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Avisos de suspensão de aula em escola no Distrito Federal fechada por conta da pandemia

Ensino remoto na pandemia gera prejuízos na formação de alunos

Estudo do Insper em parceria com o Instituto Unibanco mostra reflexos da pandemia na educação
23/03/2023 17:37

Estudantes da rede pública iniciaram o atual ano letivo com menor desenvolvimento em língua portuguesa e em matemática em decorrência da substituição do ensino presencial pelo remoto durante a pandemia de coronavírus. Essa perda de proficiência deve levar à redução de rendimentos ao longo da vida. E, se mantido o atual modelo de aulas, o quadro pode piorar.

As repercussões da mudança forçada pela Covid-19 são investigadas no estudo “Perda de Aprendizagem na Pandemia”, elaborado pelos professores Ricardo Paes de Barros e Laura Muller Machado, do Insper, em parceria com o Instituto Unibanco.

O trabalho concentra-se no desempenho de estudantes do terceiro ano, para quem são menores as chances de recuperar o aprendizado perdido ao longo da crise sanitária, uma vez que estão prestes a encerrar a educação básica.

Simularam-se diferentes cenários: o do início deste ano, produto de um 2020 com poucas aulas presenciais e muitas remotas; outro em que se manteria o formato remoto até o fim deste ano; e um terceiro, em que ocorreria a adoção de algum modelo alternativo ao remoto, bem como medidas de reforço e recuperação do aprendizado.

O modelo desenvolvido pelos pesquisadores para efetuar as simulações compreende tanto dados nacionais quanto de estudos acerca de experiências no exterior.

Uma das fontes é o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que oferece um retrato dos níveis de aprendizado no país. Seus indicadores, representados em uma escala de pontuação, provêm de testes e de questionários aplicados em escolas públicas e de uma amostra de colégios privados.

Já a distribuição do aprendizado no ensino médio considerou informações de outros dois sistemas: o de Avaliação Educacional do Piauí (Saepi) e o Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece). Em ambos, o desempenho em língua portuguesa e matemática é aferido nas três séries.

A análise da evolução da proficiência em um ano letivo, por sua vez, teve como referência parâmetros tratados na pesquisa “The Learning Curve: Revisiting the Assumption of Linear Growth Across the School Year”. Neste trabalho, dados de testes de mais de 7 milhões de alunos de escolas públicas americanas sugerem a desaceleração do aprendizado em matemática e sobretudo em linguagem ao longo de séries.

Na metodologia do estudo do Insper em parceria com o Instituto Unibanco, também foram consideradas as perdas em períodos de férias escolares, que correspondem a 25% e a 28% em língua portuguesa e matemática, respectivamente, em relação ao aprendizado de todo o ano letivo anterior.

Aulas remotas X presenciais

Dados das redes de cada estado e do Distrito Feral permitiram aos pesquisadores apurar que, em 2020, apenas 13% do ano letivo, em média, se deu com atividades presenciais. Os demais foram cumpridos remotamente.

Foi estimada a eficácia desse ensino remoto em comparação ao presencial levando em conta quatro estudos acerca do tema. Um deles, por exemplo, concluiu, considerando informações de 1,7 milhão de crianças e adolescentes em Ohio (EUA), que o desempenho de quem estudava à distância era inferior ao de quem tinha aulas presenciais, independentemente da idade e da série.

Os dados desse conjunto de estudos permitiram calcular que, ao estudar de forma remota, o estudante aprende efetivamente, em média, 17% do conteúdo de matemática e 38% do de linguagem em relação ao que ocorreria com aulas presenciais.

Gráfico mostra estimativa do aprendizado efetivo de alunos com ensino remoto em relação ao esperado com ensino presencial no Brasil. Em matemática, aprende-se menos de 20% do esperado. Em português, pouco menos de 40%.

 

Também foi examinado o engajamento ao modelo a distância no Brasil. Em 2020, estudantes assistiram, em média, a cerca de 36% das 25 horas de aulas online por semana. Entre os possíveis motivos por trás desse baixo índice estão a falta de acesso à internet, de equipamentos de informática e de estímulo para acompanhá-las.

Nesse cálculo, além de dados da PNAD Covid, serviu de referência a estimativa de impacto de absenteísmo proposta por três pesquisadores de universidades americanas. Segundo o trio, ao não acompanhar um dia de aula, o aluno perde o conteúdo daquele dia em si e uma proficiência equivalente a 1,55 dia de aula.

