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“Pensei em desistir, mas uma voz dentro de mim dizia que eu tinha de perseverar”

A história de resiliência e superação da bolsista amazonense Ana Laiz Farias, aluna de Engenharia de Computação. Ela foi aprovada no Insper após várias tentativas malsucedidas de passar no vestibular

Ana Laiz Farias, bolsista

A história de resiliência e superação da bolsista amazonense Ana Laiz Farias, aluna de Engenharia de Computação. Ela foi aprovada no Insper após várias tentativas malsucedidas de passar no vestibular

 

Desde criança, a amazonense Ana Laiz Farias se acostumou a ver o pai, o técnico em eletrônica Adolfo Luiz Farias, manusear instrumentos como ferros de solda e dispositivos como capacitores. No ensino médio, ela percebeu que tinha intimidade com matérias de Exatas e decidiu que queria se tornar engenheira. Hoje, aos 24 anos, ela está a caminho de realizar esse sonho. Ana Laiz faz o 4º semestre do curso de Engenharia de Computação no Insper, onde ingressou em 2021 como aluna bolsista.

Chegar até aqui não foi nada fácil. Nascida em uma família de baixa renda, Ana Laiz fez todo o ensino fundamental em uma escola pública da rede municipal de Manaus. No 1º ano do ensino médio, percebeu que, para fazer Engenharia, precisaria ser boa em disciplinas como matemática, física e química. Sua escola não lhe fornecia essa necessária base. Resolveu então estudar por conta própria para o Enem, utilizando materiais que encontrava na internet.

Um dia, ela tomou uma decisão ousada: fingiu que estava com dor de barriga, para ser dispensada mais cedo da escola, e foi ao II Colégio Militar da Polícia Militar de Manaus. “Era uma escola muito boa, mas minha família não tinha condições de me matricular lá. Pedi para falar com o coronel, mostrei minhas notas do Enem e disse que eu queria estudar lá.” O coronel olhou para Ana Laiz e disse: “Por mim, você já tem a vaga. Diga para seus pais virem falar comigo”. O pai se comprometeu a custear as despesas com material didático, com a ajuda de seu irmão mais novo, o tio Alan Douglas, primeiro membro da família a concluir um curso superior (é economista) e que sempre ajudou na educação de Ana Laiz.

Depois de um ano no Colégio Militar, Ana Laiz decidiu fazer prova para uma bolsa no Colégio Ari de Sá Cavalcante, em Fortaleza. Essa escola tem turmas específicas para alunos que vão prestar os vestibulares no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e no IME (Instituto Militar de Engenharia). Ana Laiz obteve uma bolsa de 100%, incluindo moradia. E assim ela se mudou para a capital cearense. “Foi um choque na minha casa, pois eu tinha só 17 anos”, lembra. “Era a minha terceira escola no ensino médio. Fui atrás da escola que pudesse oferecer o melhor ensino para eu atingir meu objetivo, que era entrar no IME.”

 

Cinco anos de dedicação

Ana Laiz tentou, durante cinco anos, ser aprovada no vestibular do IME. Não conseguiu, mesmo se dedicando o dia todo aos estudos. Pior: ela atingiu a idade limite (22 anos) para ingressar no IME. Foi nessa época que uma amiga, com quem havia estudado o 3º ano do ensino médio em Fortaleza, comentou sobre o Insper. Essa amiga fazia o curso de Engenharia de Computação no Insper e deu ótimas referências sobre a escola. Ana Laiz resolveu pesquisar mais sobre o Insper e ficou interessada. “Eu soube que Claudio Haddad, fundador do Insper, havia estudado no IME, e isso me deixou bastante animada. Gostei também de saber que os alunos do curso de Engenharia realmente ‘põem a mão na massa’, um diferencial em relação a outras faculdades.”

