André Szilágyi, alumnus do curso de Economia, já criou vários negócios. Sua mais nova aposta é uma empresa voltada para inteligência artificial e gestão de inovação
Bárbara Nór
Desde cedo, André Szilágyi, alumnus do Insper e cofundador da consultoria de inovação Senno, soube que não queria ter um emprego tradicional. Pensar em ter um plano de carreira ou trabalhar para alguém dava “calafrios”.
“Não queria entrar em uma empresa e já ter uma previsão do meu futuro nos dez, quinze anos seguintes. Isso me dava muito medo”, diz. Em vez disso, ele queria construir o próprio futuro. A inspiração veio de dentro de casa. Sua mãe tinha uma empresa de cosméticos, e Szilágyi lembra que a família inteira se reunia para ajudar a envasar os produtos, montar as caixas de distribuição e entregar. “Para mim, aquilo era uma diversão. Eu adorava”, lembra.
Por isso, quando chegou a hora de escolher uma graduação, em 2006, a motivação de André foi um pouco diferente. “Eu não queria fazer faculdade. Queria fazer Insper”, diz ele, que ficou sabendo da instituição por meio de mentores e colegas. “Queria um lugar onde eu pudesse ter contato com universidades de fora, com bons professores, que me puxasse para frente, com coisas novas e disruptivas.”
Assim, mesmo sem intenção de trabalhar em mercados tradicionais como o financeiro, Szilágyi escolheu cursar Economia. “Sempre quis entender mais sobre o ser humano, como tudo foi construído, desde uma base sociológica até de fato as relações socioeconômicas”, afirma.
Foi durante o curso que ele conheceu Gustavo Raulino, colega um ano acima. Eles passaram a fazer algumas eletivas juntos, inclusive uma de marketing. “Comecei a fazer alguns trabalhos para esse curso ligados à empresa da minha mãe”, diz Szilágyi. Seu amigo tinha uma banda e eles começaram a produzir clipes e CDs por conta própria.
Tudo isso culminou em um projeto de TCC que seria o embrião da primeira empresa de Szilágyi: “Tivemos a ideia de ligar a banda com a empresa da minha mãe”, diz. Todos os integrantes pintaram os cabelos com os produtos da marca e começaram a fazer pequenos vídeos para a empresa. A iniciativa envolveu também um canal no YouTube para a divulgar a marca. “Deu muito certo. Começou a aumentar muito a venda dos produtos e deu um baita resultado”, diz Szilágyi. “A gente identificou que tinha um mercado audiovisual muito grande florescendo.”
Foi então que Szilágyi se uniu com o amigo e criaram a Mova, que surgiu como produtora de filmes, mas que evoluiu para uma empresa de construção de mídia para marcas. Querendo se afastar do marketing mais tradicional, eles buscaram empresas com causa e propósitos claros, como fundações e institutos ligados ao terceiro setor. Entre os clientes, estão nomes como Fundação Lehman, Unicef e Fundação Tide Setubal. “Começamos a criar um planejamento anual para essas instituições e crescemos muito.”
Mas essa seria só uma de muitas iniciativas de Szilágyi ao longo dos anos. Ele acabou se tornando também o grande divulgador da monja Coen, que lhe foi apresentada por meio de Rafaela Scavone, sua esposa (e neta da monja). Szilágyi lembra de quando começou a assistir às palestras da monja, na época ainda relativamente desconhecida. “Comecei a assistir e achei tão rico e simples, com um poder tão forte, e perguntei se podia começar a filmar”, diz. “Comecei a lançar no YouTube e virou uma febre.”
Logo os pequenos espaços onde a monja dava suas palestras passaram a ser insuficientes — depois de algum tempo, milhares de pessoas chegavam interessadas em assistir. “Isso virou um fenômeno e foi um projeto autoral meu, tinha um propósito muito forte para mim.” Além do canal no Youtube, Szilágyi passou a se envolver em projetos como cursos online e outros eventos envolvendo com a monja.
Em 2014, Szilágyi e Rafaela Scavone tiveram o primeiro filho, que nasceu no templo da monja Coen. “Queríamos ter um parto natural e nosso apartamento era muito pequeno para nós”, diz. “E ela nos convidou para ficarmos no templo, que tinha mais espaço. Passamos um mês lá.”
O nascimento do filho também serviu para um outro projeto. Dessa vez, Szilágyi ajudou sua esposa a criar uma marca de cosméticos naturais, que pudessem ser usados em bebês e crianças, como pomadas e cremes. Chamada de Terral, a marca cresceu e hoje vende uma série de produtos como sabonetes, loções e escalda-pés.
Já nos últimos três anos, Szilágyi começou a se interessar muito por tecnologias como inteligência artificial, realidade aumentada e machine learning. Ele se tornou sócio e investiu na Senno, empresa voltada para inteligência artificial e gestão de inovação. “Ajudamos grandes empresas a repensarem estratégias e produtos, do começo até a tecnologia de fato”, diz.
Além disso, eles desenvolveram uma metodologia para gerar inovação e a transformaram em um aplicativo, ainda a ser lançado. Szilágyi conta com uma base de 80 milhões de artigos acadêmicos minerados, patentes, leis, notícias e redes sociais. Por meio de inteligência artificial, o aplicativo ajuda as pessoas a entenderem o quanto uma ideia é nova ou não e o que já foi feito em relação a um problema. “Ele funciona como um crowdsourcing. Conectamos o máximo de pessoas para acelerar o desenvolvimento de ideias.”
Ao mesmo tempo, Szilágyi ajudou a criar a ARKx, um braço da Senno e especializada em realizada aumentada, em especial para publicidade e eventos. Um dos primeiros projetos foi implementar uma camada de metaverso com realidade aumentada durante o Dubai Shopping Festival, evento realizado nos Emirados Árabes Unidos para a celebração do ano novo. O público podia, com óculos de realidade aumentada, ver de forma integrada no ambiente real animações como borboletas, flores 3D e uma espécie de fogos na forma de raios laser.
Para Szilágyi, a iniciativa está conectada com o que ele acredita ser o verdadeiro potencial das novas tecnologias que vêm surgindo. “A gente acredita que o metaverso verdadeiro não vai ser imersivo virtual, você colocar óculos e se isolar”, diz. “Mas sim você ter a realidade aumentada, ver o mundo com camadas de tecnologia.”
Hoje com pelo menos quatro empresas no currículo, ele parece longe de estar no fim. “Eu adoro empreender, criar novas iniciativas, ver as pessoas interessadas.” Dos fins de semanas ajudando a família a embalar produtos à estadia em um templo budista e hoje lidar com tecnologias de ponta, a única certeza é que Szilágyi segue construindo o próprio futuro.