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Estratégias para capacitar novas economias do cuidado verde

A iniciativa Making Green Work for Health reúne o Insper, a USP e a Universidade Técnica de Delft, da Holanda, na busca de caminhos para a sustentabilidade nas metrópoles

A iniciativa Making Green Work for Health reúne o Insper, a USP e a Universidade Técnica de Delft, da Holanda, na busca de caminhos para a sustentabilidade nas metrópoles

 

Tiago Cordeiro

 

O plantio de árvores nos ambientes urbanos é uma prática comum e aceita em larga escala pela sociedade — é praticamente impossível encontrar pessoas ou organizações que sejam contra a iniciativa. É fácil entender o porquê: as árvores capturam dióxido de carbono, mitigam as ilhas de calor e melhoram a habitabilidade e a saúde pública nas cidades.

Ocorre que somente o plantio não é suficiente. As árvores urbanas maduras também precisam ser saudáveis – e a urbanização está provocando um declínio global delas.

Para que essa realidade seja alterada, é crucial implementar ações coordenadas, que facilitem e capacitem novas economias do cuidado verde em escala local, de forma a ajudar a combater as desigualdades e garantir uma transição verde sustentável e mais justa.

Essa é a proposta do movimento “Making Green Work for Health”, uma iniciativa que envolve o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, o Insper e a Universidade Técnica de Delft (TU Delft), da Holanda. O objetivo é conciliar o fortalecimento de áreas verdes nas grandes cidades com o apoio para a economia local, tendo como foco a qualidade de vida das pessoas.

A rede internacional de pesquisas conta com parceiros da TU Delft, como o Ostschweizer Fachhochschule (OST), a Universidad Politécnica de Madrid e a Harvard GSD, além de cidades como Almere, na Holanda, e Madri, na Espanha. O trabalho conjunto inclui estudos de caso comparativos, publicados em revistas especializadas, e pedidos de financiamento conjunto para o planeamento de novas florestas urbanas, para o verde urbano produtivo e para a aceitação de medidas de adaptação climática.

 

Seminário internacional

“Áreas verdes são uma questão de saúde pública”, afirma o médico Paulo Saldiva, um dos organizadores da proposta e coordenador do Núcleo de Saúde Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper. “É fundamental estabelecer uma visão integrada que valorize a vida de pessoas, a fauna e a flora nos ambientes urbanos, onde já vive mais da metade da população planetária, com franca tendência de aumento da concentração nas próximas décadas.”

No início de setembro, os organizadores do movimento realizaram em São Paulo, na sede do IEA, um primeiro seminário internacional Making Green Work for Health. O próximo será realizado em 2024, na Holanda. “O seminário debateu estudos já realizados e que avaliam e descrevem estratégias para integrar o verde, a economia local e o ambiente urbano”, descreve Laura Janka, coordenadora do Núcleo Arquitetura e Cidade do Laboratório do Insper.“Pela manhã, o evento foi aberto para todos os interessados em urbanização, saúde e sustentabilidade,  atuantes na organização civil,  em organizações de política pública ou na academia”, prossegue ela. “Durante a tarde, foi realizado um workshop com o objetivo de desenhar um projeto de pesquisa internacional e fortalecer a parceria com os pesquisadores holandeses.”

“O intercâmbio de pesquisa internacional e interdisciplinar busca identificar políticas inovadoras, modelos organizacionais e critérios de design centrais para ampliar o conceito de uma nova geração de projetos de esverdeamento urbano baseados em economias locais de cuidado verde”, explica Victor Muñoz Sanz, professor assistente de desenho urbano na TU Delft e um dos idealizadores da iniciativa.

“Meu colega Deepti Adlakha e eu passamos quase uma semana em São Paulo, onde fomos recebidos por pesquisadores da USP e do Insper”, relata Sanz. “O workshop foi uma experiência fantástica, em especial pela diversidade de contribuições e debates realizados. Foi particularmente valioso contar com a presença de membros do setor público, como Gilberto Natalini, secretário de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo, e representantes da Subprefeitura da Sé.”

