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Largar o emprego e continuar empregado: é o fenômeno da “quiet quitting”

Funcionários mostram desencanto com o trabalho e desistem da carreira sem alarde, fazendo o mínimo necessário para garantir o salário

Funcionários mostram desencanto com o trabalho e desistem da carreira sem alarde, fazendo o mínimo necessário para garantir o salário

 

Nas últimas semanas, uma nova expressão começou a viralizar nas redes sociais: quiet quitting, que pode ser traduzida como “desistência silenciosa” — o abandono do trabalho sem muito alarde. O termo se aplica às pessoas que não abrem mão do emprego, mas fazem apenas o mínimo necessário para continuar recebendo o salário.

Um dos primeiros vídeos sobre o assunto foi postado na rede social TikTok em meados de julho por Zaid Khan, um engenheiro de 24 anos de Nova York. Embora não tenha cunhado o termo, ele definiu quiet quitting desta forma: “Você não está desistindo do seu emprego, mas está abandonando a ideia de ir além no trabalho”, explicou. “Você ainda está cumprindo seus deveres, mas não está mais seguindo a mentalidade da cultura de agitação de que o trabalho deve ser sua vida. A realidade é que não é, e seu valor como pessoa não é definido pelo seu trabalho.”

O vídeo de Khan já teve mais de 3,4 milhões de visualizações e gerou uma onda de postagens de outros usuários do TikTok sobre o mesmo tema. Ao que parece, há muito mais pessoas mundo afora desencantadas com o emprego e que continuam comparecendo ao trabalho, mas adotando a lei do mínimo esforço. O assunto passou a ser discutido por especialistas e mereceu reportagens extensas de jornais como The Wall Street Journal e The Guardian.

O contexto para a discussão do fenômeno foi dado em abril, quando a empresa de pesquisa Gallup divulgou um levantamento apontando a queda no nível de engajamento dos trabalhadores americanos. De acordo com a pesquisa, 32% dos funcionários entrevistados estavam ativamente engajados em seus empregos no primeiro trimestre deste ano, ante 34% em 2021 e 36% em 2020. Esses foram os primeiros declínios do grau de engajamento desde 2010.

O engajamento é um termômetro de como os funcionários se sentem no ambiente de trabalho. Indica seu comprometimento com o trabalho, o alinhamento com os objetivos e as missões da empresa, as expectativas em relação ao crescimento e desenvolvimento profissional, o senso de propósito proporcionado pelas tarefas que desempenham.

 

Gráfico mostra queda no engajamento de trabalhadores nos Estados Unidos

 

Parente da “grande renúncia”

Para especialistas, o fenômeno da desistência silenciosa é uma consequência, em parte, da pandemia da covid-19, que provocou o desemprego de um grande número de pessoas durante os períodos mais críticos de quarentena. Embora a maioria tenha encontrado novos empregos após a reabertura da economia, a força de trabalho nos Estados Unidos continua menor do que era antes da crise sanitária. Com isso, há mais pressão sobre os funcionários, que frequentemente são solicitados a fazer mais pelo mesmo salário que ganhavam antes da pandemia.

A quiet quitting, segundo esses especialistas, é parente de outro fenômeno que emergiu durante a pandemia: a great resignation, ou renúncia em massa aos empregos. Desde o início da crise da covid-19, milhões de pessoas nos Estados Unidos e em outros países deixaram voluntariamente seus empregos para buscar outros estilos de vida que permitam um equilíbrio melhor entre trabalho e vida pessoal.

Esse é um fenômeno que parece longe do fim. Segundo um estudo da consultoria PwC, realizado com mais de 52 mil pessoas em 44 países, um em cinco entrevistados declarou que pretende trocar de emprego em 2022. Esse desejo é mais intenso entre os trabalhadores da geração Z (com idades entre 18 e 25 anos): 27% disseram que querem mudança de ares nos próximos 12 meses.

A já citada pesquisa da Gallup também verificou que o nível de engajamento dos trabalhadores nos Estados Unidos é menor entre aqueles da geração Z e os millenials (26 a 41 anos). Jim Harter, cientista-chefe da Gallup, disse que as descrições dos trabalhadores adeptos da “desistência silenciosa” se alinham com um grande grupo de entrevistados que ele classifica como “não engajados” — os que aparecem na empresa para trabalhar e fazer o mínimo exigido, mas não muito mais do que isso. Mais da metade dos trabalhadores pesquisados pela Gallup que nasceram depois de 1989 — 54% — se enquadram nessa categoria.

Especialistas em carreira ouvidos pelo site CBS News alertaram para os riscos que os partidários da lei do menor esforço correm na atual conjuntura, quando os Estados Unidos podem entrar em recessão em meio à alta inflação e ao aumento das taxas de juros. Quando a economia desacelera, muitas empresas acabam cortando empregos para compensar a queda da demanda. Nessa hora, “aqueles que fazem o mínimo serão os primeiros a ser mandados embora”, disse um dos consultores ouvidos na reportagem.

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