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ESG e tecnologia sustentável: por que este tema se tornou prioritário

Na nova realidade, a área de TI desempenha um papel crucial na condução dos negócios, habilitando o fluxo de informação que move a cadeia de valor

Na nova realidade, a área de TI desempenha um papel crucial na condução dos negócios, habilitando o fluxo de informação que move a cadeia de valor

 

Rafael de Almeida Pereira*

 

Na realidade atual dos negócios, a relevância das práticas amplas de sustentabilidade (ambiental, social e governança, representadas pela sigla ESG) tem demandado foco e prioridade das empresas. Até 2025, segundo um relatório da consultoria PwC, mais de 50% dos ativos de fundos de investimento europeus estarão alocados em negócios em que tais práticas sejam evidenciadas. Essas iniciativas dão suporte a três pilares:

  • Ambiental – prevenir, mitigar e adaptar-se aos riscos naturais do ambiente de negócios;
  • Social – ampliar os resultados para as pessoas: direitos humanos, bem-estar e prosperidade;
  • Governança – fortalecer a conduta ética nos negócios e construir as capacidades associadas.

Nessa nova realidade, a área de TI (ou de produtos digitais, como queiram) desempenha um papel crucial na condução dos negócios, habilitando o fluxo de informação que move a cadeia de valor, independentemente do segmento de atuação da empresa. Em determinados segmentos, inclusive, as tecnologias digitais vão além, sendo a base dessa mesma cadeia.

Em linha com essa perspectiva, de acordo com a consultoria Gartner, ao fim do mesmo período (2025), 50% dos CIOs terão métricas de performance associadas à sustentabilidade da área de TI. Esse fato levou a Gartner a incluir o tema “Sustainable Technology”, aqui traduzido como Tecnologia Sustentável, entre os 10 Top Strategic Technology Trends para 2023.

A definição de tecnologia sustentável apresentada pela Gartner é simples, porém ambiciosa: trata-se de um framework de soluções digitais capaz de habilitar e apoiar iniciativas ESG nas empresas. São três os componentes desse framework:

  • TI Interna (Internal IT Operations) – Ganhos diretos na otimização das emissões da cadeia de geração da energia utilizada no processamento digital (greenhouse gas emissions, GHG) e apoio à governança e transparência de toda a cadeia de fornecedores. Eficiência financeira, iniciativas de ganho de escala no processamento de informações e reciclagem do resíduo digital (e-waste).
  • Negócio (Enterprise Operations) – Aqui são agrupadas as iniciativas digitais de apoio ao negócio. Entre outras, são citadas automação, inteligência artificial, analytics e computação em nuvem, sendo esta última como habilitadora de transformação de processos e trabalho remoto.
  • Clientes e Produtos (Customer Operations) – Um novo prisma, no qual os produtos e serviços das empresas apoiam seus clientes em suas próprias metas de sustentabilidade. Iniciativas de rastreabilidade da cadeia e melhor divulgação das métricas de sustentabilidade dos produtos e serviços.

 

Eficiência energética

O desdobramento dos conceitos apresentados acima, no entanto, nos apresenta duas nuances interessantes.

A primeira diz respeito ao impacto da computação em nuvem. Conceitualmente, a nuvem permite maximizar a utilização de recursos computacionais, reduzindo a ociosidade e o desperdício, bem como otimizando o consumo de energia. Permite também mover workloads para ser processados em datacenters mais eficientes… Porém, temos um problema: tecnologias serverless (carro-chefe da computação em nuvem) são menos eficientes no uso da energia do que imaginamos.

Estudos já demonstram que a eficiência energética de uma função serverless (FaaS, Function as a Service) é inferior à de uma transação digital tradicional (um GET via HTTP, por exemplo), devido ao overhead gerado pela camada de virtualização e pela característica dinâmica do modelo. Há inclusive um artigo científico interessante a respeito. Vale a leitura: Challenges and Opportunities in Sustainable Serverless Computing (Sharma, P., 2022).

Esta nuance, muitas vezes, não é percebida pelos executivos de TI. Vale o aprofundamento. Obviamente, uma discussão tão ampla não se resume ao citado anteriormente, mas certamente ainda há muito a evoluir sobre o tema. Os datacenters consomem cerca de 2% de toda a energia gerada no planeta e são responsáveis por cerca de 3% das emissões de carbono. Isso equivale, por exemplo, às emissões de toda a cadeia global de transporte aéreo. O mesmo artigo citado apresenta cenários de gestão das transações digitais em que o balanceamento de carga da nuvem leva em conta a eficiência energética da transação e da localidade onde é processada, por exemplo.

Uma outra nuance, principalmente na realidade brasileira, está relacionada à matriz energética do país, cujo componente renovável é maior do que em outros países. Eficiência nata, porém, pouco divulgada. O exemplo da cadeia de negócios do alumínio é interessante: o alumínio brasileiro é mais sustentável do que o produzido em outros países por dois motivos: alta taxa de reciclagem e maior índice de sustentabilidade da cadeia energética. A simples divulgação desse fato e das evidências associadas tem sido positiva no aumento da exportação de derivados de alumínio produzidos no Brasil.

 

Algumas lições

No universo de TI, podemos tirar lições importantes desse fato. Além da divulgação dessa eficiência “nata”, os executivos de TI podem igualmente interpretar os resultados das iniciativas de reinterpretação digital dos negócios sob essa mesma ótica. Ganhos de eficiência na cadeia de valor podem ser relacionados com iniciativas ESG, em uma ou mais dimensões. Entre outros, os exemplos abaixo ilustram algumas das possibilidades:

  • Blockchain – Uso em larga escalas de cartórios digitais (os ledgers) viabilizam a gestão da verdade por toda a cadeia de valor. Gestão da verdade significa, por exemplo, rastreabilidade em tempo real de todos os insumos da cadeia de valor, garantindo, entre outros, o “ethical sourcing” e a perfeita apuração da eficiência da cadeia (footprint de carbono, por exemplo).
  • Realidade virtual e gêmeos digitais – Ampliam os ganhos de sustentabilidade da mesma forma que as demais tecnologias de trabalho remoto, principalmente quanto à redução da emissão de poluentes, evitando deslocamentos. Ampliam também as possibilidades de inclusão e capacitação da força de trabalho em localidades remotas.
  • Gestão da cadeia de fornecedores – Um aspecto relevante para ESG é a ampliação da responsabilidade indireta das empresas dentro da cadeia ampliada (que inclui, além da cadeia de valor direta, todos os demais terceirizados). Construir integrações e serviços que permitam a rastreabilidade ampliada dessa cadeia é um fator de sucesso para a tecnologia sustentável.

Cabe ao CIO revisitá-las com esse novo olhar. Sem dúvida, um argumento relevante nas sempre complexas discussões sobre orçamento, inovação e novos projetos.

 


Rafael de Almeida Pereira_alumnus

*Rafael de Almeida Pereira é alumnus do MBA Executivo e do Mestrado Profissional do Insper e coordenador do pilar de Tecnologia e Valuation do Comitê Alumni de Tecnologia. Tem atuação profissional consolidada na indústria de TI e no universo de empreendedorismo de base tecnológica, apoiando empresas na reinterpretação digital de seus negócios.

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