Uma nova forma de medir a desigualdade na representação política detectou altos índices desfavoráveis a candidatos a deputado negros no país. A disparidade se acentua e se torna homogênea no espectro ideológico-partidário quando são consideradas as pessoas eleitas para a Câmara federal e as Assembleias estaduais.
O Índice de Representação Descritiva (DRI, na sigla em inglês) foi elaborado pelos pesquisadores do Insper Sergio Firpo, Michael França, Leila Pereira e Alysson Portella com o colega Rafael Tavares, da USP. A representação descritiva compara uma população de representados com os seus representantes em atributos como etnia, gênero, cor da pele e classe social.
O DRI procura aperfeiçoar as medições de desigualdade existentes em alguns aspectos. Ele propicia leitura para casos extremos, quando, por exemplo, nenhum representante negro consta do grupo de candidatos ou de políticos eleitos para um determinado cargo, apesar de negros serem frequentes na população representada por eles.
Situações como essa ocorrem e foram detectadas pelos pesquisadores entre os deputados federais eleitos em 2018 pelo Rio Grande do Sul e pelo Rio Grande do Norte. Nesse extremo, o índice toma o valor de -1, o mais afastado do equilíbrio (0) em desfavor dos negros. A máxima distância favorável seria +1.
Outra inovação do DRI é calcular intervalos estatísticos de confiança para os valores apurados. Assim é possível saber para cada medição se ela expressa uma disparidade de fato ou se é fruto de uma variação aleatória, que, portanto, não deveria ser levada em conta. Para 11 dos 26 estados, o índice não conseguiu produzir resultados com um mínimo de 95% de confiança entre os eleitos para deputado federal em 2018.
Com essas características, o DRI pode ser aplicado em realidades em que a frequência da população estudada é heterogênea — como ocorre com a população autodeclarada preta ou parda entre os estados brasileiros, que varia de 20% (SC) a 81% (BA, PA) — e onde o grau de representatividade pode também ser diverso, a depender da localidade.
Submetendo dados das eleições para deputado federal ao modelo, os cinco pesquisadores encontraram um valor de disparidade desfavorável aos negros de -0,28 em 2018 para o conjunto dos candidatos. Avaliados apenas os eleitos, a desproporção aumenta para -0,62. O padrão é similar nas Assembleias Legislativas estaduais.
O perfil dos candidatos à Câmara federal de partidos de centro (-0,20) e de esquerda (-0,23) é menos desbalanceado que os de direita (-0,41). Essa diferença ideológica entre as agremiações desaparece, entretanto, quando são considerados só os políticos eleitos. Direita e esquerda atingem disparidade similar, em torno de -0,60, nessa avaliação.
Leia o estudo:
Descriptive Representation in Politics: A Measurement Proposal and Application for Brazil