Resultados da pesquisa

Considerando todos esses elementos, os autores do estudo estimam que estudantes brasileiros ingressaram no terceiro ano do ensino médio, neste início de 2021, com uma proficiência menor –equivalente a nove pontos a menos em língua portuguesa e a dez em matemática na escala do Saeb– frente ao que seria esperado se tivessem cursado todo o segundo ano, em 2020, presencialmente.

Se mantidas somente as aulas a distância até o fim deste ano para os terceiranistas, com o mesmo nível de engajamento observado até o momento, a projeção é que a perda de aprendizado vai se acentuar, alcançando 16 pontos em língua portuguesa e 20 em matemática.

Para se ter uma ideia da dimensão desses números, em tempos normais, um aluno desenvolveria nas três séries do ensino médio uma proficiência total equivalente a 20 pontos em língua portuguesa e a 15 em matemática.

Ainda é possível mitigar esse impacto, segundo os pesquisadores. Para tanto, seria necessário que as escolas adotassem algum modelo híbrido de ensino, substituindo o atual. Os autores recomendam ainda a implantação de medidas que busquem reforçar e recuperar o conteúdo dos currículos e dobrar o nível de engajamento nas aulas online.

Nesse cenário, a perda de aprendizado seria de 11 pontos em língua portuguesa e de 12 em matemática.

Imagem mostra estimativa de perda de aprendizagem de alunos do terceiro ano do ensino médio em 2021, representada na escala de pontos Saeb. Em matemática: 20 pontos, com continuidade de aulas no modelo remoto até o fim de 2021; 17 pontos, com continuidade de aulas no remoto até o fim de 21, mas com o dobro de engajamento nas aulas; 14 pontos, com adoção de algum modelo híbrido no segundo semestre de 2021; 12 pontos, com adoção de algum modelo híbrido no segundo semestre de 2021 e de ações de recuperação. Em português: 16 pontos, com continuidade de aulas no modelo remoto até o fim de 2021; 14 pontos, com continuidade de aulas no remoto até o fim de 21, mas com o dobro de engajamento nas aulas; 13 pontos, com adoção de algum modelo híbrido no segundo semestre de 2021; 11 pontos, com adoção de algum modelo híbrido no segundo semestre de 2021 e de ações de recuperação. Fonte: elaboração Barros et al. (2021).

 

Impacto na renda

A deterioração de indicadores de aprendizado deve se traduzir para os jovens em menores ganhos no mercado de trabalho. A perda de proficiência em matemática, por exemplo, pode implicar a diminuição de até 10% da remuneração ao longo da vida deles, se não houver ações para mitigá-la.

Num cenário em que esse prejuízo de aprendizado atinja os cerca de 35 milhões de matriculados nos ensinos fundamental e médio da república do país, a perda poderia somar cerca de R$ 1,5 trilhão ao longo da vida deles.

Para essa projeção, uma das referências dos pesquisadores é a estimativa de que um ponto a menos de proficiência reduz em 0,5% a remuneração de trabalho.  Calcula-se que, ao longo de sua vida, um jovem que termina o ensino médio acumula, em média, R$ 430 mil em rendimentos durante sua vida.

Imagem traz estimativas dos efeitos da perda de aprendizagem com ensino remoto na rede pública, representa na escala de pontos Saeb. As simulações apresentam três cenários. O primeiro, até o início de 2021, consiste em aulas realizadas no modelo remoto: perda de 10 pontos em proficiência em matemática para cada aluno do terceiro ano do ensino médio; R$ 21 mil em redução de renda de cada aluno do terceiro ano do ensino médio, ao longo da vida; R$ 723 bilhões em redução de renda considerando os cerca de 35 milhões de alunos do fundamental e do médio, ao longo da vida. O segundo cenário considera as perdas se as aulas continuarem no mesmo modelo remoto até o fim de 2021: perda de 20 pontos em proficiência em matemática por aluno do terceiro ano do ensino médio; R$ 43 mil em redução de renda de cada aluno do terceiro ano do ensino médio, ao longo da vida; R$ 1,5 trilhão em redução de renda considerando os cerca de 35 milhões de alunos do fundamental e do médio, ao longo da vida. O terceiro cenário considera as perdas se as aulas migrarem para algum modelo híbrido e houver a adoção de reforço e maior engajamento, no segundo semestre de 2021: perda de 12 pontos em proficiência em matemática por aluno do terceiro ano do ensino médio; R$ 26 mil em redução de renda de cada aluno, ao longo da vida; R$ 912 bilhões em redução de renda considerando os cerca de 35 milhões de alunos do fundamental e do médio, ao longo da vida. Fonte: elaboração Barros et al. (2021).

 


Leia o estudo

“Perda de Aprendizagem na Pandemia”



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