Liderada pela plataforma Pesquizap, consulta pública a respeito do Novo Ensino Médio coletou a avaliação de mais de 130 mil pessoas em apenas três semanas
Tiago Cordeiro
Durante parte do mês de julho, 100 mil estudantes de Ensino Médio de todo o Brasil — além de 30 mil professores, 5.500 gestores e mil jovens que abandonaram a escola — participaram de uma consulta pública realizada por meio do WhatsApp. Os participantes precisaram de cinco minutos, em média, para responder a um questionário com 20 a 25 perguntas, dependendo da categoria de entrevistado, agregando informações importantes para o Ministério da Educação (MEC) avaliar o Novo Ensino Médio.
Ao todo, portanto, foram ouvidas mais de 130 mil pessoas. Depois de concordarem em participar utilizando seus smartphones, 80% das pessoas concluíram o questionário, que pôde ser acessado por um QR code e estava estruturado de forma gamificada. A condução do trabalho foi realizada pela startup Catálise, surgida há três anos e responsável pelo desenvolvimento do chatbot Pesquizap, contratado pelo MEC.
“Responder a consultas públicas como essa é uma forma contemporânea de expressar a cidadania e praticar democracia”, diz o cofundador da iniciativa, Tomaz Vicente Santos, ex-aluno do Programa Avançado em Gestão Pública do Insper. “Para avaliar os resultados de uma política pública, ninguém melhor do que os atendidos por ela. Destrinchamos as mudanças trazidas pelo Novo Ensino Médio e distribuímos cada uma delas em perguntas de respostas simples, ‘sim’, ‘não’ ou, em alguns casos, ‘talvez’”.
A ferramenta alcançou 1% do total de estudantes, 4% dos professores e 18% dos gestores de Ensino Médio no Brasil. “É uma amostragem significativa, e de alcance nacional. Foi a maior consulta pública da história do MEC”, afirma Santos.
Instituído a partir de 2017, o Novo Ensino Médio busca melhorar a adesão dos estudantes dessa fase da educação básica, assim como proporcionar melhores resultados em termos de aprendizagem. Entre as mudanças estão os itinerários formativos, que podem incluir uma ou mais trilhas de aprendizagem, e aprofundamentos relativos às áreas de conhecimento (linguagens, matemática, ciências humanas e sociais e ciências da natureza) ou à formação técnica e profissional.
Além disso, os professores são convocados a contribuir para a construção de um projeto de vida dos alunos. A quantidade de aulas expositivas diminui, enquanto passam a ser realizados mais projetos, oficinas, cursos e atividades práticas.
Em abril deste ano, o MEC suspendeu o cronograma de implementação do programa. E decidiu realizar uma consulta pública para embasar uma proposta de ajuste. A consulta, que também contou com um questionário disponível no site do ministério, chegou a conclusões significativas. “Conseguimos captar de forma refinada as preferências dos estudantes, professores e gestores, bem como diferenciar os pontos da implementação que estão funcionando e os que precisam de ajustes”, diz o ex-aluno do Insper.
Além disso, foi possível fazer recortes de acordo com o perfil social e a localização geográfica dos respondentes — isso porque, ao participar, as pessoas forneciam informações sobre o local onde estudam ou trabalham. “Conseguimos distinguir as opiniões de diferentes perfis de escolas sobre o Novo Ensino Médio, diferenciando como escolas vulneráveis, rurais, com menos alunos ou menor infraestrutura tendem a olhar para o programa”, afirma o cofundador da Catálise.
Ao divulgar os resultados da consulta, o MEC aproveitou para anunciar uma série de sugestões de medidas para ajudar as práticas no Ensino Médio. As recomendações deverão ser transformadas em uma proposta de projeto de lei e enviadas para o Congresso Nacional. Preveem a recomposição da carga horária da formação geral básica para 2.400 horas, a redução do número de itinerários formativos, de cinco para três, e a inclusão de novas disciplinas na formação geral básica.
Para Santos, o trabalho confirma a relevância do Pesquizap. “Em apenas dois anos, já recebemos mais de 11 milhões de respostas a consultas, com mais de 100 mil usuários únicos. O sucesso da consulta realizada para o MEC confirma mais uma vez a validade do chatbot como uma ferramenta capaz de gerar dados e insights relevantes a partir do feedback da população.”