos oriundos do ambiente selvagem. Portanto, sua manipulação para consumo também deveria ser submetida a padrões sanitários aplicados de forma sistemática.

Em meio aos desafios, o Brasil, com o maior superávit do agronegócio mundial, pode atuar na crise como garantidor do abastecimento alimentar global, argumentam os pesquisadores do Insper. Eles acrescentam que o país pode se credenciar na prevenção de zoonoses pela adoção de cautelas sanitárias e pelo uso sustentável da terra nos seus setores modernos de produção.


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