 

Seminário no Instituto de Estudos Avançados da USP
Seminário no Instituto de Estudos Avançados da USP

Agenda de pesquisa

Sanz lembra que, nos últimos anos, muitas cidades em todo o mundo iniciaram projetos ambiciosos de plantação de árvores. “Esses planos tentam aproveitar os benefícios bem conhecidos do verde urbano, nomeadamente o sequestro de carbono e o seu impacto positivo na saúde humana. No entanto, as duras condições urbanas e a má gestão têm um impacto sério na saúde das árvores urbanas”, ressalta.

O objetivo do projeto de que participa “é colocar a saúde e o cuidado das árvores no centro das políticas de mudança climática e explorar maneiras práticas pelas quais essa mudança nas prioridades poderia desbloquear novas formas de cogestão e economias locais de cuidados verdes e, portanto, ter um impacto positivo nas comunidades locais”, descreve ele.

Em síntese, a proposta é definir uma agenda de investigação aplicada para informar políticas futuras na intersecção entre o verde urbano e a saúde humana e não humana. “Em termos práticos, o projeto visa abrir novos canais de intercâmbio científico, colaboração e aprendizagem mútua entre o Brasil e a Holanda”, esclarece Sanz.

O pesquisador avalia que a proposta é viável, já que muitos dos desafios envolvendo a ecologização urbana são partilhados entre cidades como a capital paulista e metrópoles europeias. “Os obstáculos incluem, entre outros, a perda crescente de árvores maduras, inércias institucionais, silos organizacionais e práticas de manutenção inadequadas. Portanto, as conclusões dessa pesquisa podem ter um impacto nas políticas urbanas de todos os países”.”

 

Visitas de campo

Depois do seminário e do workshop, realizado no dia 4 de setembro, os dias 5 e 6 foram dedicados a visitas de campo a espaços verdes, como o parque linear Cantinho do Céu, um novo projeto de urbanismo social localizado no extremo sul da cidade de São Paulo, às margens da represa Billings. “Esse parque é um catalisador de uma estratégia mais ampla de habitação sanitária, infraestrutura social, reflorestação e espaço público que beneficia os assentamentos informais circundantes”, descreve o integrante da instituição holandesa.

Os pesquisadores também visitaram o Parque Augusta, na região central da capital paulista. “O gestor do parque, Heraldo Guiaro, nos contou a história, a gestão e as atividades do local, símbolo da mobilização popular em favor do espaço público urbano”, relata Sanz.

Por sua vez, Guiaro, que dedicou toda a carreira como servidor público aos espaços verdes da metrópole, destacou a oportunidade de mostrar aos visitantes como é feito o manejo de áreas para integrar a natureza à vida urbana. “São Paulo é arborizada de forma desigual. Quando saímos do centro e vamos para as periferias, o número de árvores cai assustadoramente, o que gera alterações no microclima que prejudicam a saúde da população, precisamente nos locais de maior adensamento”, afirma. “Precisamos desenhar estratégia para apoiar a reintegração da natureza nesses territórios, aproximando órgãos públicos e academia. Esse movimento internacional caminha nessa direção.”

 

Primeiro passo

Para Laura Janka, o encontro realizado no IEA em setembro foi apenas o início de um diálogo entre instituições que acreditam na pesquisa transdisciplinar e aplicada.

“A ciência urbana do Insper, o profundo conhecimento da saúde urbana da USP, a liderança em desenho urbano da TU Delft, em articulação com a prefeitura paulistana, por meio da Secretaria das Mudanças Climáticas, representam uma oportunidade única para pensarmos em projetos acadêmicos de incidência direta nas políticas públicas integradas, com foco na redução das desigualdades”, conclui a coordenadora do Núcleo Arquitetura e Cidade do Laboratório Arq.Futuro.

 

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