Realizar busca


Juízos morais

Juízos morais influenciam interpretação não literal da lei

Efeito aumenta em decisões tomadas com pouco tempo para refletir, segundo pesquisa
02/08/2023 13:20

 

Avaliações morais sobre o propósito das leis e o desfecho dos casos, bem como sobre o caráter dos agentes e o seu grau de conhecimento prévio acerca da proibição, ajudam a explicar interpretações que se distanciam da literal no momento de decidir se houve violação da regra. Esse efeito se acentua quanto menos tempo a pessoa tem para declarar o seu juízo.

Os pesquisadores Guilherme de Almeida (Insper), Brian Flanagan (Universidade Maynooth), Noel Struchiner (PUC-RJ) e Ivar Hannikainen (Universidade de Granada) chegaram a essas conclusões ao conduzirem seis experimentos diferentes, que contaram com grupos de respondentes entre jovens universitários irlandeses e colaboradores anglófonos de um grande site especializado em investigação acadêmica.

Os participantes foram apresentados a casos hipotéticos de conflito e instados a decidir se a regra em questão havia ou não sido violada. Num dos casos, há uma regra que proíbe pessoas sem treinamento de entrarem na sala de controle de uma usina nuclear.

Elaborando sobre o contexto que envolve essa regra, os pesquisadores apresentaram aos participantes uma versão em que o seu propósito é moralmente bom: prevenir acidentes causados por imperícia. Um físico nuclear que entra na sala, mas já se esqueceu de todo o treinamento que obteve no passado, violou a regra? Os respondentes tendem a dizer que sim.

Em outra versão, o propósito da regra torna-se condenável: com ela o governo tenta manter sob segredo testes de exposição de humanos à radiação. Uma física nuclear habilitada por treinamento a operar a usina entra na sala, mas é uma ativista social crítica do governo e está lá para investigar e possivelmente denunciar os experimentos desumanos. Ela violou a regra?

Nesta última versão, os participantes do estudo se mostraram pouco propensos a declarar que houve desrespeito à proibição.

Os dois físicos detêm o requisito formal — treinamento — para entrar na sala de operações, ambos ameaçam o propósito da regra — a prevenção de acidentes no primeiro caso e, no segundo, a manutenção do segredo —, mas o juízo sobre a segunda conduta é condescendente.

O resultado levou os pesquisadores a concluírem que uma consideração de natureza moral — o propósito maldoso que orientou a confecção da regra na segunda versão — causou a diferença. O achado avança, ao circunscrever melhor a motivação moral, sobre outros estudos do gênero.

Em outra bateria de perguntas, os autores manipularam o caráter dos agentes, estimulando repulsa ou empatia nos respondentes. Numa terceira sequência, induziram os participantes a separar julgamento moral de julgamento legal, para checar se com isso se conseguiria evitar que o primeiro juízo interferisse no segundo.

Também avaliaram, em outro conjunto de questões, se o fato de o agente hipotético estar previamente consciente de que a sua atitude constituía violação poderia interferir na avaliação dos respondentes sobre a regra ter sido ou não desrespeitada.

As apurações estatísticas seguiram mostrando correlação positiva entre os juízos morais, de um lado, e interpretações das leis que contrariam o seu sentido literal, do outro. Um agente mau caráter sofre mais condenações que um outro descrito em boas tintas. O fato de o agente não saber de antemão o propósito de uma lei alivia, para os participantes do estudo, a sua culpa.

Dois experimentos específicos foram desenhados para saber se esse comportamento se modifica quando varia o tempo dado para o julgador responder sobre se houve violação. Por meio deles os pesquisadores concluíram que respostas instantâneas, sob a pressão do relógio, carregam mais o peso das avaliações morais e prejudicam as avaliações literais.

Dar mais tempo para a pessoa refletir antes de responder favorece as interpretações mais fidedignas ao texto da lei.


Leia o estudo: Moral Appraisals Guide Intuitive Rule Determinations


Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade