Pesquisadores do NERI e convidados vão falar sobre os capítulos da obra que reúne dados sobre desigualdades em renda, educação, saúde, violência e representação política
Leandro Steiw
O Núcleo de Estudos Raciais do Insper (NERI) vai lançar nesta sexta-feira, 27 de outubro, o livro Números da Discriminação Racial: Desenvolvimento Humano, Equidade e Políticas Públicas. A publicação conta com análises e reflexões de pesquisadores do núcleo e de convidados que estudam as diversas faces do preconceito e das disparidades raciais. Na noite de lançamento, os autores dos textos falarão brevemente sobre cada capítulo, que abordam as desigualdades em renda, educação, saúde, violência e representação política. O livro está disponível na Amazon.
A obra tem forte simbolismo. Uma das tantas motivações da equipe do NERI amadurece de indagações habituais sobre a participação dos economistas em temas da agenda racial. “Da perspectiva da economia nos Estados Unidos, há mais de 60 anos existem contribuições interessantes na medição da discriminação, tentando entender cada vez mais essas questões com um olhar para dados e evidências”, diz Michael França, coordenador do NERI.
No Brasil, apesar das colaborações recentes de economistas, há bastante espaço para avançar. “Diante dos nossos problemas e desafios, o livro procura ajudar nesse debate trazendo evidências da literatura empírica que estão na fronteira do conhecimento”, afirma França. “O livro parte de perspectivas da economia e contribui com todo o trabalho que já tem sido feito no país por sociólogos, historiadores, filósofos e profissionais de várias áreas do conhecimento.”
A obra do NERI demonstra ainda o incômodo em relação aos avanços tímidos em certas áreas desde o processo de redemocratização do Brasil, na década de 1980. “Em cerca de quatro décadas, tivemos governos de esquerda e de direita, e pouquíssimos avanços na diminuição da desigualdade racial. Em algumas áreas, na verdade, o cenário até piorou”, diz o coordenador. Quando comparamos indivíduos com características produtivas semelhantes, os dados do mercado de trabalho explicitam a permanente lacuna de rendimento entre pessoas brancas e negras. Na educação, as crianças negras estão ficando cada vez mais para trás em desempenho.
Do ponto de vista da economia, a produtividade não vai aumentar se a população negra não conseguir se desenvolver plenamente e atingir todo o seu potencial como ser humano. O país estará ficando mais pobre. As estatísticas mostram que, em poucas décadas, o Brasil será um país envelhecido. A população jovem – que, em última instância, paga a aposentadoria dos mais velhos – está em queda. Menos produtiva, essa juventude predominantemente negra também vai causar impacto na renda dos idosos – brancos, inclusive. “O viés racial é um problema de todos”, afirma França.
A exclusão social brasileira é real. Muitos estão tendo acesso à educação e trabalho por meio de ações afirmativas, como a política de cotas raciais nas universidades públicas estabelecida há cerca de 10 anos. A maioria das pessoas negras, no entanto, não dispõe das mesmas possibilidades de ascensão social. França questiona: “A sociedade vai conseguir aproveitar esse momento de maior visibilidade da questão racial e começar a fazer políticas públicas mais efetivas, que vão aumentar as competências e potencialidades do cidadão?”.
Ao registrar os aspectos econômicos que estão avançando e regredindo, o livro pretende dar um diagnóstico mais preciso para o desenho e a avaliação das políticas públicas. As evidências apresentadas em Números da Discriminação Racial ajudam a mensurar os diversos fatores que influenciam na persistência da desigualdade racial e social.