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Tecnologia, inovação e transformação responsável

Falamos tanto de ESG no mundo atual, mas, na hora de investir no que faz sentido para o planeta, nos voltamos para o conhecido e para o que gera retorno financeiro no curto prazo

Falamos tanto de ESG no mundo atual, mas, na hora de investir no que faz sentido para o planeta, nos voltamos para o conhecido e para o que gera retorno financeiro no curto prazo

 

Renata Frischer Vilenky*

 

Recentemente, vi uma matéria na Bloomberg sobre a disputa do lítio entre a mineradora Rio Tinto e a montadora Tesla, envolvendo também outras fabricantes de automóveis que querem entrar na área de mineração em função do fomento ao carro elétrico. O engraçado nesse processo é querermos trocar o petróleo, um combustível fóssil, por um metal cujo processo de extração, refino e descarte também agride o meio ambiente, degrada o solo e pode trazer vários impactos negativos no médio e longo prazo, inclusive para as regiões onde ocorre o processo de mineração.

Se olharmos todas as análises que temos de mercado sobre a quantidade de lixo jogado na natureza, entendermos as possibilidades de trabalharmos com a geração de energia a partir da queima desse lixo, como já acontece no Japão e em alguns outros países da Ásia e da Europa, veremos que não faz sentido as montadoras brigarem pelo lítio e perderem a oportunidade de trabalhar, de fato, com pesquisa e inovação, aplicando tecnologias como incineração, compostagem e novas descobertas para retirar lixo da natureza e gerar energia elétrica.

Falamos tanto de ESG no mundo atual, criamos métricas e relatórios para investidores, porém, na hora de identificar práticas reais, de investir no que faz sentido para o planeta, nos direcionamos para o que está mais fácil, para o conhecido e para o que gera retorno financeiro no curto prazo — bem longe da ambidestria e inovação tão faladas atualmente e dificilmente praticadas.

Será que estamos aprendendo alguma coisa com a quantidade de práticas empresariais distorcidas que temos visto, dentro e fora do Brasil? Será que entendemos a dimensão de nossa inércia, de nossa acomodação ou de nossa visão umbilical?

Apenas uma reflexão sobre algumas situações que afetam famílias e marcas, e que fazem parte do nosso mundo atual:

  • Lojas Americanas – Foco no resultado de curto prazo, com prejuízo de mais de R$ 40 bilhões, quebrando pequenos fornecedores e demitindo vários colaboradores, além de impactar segmentos de negócios inteiros;
  • Catargate – O Catar, país sede da Copa do Mundo, é suspeito de ter comprado opiniões favoráveis e influenciado votos no Legislativo da União Europeia para sediar a Copa, além de ser acusado de omitir várias mortes de pessoas que trabalharam na construção dos estádios;
  • Vale – Acionada pela SEC americana por divulgação de informações falsas no relatório de sustentabilidade, depois das tragédias vivenciadas em Mariana e Brumadinho;
  • McDonald’s – Ocorreram ações dos acionistas contra o CEO porque se alegava que ele era permissivo com o caso de assédio sexual praticado pelo diretor de RH global, permitindo que a prática se espalhasse pela companhia.

Agora, para continuarmos nossa reflexão e avaliarmos razões para estarmos adoecendo, para não usamos as facilidades tecnológicas atuais, para não aprendermos coletivamente, para não aplicarmos a inovação na resolução de problemas reais, lembremos nossa história dos últimos séculos:

  • Em 1347 – A peste negra dizimou pelo menos 1/3 da população da Europa
  • Em 1866 – Com uma chuva torrencial e posteriormente uma epidemia de malária, a Ilha Maurícia foi completamente destruída
  • Em 1918 – A gripe espanhola matou pelo menos 50 milhões de pessoas
  • Em 2013 – O ebola, no sul da África, matou mais de 11.000 pessoas
  • Em 2020 – A covid já matou no mundo mais de 15 milhões de pessoas
  • Em pessoas e deixou várias famílias desabrigadas

Se, de alguma forma, consegui sensibilizar seu olhar, avalie o que está fazendo com sua saúde, com seu trabalho, com sua família e com o uso da tecnologia disponível ao seu redor.

Antes de reclamar de qualquer situação, veja se você já entendeu a causa, pensou em soluções de curto, médio e longo prazo, se responsabilizou pelo que consegue fazer, colocou em prática e testou os resultados.

Você já tentou buscar soluções coletivas com pessoas que se incomodam com a mesma situação que você? Já pesquisou outros lugares, outras situações semelhantes que podem lhe trazer insights, se o que você está vendo é realmente um problema ou se você está colocando um peso maior do que o necessário para determinada situação?

Como você está canalizando sua energia, neste mundo complexo, ambíguo e em plena transformação?

Hoje temos mais incertezas e mais vulnerabilidades do que na época de nossos pais e avós. O mundo sem fronteiras, a vida digital, as mudanças de comportamento, as inovações que nascem todos os dias trazem muitas facilidades, que exigem muita responsabilidade e ética de nossa parte quanto a sua aplicação.

Por exemplo, no mundo virtual, podemos trabalhar remotamente, ser atendidos por médicos, fazer reuniões de trabalho, encontrar amigos e familiares que estão distantes, mas também podemos aprender como fazer uma bomba, podemos sofrer golpes de engenhara social ou ainda convocar uma rebelião no melhor modelo primavera árabe.

Por isso não crucifiquemos os “mensageiros”. A tecnologia e a inovação estão nos abrindo oportunidades para sermos melhores todos os dias. Sejamos éticos e responsáveis em nossas escolhas e atitudes!


Renata Vilenky

* Renata Frischer Vilenky é alumna Insper do MBA de Administração da turma de 2008, coordenadora do Grupo Alumni de Tecnologia e membro da Academia Europeia da Alta Gestão. É conselheira de estratégia e inovação e mentora de projetos de inclusão social no Instituto Reciclar e na ONG Gerando Falcões. É autora dos e-books Artificial: Uma Oportunidade para Você Aprender e Startup: Transforme Problemas em Oportunidades de Negócio, ambos publicados pela Expressa Editora.

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