O vereador Wandi Rodrigues pretende instalar biodigestores para o tratamento do lixo orgânico em Piedade, no interior paulista
Leandro Steiw
Ex-aluno do Programa Avançado em Gestão Pública (PAGP) do Insper, o vereador Wandi Augusto Rodrigues obteve uma emenda parlamentar de 300.000 reais para iniciar a implementação do plano de seu trabalho de conclusão de curso. O TCC O uso de biodigestores para a gestão de resíduos sólidos, orientado pela professora Laura Machado e apresentado em 2022, propõe a instalação de sistemas que usam bactérias geradoras de gás metano a partir de restos de produtos orgânicos. Advogado e atual presidente da Câmara de Vereadores em Piedade, no interior de São Paulo, Rodrigues diz que a prefeitura local demonstrou interesse em levar o projeto adiante.
O município de 54.000 habitantes produz, em média, 30 toneladas diárias de lixo, removidas de caminhão para o aterro sanitário de Iperó, cidade localizada a 80 quilômetros. A gestão dos resíduos sólidos custa cerca de 10.000 reais por dia, segundo Rodrigues. O TCC — uma nota técnica produzida a partir de diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos — faz o diagnóstico e a definição do problema público de Piedade e propõe uma solução e a gestão orçamentária do projeto.
Uma das motivações do trabalho é que a destinação atual do lixo, embora atenda às necessidades urgentes da cidade, não promove ao máximo a reciclagem e o reaproveitamento dos resíduos. Dados da prefeitura indicam que apenas 1% dos resíduos sólidos é destinado para a cooperativa de reciclagem, proveniente de coleta seletiva. Todo o resto é misturado ao lixo orgânico e vai para o aterro. Piedade tem 30 catadores independentes que poderiam contribuir para a reciclagem se o lixo fosse separado corretamente.
Na proposta de Rodrigues, a instalação de biodigestores nas 43 escolas municipais de Piedade permitiria a transformação dos restos da merenda escolar em gás de cozinha e fertilizante natural. O sistema pesquisado faz a gestão de 10 quilos diários de resíduos orgânicos da cozinha e produz até três botijões de gás por mês — um único biodigestor geraria de cinco a sete horas de gás por dia, consumível pela própria escola. O custo de instalação do sistema nas 43 escolas é estimado em 860.000 reais.
A adoção dos biodigestores é um dos projetos possíveis dentro de um programa mais amplo para a gestão dos resíduos sólidos que a prefeitura poderia adotar. Segundo Rodrigues, outra iniciativa, por exemplo, seria definir uma logística para o uso futuro do biofertilizante. “Cerca de 60% da produção da economia de Piedade vem da agricultura”, diz. “Definida uma forma de coleta, esse fertilizante seria distribuído para os produtores rurais e ajudaria a fomentar a agricultura da cidade.”
Rodrigues também aposta no apelo de sustentabilidade. “A distribuição do biofertilizante ajudaria a vender a ideia de que o nosso alimento é mais saudável e que o nosso solo e a nossa água têm melhor qualidade”, afirma. Além disso, haveria a redução da emissão de metano — um dos principais gases causadores do efeito estufa e intimamente vinculado às mudanças climáticas e ao aquecimento global.
O TCC de Rodrigues propõe um modelo de implementação dos biodigestores, detalhando as etapas de definição de custeio, processo licitatório, instalação do sistema, tempo de colonização das bactérias e período de treinamento das equipes. Também são apontados os entraves e os desafios que devem surgir pelo caminho. “Apesar de ter pensado na realidade do município de Piedade, procurei apresentar uma nota técnica que pudesse ser entendida por representantes do poder público de qualquer lugar do Brasil”, diz Rodrigues.
Se a implantação se consumar, o passo seguinte será a análise de resultados para a avaliação do sucesso ou não do projeto, extraídos de indicadores como economia de gás de cozinha, redução de resíduos sólidos destinados para o aterro e quantidade de biofertilizante distribuída. Esses dados possibilitarão a eventual correção de rumos. “É uma política promissora que pode contribuir para a solução do lixo em Piedade e em outros municípios”, afirma.
Rodrigues conheceu o Insper por meio da participação nos cursos para vereadores e prefeitos da escola de educação política RenovaBR, realizado online em 2020 e presencialmente em 2021. Um mês depois da conclusão da segunda turma, ele decidiu se matricular na pós-graduação em Gestão Pública. “Não conheço outra faculdade com a estrutura, o conceito e a dinâmica do Insper”, diz.