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Desinfecção de casa no Morro da Babilônia, no Rio de Janeiro, durante a pandemia da covid-19, em abril de 2020

Doações de itens de higiene e limpeza poderiam ter reduzido covid em comunidades do Rio de Janeiro

Transferir a decisão de compra a famílias traria mais impacto no acesso a alimentos, segundo estudo
03/08/2022 01:37

Doações coordenadas por organizações civis em comunidades pobres do Rio de Janeiro mitigaram os efeitos da pandemia da covid-19. O impacto na saúde teria sido maior provavelmente com mais oferta de itens de higiene e limpeza. Se o foco da iniciativa fosse elevar a disponibilidade de alimentos nas casas, a opção por doações de vouchers, por meio dos quais as famílias arbitram o que comprar com o recurso, teria maior impacto.

As conclusões constam de simulações efetivadas por Adriana Leiras, Luiza Alves Cunha e Bianca B. P. Antunes, da PUC-RJ, Paula Santos Ceryno, da UFRJ, e Vinícius Picanço Rodrigues, do Insper, associando dados epidemiológicos, informações de itens doados e pesquisas sobre o comportamento das pessoas e de organizações do terceiro setor em 143 favelas da capital fluminense entre o final de maio e meados de junho de 2020.

Por diversos mecanismos, a abrupta restrição à atividade que se seguiu como resposta à pandemia afetou a saúde das comunidades mais vulneráveis. O estrangulamento da renda e do acesso a alimentos induz as pessoas a flexibilizarem comportamentos mais rígidos de resguardo e distanciamento domiciliar, recomendados para reduzir as infecções pelo coronavírus, na tentativa de obter os itens de primeira necessidade.

 

Quadro mostra o impacto de doações de itens de higiene e limpeza na redução de casos de covid-19

 

As condições de vida nessas regiões na base da pirâmide social, com maior proximidade entre pessoas e menor disponibilidade de saneamento e condições para higienização, catalisam as infecções.

O modo específico como são organizadas as doações para contra-arrestar os efeitos negativos da pandemia também implica maior ou menor risco de contágio. Se os beneficiários precisarem se deslocar até um centro de distribuição, por exemplo, a chance de contrair o patógeno se eleva. Isso também ocorre se o conjunto de bens doados, a relação entre alimentos e produtos de higiene, estiver desequilibrado.

Para lidar com essa complexidade, os pesquisadores recorreram a um modelo que simula e computa interações positivas e negativas para o contágio da covid-19 e para a disponibilidade de alimentos entre as variáveis identificadas em campo. O método permite estimar o que ocorreu concretamente e o que ocorreria se alguns parâmetros — como a participação relativa entre alimentos e produtos de higiene ou entre doações de vouchers e de itens — tivessem sido outros.

As doações de itens para essas comunidades foram altamente concentradas em alimentos (97%) e pouco em produtos de limpeza (3%). O exercício dos pesquisadores estima que, se houvesse equilíbrio entre as duas modalidades de doação, a quantidade de pessoas infectadas nos primeiros 210 dias da epidemia teria sido 5% menor do que com as quantidades efetivamente doadas. O resultado indica que, se o foco das doações fosse reduzir o contágio, mais produtos de higiene deveriam ter sido ofertados.

Já se o objetivo fosse elevar a disponibilidade de alimento entre as famílias, a simulação conclui que realizar as doações sob a forma de voucher — que faculta aos beneficiários decidirem quanto comprar entre comida e produtos de limpeza — eleva esse indicador em 20% na comparação com a modalidade de doações apenas de bens. Essa escolha de doações também tem o efeito de favorecer o comércio local nas comunidades.


LEIA O ESTUDO

“Measuring the Impact of Donations at the Bottom of the Pyramid (BoP) amid the COVID-19 Pandemic”

 


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