O cientista político e professor Carlos Melo indica a leitura de obras que oferecem “chaves explicativas” da atualidade
Carlos Melo
Quem não se dedicar a compreender o mundo contemporâneo, considerando as múltiplas revoluções das últimas décadas, dificilmente compreenderá o Brasil desta conturbada e preocupante quadra histórica. O país sente os efeitos de todas profundas transformações e os problemas do mundo, agravados por seus próprios defeitos estruturais.
Trata-se de um processo tão complexo quanto profundo, cuja literatura atualíssima acaba por aposentar boa parte da produção anterior. Mundo novo, novas questões. Portanto, novos autores e abordagens.
Duas obras recentes que têm se consolidado como boas “chaves explicativas” da atualidade são O Povo contra a Democracia, de Yascha Mounk, e Os Engenheiros do Caos, de Giuliano da Empoli.
Recomendo também dois grandes livros de meu colega e amigo, o cientista político Sérgio Abranches, uma importante referência nacional. São eles: A Era do Imprevisto e O Tempo dos Governantes Incidentais.
Recomendo fortemente que essas leituras sejam feitas por meio de dispositivos eletrônicos, tipo Kindle, por exemplo. São obras que instigam muitas marcas e anotações que os alunos do Insper poderão, mais tarde, aproveitar por toda trajetória acadêmica. Aliás, são obras que constam das bibliografias dos meus cursos nos mestrados (MPA – Mestrado Profissional em Administração e MPP – Mestrado Profissional em Políticas Públicas).
As resenhas foram retiradas do site da Amazon (www.amazon.com.br)
Companhia das Letras, 432 págs.
“O mundo está em crise. Da Rússia, Turquia e Egito aos Estados Unidos, populistas autoritários tomaram o poder. Os cidadãos estão perdendo a confiança em seu sistema político. Como resultado, a própria democracia corre perigo. De um lado, o toma lá, dá cá se tornou moeda de troca política e excluiu a população das tomadas de decisões fundamentais, criando um sistema de “direitos sem democracia”. De outro, governantes antiestablishment defendem restituir o poder ao povo e lutar contra todo e qualquer obstáculo institucional, mesmo que isso signifique criar, na prática, uma “democracia sem direitos”. Em O povo contra a democracia, Yascha Mounk faz uma análise precisa sobre esse cenário comum a diversas nações ― e analisa o caso brasileiro no prefácio exclusivo a esta edição. É possível reverter a situação e assegurar os valores democráticos? Sim, mas não há tempo a perder.”
Editora Vestígio, 192 págs.
“Aos olhos dos seus eleitores, as *deficiências* dos líderes populistas se transformam em qualidades, sua inexperiência demonstra que não pertencem ao círculo da “velha política”, e sua incompetência é uma garantia da sua autenticidade. As tensões que causam em nível internacional são vistas como mostras de sua independência, e as fake news, marca inequívoca de sua propaganda, evidenciam sua liberdade de pensamento.
No mundo de Donald Trump, Boris Johnson, Matteo Salvini e Jair Bolsonaro, cada dia traz sua própria gafe, sua própria polêmica, seu próprio golpe brilhante. No entanto, por trás das manifestações desenfreadas do carnaval populista, está o trabalho árduo de ideólogos e, cada vez mais, de cientistas e especialistas do Big Data, sem os quais esses líderes nunca teriam chegado ao poder.
É o retrato desses engenheiros do caos que Giuliano da Empoli nos apresenta, através de uma investigação ampla e contundente que vai muito além do caso Cambridge Analytica e remonta ao início dos anos 2000, quando o movimento populista global, hoje em pleno curso, dava seus primeiros passos na Itália.
O resultado é uma galeria de personagens variados, quase todos desconhecidos do público em geral, mas que vêm mudando as regras do jogo político e a face das nossas sociedades.”
Companhia das Letras, 416 págs.
“O mundo vive uma conturbada transição. Os modelos econômicos não conseguem mais prever o que vai acontecer na economia. A estrutura produtiva está em metamorfose. As análises políticas erram cada vez mais. Os modelos meteorológicos não conseguem prever secas, enchentes, nevascas, ondas de calor. Este livro é uma análise dessa longa transformação. A indagação se dá em torno de três revoluções: a socioestrutural, que atinge todo o planeta e tem efeitos sobre a estrutura social, econômica e política das sociedades; a científica e tecnológica, que se dá com o surgimento de novas fontes de energia e com a digitalização da sociedade; e a climática, associada ao aquecimento global. Sem procurar respostas definitivas, Abranches dialoga com incontáveis pensadores contemporâneos para desvendar os rumos de nossa época, tão imprevisível quanto fascinante.”
Companhia das Letras, 304 págs.
“Na última década, a democracia liberal e as liberdades cidadãs sofreram numerosos retrocessos. Da eleição de Donald Trump à ascensão do bolsonarismo, da vitória do Brexit ao colapso dos partidos social-democratas, uma sucessão veloz de mudanças inesperadas alimentou a onda populista que varreu o planeta, potencializada por crises econômicas, ódios políticos e tensões raciais. A polarização ideológica, a insegurança e o medo, agravados pelas incertezas do presente e pela desesperança no futuro, se propagaram com a rapidez vertiginosa do crescimento da ciberesfera. O estado de direito se converteu no alvo preferencial de líderes oportunistas que souberam aproveitar a conjuntura de frustrações generalizadas e desigualdades agudas.
Em O tempo dos governantes incidentais, Sérgio Abranches reflete sobre a saúde precária da soberania popular no Brasil e no mundo. O autor do célebre conceito de presidencialismo de coalizão propõe alternativas para a sobrevivência das instituições democráticas, únicos remédios eficazes contra tiranias e ditaduras.”