A estudante decidiu prestar o vestibular do Insper. Aqui também o caminho não foi fácil. Ana Laiz só conseguiu ser aprovada na terceira tentativa. As duas primeiras tentativas, segundo ela, não deram certo “por detalhes”. Na primeira vez, ela se inscreveu para o vestibular em cima da hora e não se preparou de forma adequada para a segunda fase, na qual são avaliadas soft skills como comunicação assertiva e pensamento crítico. Havia 150 vagas — e Ana Laiz ficou em 151º lugar. Na segunda tentativa, o vestibular foi online, por causa da pandemia, e Ana Laiz cometeu um erro que resultou na anulação de sua prova. “Eu estava muito nervosa e esqueci de mostrar meu documento de identidade para a câmera, como era exigido pelo regulamento.”

Finalmente, na terceira tentativa, no segundo semestre de 2021, a estudante foi aprovada no vestibular — e no Programa de Bolsas. “Quando eu soube que tinha passado no Insper, foi o dia mais feliz da minha vida. Corri para avisar meu pai”, lembra. Um filme passou pela cabeça da estudante. Seus pais haviam se separado quando ela ainda era criança. Ana Laiz foi morar com a mãe, Ana Jaira, que teve outro marido, mas foi abandonada ao ficar grávida. Houve um momento em que tanto o pai quanto a mãe ficaram desempregados. “Às vezes eu via minha mãe chorar porque havia coisas que ela queria comprar para mim e não podia. E havia dias que a gente não tinha o que comer, mas ela não queria contar ao meu pai para não o incomodar com isso.” Mesmo tendo se separado da mãe, seu pai sempre foi uma figura presente, segundo a estudante. “Meu pai, apesar de não ter feito um curso superior, é a pessoa mais inteligente que conheço e sempre me apoiou. Só não teve a mesma oportunidade que estou tendo.”

 

Adaptação à escola

No Insper, Ana Laiz não teve problemas de adaptação. Afinal, desde os 17 anos já estava acostumada a viver longe de casa. No primeiro ano, foi morar na Toca da Raposa. Fez muitos amigos e, hoje, mora em um apartamento perto do Insper que divide com mais cinco alunas bolsistas que conheceu na Toca — na república são quatro estudantes de Engenharia, uma de Administração e uma de Direito.

Segundo Ana Laiz, a principal dificuldade que enfrentou ao entrar no Insper foi conseguir acompanhar as aulas de programação. “Eu nunca havia tido contato com programação e foi bastante difícil no começo. Tive que relembrar meus tempos de vestibulanda e fiquei horas e mais horas debruçada nos estudos.” Depois dessa experiência, Ana Laiz resolveu ajudar os “bichos” de Engenharia que apresentam a mesma dificuldade, dando aulas de programação a alguns alunos novatos. Ana Laiz conta que alguns de seus colegas já comentaram com ela: “Nossa, como você é boa em matemática e física! E eu conto que passei cinco anos da minha vida estudando para o IME. Se eu tivesse entrado no Insper direto do ensino médio, ia levar bomba em matemática e física”.

Por isso, Ana Laiz acredita que os cinco anos que passou estudando com afinco para entrar em uma faculdade não foram perda de tempo. “Precisei passar por todo esse processo para estar aqui onde estou hoje. Muitas vezes, pensei em desistir. Mas uma voz dentro de mim dizia que eu tinha de perseverar.” Hoje, ela está convencida de que o esforço valeu a pena. “Eu acredito que, estudando no Insper, vou conseguir meus objetivos, que é ter uma boa formação, arrumar um bom emprego e poder ajudar as pessoas, principalmente a minha família em Manaus.”

Atualmente, Ana Laiz faz um summer job no banco BTG. É o seu terceiro estágio de férias desde que ingressou no Insper. “Esse é um tipo de oportunidade que, infelizmente, não existe no Amazonas”, diz a estudante, que também já começou a fazer planos para participar de um programa de intercâmbio no exterior em sua área. “Sou a primeira mulher amazonense a conseguir uma bolsa no Insper e quero servir de inspiração para outras meninas que também queiram vir para cá. Foi um caminho árduo, mas meu sentimento é de gratidão por tudo o que estou vivendo.”

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