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Como os padrões privados podem fortalecer o agronegócio sustentável

Um mecanismo para diferenciar produtos e construir reputação — e que tem papel importante a desempenhar na promoção e inserção do agro brasileiro no mundo

Um mecanismo para diferenciar produtos e construir reputação — e que tem papel importante a desempenhar na promoção e inserção do agro brasileiro no mundo

 

 

Fernanda Kesrouani Lemos, pesquisadora do Insper Agro Global e do Metricis

Camila Dias de Sá, pesquisadora sênior do Insper Agro Global

 

No início dos anos 1990, os padrões privados na produção de alimentos surgiram em meio a preocupações globais com segurança alimentar, impulsionadas por casos de contaminação de alimentos e crises sanitárias, como o Mal da Vaca Louca. Isso estimulou o interesse dos consumidores em conhecer a procedência e os processos de produção dos alimentos. No entanto, foi somente em meados dos anos 2000 que esses padrões ganharam visibilidade.

No contexto da produção de alimentos, os padrões privados (voluntary standards) são guias e sistemas de certificações que buscam promover as boas práticas na agricultura e na pecuária. Elas englobam um conjunto de diretrizes, critérios e especificações estabelecidos por organizações não governamentais, associações setoriais ou empresas particulares para garantir a qualidade, a segurança, a sustentabilidade e outras características dos produtos. Esses padrões vão além das regulamentações governamentais e podem abranger aspectos como métodos de produção, ingredientes utilizados, práticas de comércio justo, bem-estar animal, impacto ambiental e outros atributos.

À medida que os consumidores se tornam mais conscientes dos impactos ambientais e sociais dos produtos, os produtores que se alinham aos padrões privados ganham uma vantagem competitiva, por atenderem às expectativas desses consumidores. Esse comprometimento, em geral, não só abre portas para novos mercados, como também pode se tornar um mecanismo de diferenciação e construção de reputação no longo prazo, graças à legitimidade conferida pela certificação do produto, da produção e de boas práticas.

Varejistas e processadores, especialmente europeus, têm optado cada vez mais pela certificação como um meio de proteger-se de críticas da opinião pública. No entanto, criou-se um conjunto cada vez mais complexo e fragmentado de marcas de certificação. Essas marcas geram uma miríade de padrões que empregam uma ampla gama de critérios, mas com rigidez e consistência variáveis. Isso pode resultar em problemas de credibilidade.

Implementar padrões privados em cadeias agropecuárias não é uma tarefa simples, especialmente quando há heterogeneidade na produção. Pequenos produtores podem ter recursos limitados para investir nas adequações necessárias, além de enfrentar custos adicionais decorrentes da multiplicidade de certificações para atender a diferentes mercados. Esse aumento dos custos relativos devido à certificação pode dificultar a adesão de pequenos e médios produtores aos padrões privados.

Além disso, é fundamental treinar produtores para atender aos requisitos. A adoção de padrões traz oportunidades de colaboração, construção de novas capacidades e difusão de conhecimento entre os agentes da cadeia. No entanto, nem sempre as certificadoras oferecem o apoio necessário aos produtores. Para o atendimento aos padrões legais, o governo pode ter um papel fundamental, dando suporte por meio de suas agências de assistência técnica, especialmente aos pequenos e médios produtores.

A sustentabilidade nas cadeias produtivas é um tema cada vez mais relevante, e os padrões privados devem adquirir importância crescente na configuração global do agronegócio. Ainda que haja implicações em termos dos custos operacionais, eles têm um papel crucial a desempenhar para a promoção e a inserção global do agronegócio brasileiro.

 

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