A tecnologia de comunicação entre máquinas, sem interferência humana, tem uma concepção simples, mas com implicações revolucionárias
Tiago Cordeiro
Quase 15 bilhões de conexões entre máquinas espalhadas pelo mundo em 2023, ante 6 bilhões em 2018. Esse é o tamanho do crescimento da utilização da tecnologia de Machine to Machine (M2M), segundo o Cisco Annual Internet Report. O estudo avalia que esse mercado movimentou 1 bilhões de dólares no mundo em 2020 e deverá crescer em média 5,5% ao ano, até atingir 26,5 bilhões de dólares em 2026.
A ideia em si não é nova. Desde o início do século 20, dezenas de inventores e desenvolvedores buscam formas de melhorar a capacidade de monitorar o funcionamento de máquinas. A partir da década de 1960, o uso de informática aplicada a equipamentos passou a permitir que eles fossem conectados entre si, sem a necessidade de acompanhamento humano constante.
Mas foi nos últimos anos que a M2M ganhou escala e suas aplicações se diversificaram. O conceito está na base de uma tecnologia hoje mais famosa: a Internet das Coisas (IoT).
Como o nome indica, Machine to Machine é a tecnologia de comunicação entre máquinas, sem nenhuma assistência manual ou interferência humana. A proposta é simples, mas tem implicações revolucionárias. Está na base, por exemplo, do avanço da indústria 4.0, que conecta diferentes equipamentos entre si de forma a levar eficiência para as linhas de montagem, entre outros sistemas formados por diferentes equipamentos e componentes, nem sempre operando n mesmo local.
São duas, principalmente: aumento da produtividade, com a redução do tempo perdido para a realização de consertos identificados tardiamente; e, em consequência, a redução de custos. Com a M2M, é possível diagnosticar problemas futuros, automatizar processos e melhorar a qualidade de produtos e serviços.
Seja dentro de uma fábrica, seja ao longo de uma extensa cadeia logística, ou mesmo dentro de um veículo (um automóvel, um caminhão ou uma colheitadeira, por exemplo), diferentes equipamentos compartilham uma mesma rede de informações, de forma a seguir protocolos pré-estabelecidos. Como resultado, todo um sistema de máquinas pode parar automaticamente em caso de aumento de temperatura pré-estabelecido, ou um trator com uma peça avariada pode interromper o funcionamento antes que outros componentes sejam prejudicados.
No campo, na indústria, na indústria automobilística, em especial — o conceito de telemetria, popularizado no automobilismo esportivo, especialmente a Fórmula 1, hoje está aplicado aos carros de passeio. Mas também em novos setores, que vêm aderindo rapidamente à tecnologia, como a área de saúde e o varejo. Nas cidades, o controle de tráfego e a gestão de iluminação pública começam a se beneficiar da M2M, assim como a indústria de extração de petróleo e gás natural já utiliza o conceito há anos, levando eficiência e segurança para operações delicadas, especialmente as realizadas offshore.
Qualquer máquina pode ser conectada a outras, com a vantagem de não necessitar de sistemas complexos. A instalação é simples, acontece de acordo com a demanda específica de cada organização, e o consumo de energia, uma preocupação importante tanto em termos ambientais quanto para o impacto deste custo no preço final, é baixo.
O conceito de M2M se apoia em máquinas, é baseado em hardware, tem aplicações verticalizadas e a comunicação, em geral, não utiliza protocolos IP. É utilizado principalmente para controle a distância e, na maior parte dos casos, a comunicação se dá em apenas uma direção.
Já a IoT utiliza a internet e sensores para estabelecer trocas de informações de mão dupla a partir de softwares. Por isso, suas aplicações são horizontalizadas e múltiplas. Seu uso se aplica a dados estruturados e não estruturados, enquanto a M2M atua com dados estruturados.
São aplicações complementares, portanto, sendo que a IoT tem um escopo mais amplo, enquanto a M2M utiliza protocolos próprios para monitoramento e controle. Uma máquina de venda de bebidas, por exemplo, pode utilizar M2M para registrar que um dos produtos disponíveis acabou. Com a IoT, é possível prever a falta, considerando o histórico de uso. Por isso é que, segundo a consultoria Gartner, a IoT vem sendo aplicada principalmente com foco em segurança, em soluções de automação e na garantia da conformidade dos processos.