O pioneiro sistema de comunicação via mensagens de texto serviu de modelo para os fóruns de internet
Leandro Steiw
BBS é a abreviação de Bulletin Board System (em inglês, sistema de quadro de avisos), um sistema de comunicação via mensagens de texto. Funciona em microcomputadores conectados a uma rede paga ou gratuita por meio de uma linha telefônica e um modem.
Os americanos Efrem Lipkin, Mark Szpakowski e Lee Felsenstein, que trabalhavam com hardware e software, criaram o primeiro BBS, em 1973. Era o Community Memory, construído com um teletipo dentro de uma caixa de papelão, que foi instalada na loja de discos Leopold’s, em Berkeley, na Califórnia. Os usuários podiam escrever mensagens de texto, criar palavras-chave e divulgar ideias e trabalhos para a comunidade que frequentava o local.
Os primeiros construtores da tecnologia queriam criar um sistema descentralizado e gratuito de divulgação e troca de informação, que pudesse ser usado por pequenas comunidades. Muitos estavam inspirados pelo ideal de liberdade de expressão e pelo sentimento antibélico do início da década de 1970.
Parte desse movimento de contracultura engajava artistas, o que justifica a decisão de instalar o primeiro BBS em uma loja de discos, ponto de encontro de músicos e escritores. Depois, outros terminais ligados a cabo foram espalhados pela cidade.
Ainda levou algum tempo para o BBS crescer. Em 1978, em Chicago, Ward Christensen fundou o CBBS (do inglês, BBS computadorizado), o primeiro a usar a discagem telefônica para conectar diversos computadores a um mesmo quadro de avisos. Junto com Randy Suess, outro entusiasta da informática, criou um protocolo de transferências de arquivos via modem.
Os usuários do serviço conectavam-se diretamente à máquina da CBBS, escreviam a sua mensagem e liberavam a linha para outras pessoas. Embora exigisse paciência, funcionava bem. Tanto que o sistema CBBS é considerado modelo dos fóruns que surgiram mais tarde.
No Brasil, os primeiros BBS surgiram na metade da década de 1980 e, tais quais seus precursores nos Estados Unidos, reuniam comunidades fechadas, principalmente os então privilegiados donos de microcomputadores. Os serviços ficavam disponíveis apenas algumas horas por noite, quando os pulsos das ligações telefônicas eram mais baratos. Depois, apareceram outros concorrentes pagos e abertos 24 horas.
O BBS seguiu na ativa até a metade da década de 1990, quando a internet ganhou uma interface parecida com a atual. Estima-se que, só nos Estados Unidos, tenham existido cerca de 100.000 sistemas de mensagens nos 20 anos de atividade da tecnologia.
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Apesar do domínio da internet, o BBS sobrevive. Conforme o levantamento, existem de 900 a 1.000 sistemas ativos, a maioria nos Estados Unidos. Umas poucas dezenas funcionam com conexão via linha telefônica discada (ou dial-up, em inglês), como nos primeiros anos da CBBS de Christensen e Suess.
O BBS foi substituído por fóruns e serviços de e-mail da internet, à medida que a nova tecnologia se popularizou no formato da World Wide Web e dos navegadores. No início deste século, diversos BBS pagos viraram provedores de acesso discado à internet. Normalmente, eles ofereciam um endereço próprio de e-mail para o usuário, que precisava ter uma linha telefônica para conectar o seu computador à rede.
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