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Grupo de estudantes em uma escola

Popularidade e notas de aluno negro caminham juntas

Desempenho acadêmico não inibe amizades, conclui estudo em cinco escolas de São Paulo
16/08/2023 15:03

 

Quanto maiores as notas de alunos não brancos, mais densa é a sua rede de amizades, fenômeno associado sobretudo a seus laços com colegas brancos. O estudante negro com bom desempenho acadêmico, de acordo com uma pesquisa em cinco escolas públicas paulistas, não paga um preço sob a forma de redução de sua popularidade.

Os resultados da avaliação, conduzida pelos pesquisadores do Insper Alysson Portella, Charles Kirschbaum e Naercio Menezes Filho, dialogam com uma hipótese surgida em trabalhos sobre os Estados Unidos, de que minorias historicamente discriminadas tendem a isolar seus integrantes com boas notas, punição que, por outro lado, não seria compensada por uma maior aceitação da parte dos grupos majoritários.

Batizada de “agir como branco” (“acting white”, em inglês), a conjectura — objeto de controvérsia nos Estados Unidos — estipula que a correlação negativa de notas com popularidade entre estudantes negros decorre de um ambiente em que prevalece forte identidade racial coletiva, escolarização de qualidade inferior e acervo de incentivos desiguais para os negros e, entre eles, uma cultura de aversão ao ensino desenvolvida para lidar com a estrutura hostil.

 

Gráfico_Racial Social Norms

 

Com níveis menores de segregação e maiores de miscigenação comparados aos dos Estados Unidos, identificação racial mais fluida, mais ligada à aparência que à descendência e mais dependente do contexto social, o Brasil deveria, segundo a expectativa inicial de Alysson, Charles e Naercio, apresentar graus mais atenuados do “agir como branco”.

A análise para verificar a relação entre notas e amizades concentrou-se sobre questionários aplicados em 2015 a 3.431 alunos dos estágios Fundamental II (11 a 14 anos) e Médio (15 a 17 anos) de cinco escolas públicas no estado de São Paulo, em que os entrevistados responderam sobre características familiares e individuais, opinaram acerca do racismo e outras discriminações e identificaram seus amigos de classe.

Cruzando as respostas sobre amizades, o estudo compôs uma escala de popularidade entre os alunos e a comparou com o desempenho no boletim escolar. Os resultados foram agregados conforme a autoidentificação racial para detectar, particularmente, como se comportava a relação entre notas e aceitação social no grupo dos não brancos a soma de quem se declarou “negro” e “moreno” no questionário.

A análise econométrica — que também procurou descontar os efeitos específicos de variáveis como nível socioeconômico, gênero, idade e religião — mostrou que a popularidade dos não brancos no grupo geral (todas as raças consideradas) e no grupo dos brancos cresce conforme aumentam suas notas. Não foi encontrada tendência de variação significativa da popularidade dos não brancos no seu próprio grupo.

Nesse estudo sobre cinco escolas paulistas, cujos resultados não podem ser estendidos para abarcar toda a realidade brasileira, o desempenho acadêmico dos negros caminha no mesmo sentido de sua aceitação social, em especial em razão da amizade com alunos brancos. Apesar disso, o padrão tipicamente brasileiro de negros terem desempenho escolar pior que brancos se repetiu, indicando que a discriminação ocorre por outros caminhos.


Leia o estudo: Racial Social Norms among Brazilian Students:Academic Performance, Popularity and Racial Identification

 


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