Evento no Insper reunirá especialistas para discutir os avanços, os desafios e os impactos relacionados ao aumento da expectativa de vida no Brasil
Nos últimos anos, a longevidade tem apresentado avanço significativo em diversos países no mundo. No Brasil, não é diferente. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1940, a expectativa de vida ao nascer no país para ambos os sexos era de aproximadamente 45 anos. Em 2021, esse número já era de 77 anos, em média. O aumento da expectativa de vida é resultado de uma séries de fatores, entre os quais os avanços na área da medicina, a ampliação do acesso aos cuidados de saúde e a maior oferta de serviços de saneamento básico.
Se o aumento da longevidade é um indicativo de melhoria nas condições de vida, também traz desafios devido ao envelhecimento da população. O país precisa se preparar para lidar com uma parcela maior de idosos, que demandam políticas públicas, serviços e cuidados específicos. É esse o pano de fundo da criação do Centro de Ciência para a Longevidade do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que atua em parceria com o Insper e com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e com o InovaHC, o centro de Inovação do Hospital das Clínicas. Essas organizações são parcerias no Consórcio de Inovação em Saúde, que foi formalizado em 28 de fevereiro deste ano.
O Centro de Ciência para a Longevidade será lançado oficialmente nesta quarta-feira, 29 de novembro, a partir das 8h, no Auditório Steffi e Max Perlman, no Insper. O evento vai reunir especialistas, líderes de mercado e pesquisadores reconhecidos na área de saúde e longevidade para discutir as tendências e inovações que estão revolucionando o setor.
O médico cardiologista e epidemiologista Álvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, será um dos participantes da mesa-redonda que acontecerá durante o evento. Há 17 anos Avezum lidera, no Brasil, um projeto colaborativo envolvendo 30 países chamado Pure (Prospective Urban and Rural Epidemiological), que busca compreender as causas do adoecimento de pessoas.
“Nos últimos dois anos, identificamos dez fatores que desempenham um papel crucial na mortalidade precoce em escala global, com nuances específicas para a América Latina. Ao priorizar esses fatores do mais para o menos impactante, temos um guia de ações para aumentar a expectativa de vida de nossa população”, diz Avezum. De acordo com o Pure, os seguintes fatores são responsáveis por 90% das mortes precoces na América Latina, em ordem decrescente de importância: cigarro, pressão alta, baixa escolaridade, obesidade abdominal, diabetes, redução de força muscular, sedentarismo, consumo de álcool, alimentação não saudável e poluição.
Dados do IBGE mostram que a população com 60 anos ou mais no Brasil cresceu quase 40% entre 2012 e 2021, atingindo pouco mais de 31 milhões de pessoas, cerca de 15% do total. O instituto projeta que em 2050 o país terá 30% de sua população com idade acima de 60 anos.
“A longevidade é um desafio complexo em vários aspectos, pois não envolve apenas considerações sobre a saúde e o funcionamento do corpo humano diante do envelhecimento. Há também impactos sociais e econômicos, inclusive no que diz respeito à aposentadoria. É fundamental reconhecer que uma população cada vez mais envelhecida, em contraste com o declínio da população jovem, traz implicações significativas para a sociedade”, diz Paulo de Paiva Amaral, professor na trilha de Bioengenharia e pesquisador nas áreas de genética molecular e bioquímica no Insper.
Amaral, que vai participar da mesa-redonda no lançamento do Centro de Ciência para a Longevidade, diz que uma peça central na missão do Insper nessa área consiste em realizar análises do impacto social e econômico decorrente do envelhecimento da população. “Frequentemente, ao abordar essa questão, tendemos a incorporar uma perspectiva com viés na análise política e econômica, dada a nossa expertise significativa nas áreas de Economia e Administração. Após o lançamento do MBA Executivo em Saúde, fortalecemos ainda mais esse aspecto. A contribuição do Insper na área da economia da saúde, no contexto do envelhecimento populacional, será crucial.”
Para o professor Paulo Furquim de Azevedo, coordenador do Centro de Regulação e Democracia (CRD) do Insper e que também vai participar da mesa-redonda, há dois motivos que tornam o Centro de Ciência para a Longevidade uma iniciativa promissora para a geração de conhecimento. “Em primeiro lugar, ela possibilitará a reunião de especialistas médicos de alta qualidade, promovendo a convergência de conhecimentos médicos, estatísticos e de bioengenharia. A qualidade excepcional dessas expertises, quando combinadas, permitirá abordar questões críticas. Em segundo lugar, a complementaridade desses conhecimentos ampliará a capacidade de responder a perguntas complexas.”
De acordo com Furquim, a colaboração entre os parceiros do Centro de Ciência para a Longevidade na geração de conhecimento nessa área é fundamental, dado o crescente impacto da saúde na economia do país. “Atualmente, o Brasil gasta 10% do seu Produto Interno Bruto em saúde, enquanto nos Estados Unidos essa fatia é de 17%, com tendência de aumento proporcional ao crescimento econômico”, diz Furquim. “O desafio reside em encontrar formas sustentáveis e economicamente viáveis de financiar o envelhecimento saudável da população brasileira.”