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A liberdade de poder ser quem é e expressar as coisas com naturalidade

A gestora Débora Mallet e a professora Maria Elisa Moreira falam sobre o Dia Nacional de Visibilidade Lésbica, que é comemorada no dia 29 de agosto

A gestora Débora Mallet e a professora Maria Elisa Moreira falam sobre o Dia Nacional de Visibilidade Lésbica, que é comemorado no dia 29 de agosto

 

Bárbara Nór

 

“Chegar até aqui foi um processo longo”, diz Débora Mallet, coordenadora executiva do Desenvolvimento de Ensino e Aprendizagem (DEA) no Insper. Depois de décadas se sentindo pouco à vontade para falar sobre sua identidade, ela está agora, aos 51 anos, envolvida na Frente LGBT do Insper, parte da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão e, pela primeira vez, falando abertamente sobre o assunto.

Junto com Fabiana Barreto, Maria Elisa Moreira, Mayara Pedro e Gabriela Albuquerque, ela participará da 1ª. roda de conversa sobre visibilidade lésbica, no próximo dia 29 de agosto, no Insper. O bate-papo vai marcar o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, data estabelecida no Brasil para lembrar o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), que aconteceu em 29 de agosto de 1996.

Débora conta um pouco sobre como foi sua experiência no trabalho até chegar ao momento atual. “A gente passa muito despercebida. Você faz parte daquele grupo de pessoas que não fala da vida pessoal”, diz Débora. “Acabamos reprimindo quem somos, nossa maneira de ser.” Isso começa desde cedo, conta, desde a criação mais comum nas famílias até as experiências na escola e na universidade, que ensinariam desde cedo a esconder a sexualidade fora do padrão heteronormativo — tanto para evitar causar desconforto, como para se proteger do preconceito.

“Principalmente na minha geração, a tendência é não tocar nesse assunto”, afirma Débora. “A gente tem histórias de agressões simbólicas ou não simbólicas. Isso acaba criando uma armadura.” Como consequência, a sensação é de estar sempre na defensiva ­— e criando uma outra versão de si mesmo para a sociedade.

 

Débora Mallet
Débora Mallet: inclusão da parceira no plano de saúde

 

Não só essa sensação de ter que se esconder gera desconforto, como, na avaliação de Débora, acaba prejudicando a própria carreira, já que resulta em uma postura mais fechada e quieta, menos participativa. “Já recebi feedback no trabalho de pessoas me falando que parecia que eu tinha mais de uma cara, diferentes facetas”, diz. “E isso me fez pensar como isso é resultado dessa invisibilidade, de uma série de bloqueios e receios.”  Afinal, como ela se portava também dependia do quão segura ela se sentia com as pessoas no ambiente.

Hoje, Débora diz que consegue enfrentar isso de maneira mais direta. “Na verdade, existe uma grande vontade de ser quem a gente é e expressar as coisas com naturalidade, tanto na empresa quanto na vida pessoal.” Ela conta, por exemplo, que foi o medo de falar sobre sua sexualidade que a fez deixar de aproveitar direitos seus, como tirar uma licença quando se casou com a esposa. “Não é que a empresa não cumpriria, mas eu não me senti à vontade para falar sobre isso.” E só há dois anos, também, que ela finalmente incluiu a parceira no plano de saúde.

 

Humor e leveza

De fato, coisas que parecem muito naturais para as pessoas heterossexuais, como falar de relacionamentos pessoais, acabam virando momentos de desconforto e tensão. “Às vezes me perguntam: ‘e o seu marido?’, e aí eu falo, ‘pode ser marida?”, diz Maria Elisa, professora do Insper e que também irá participar da roda de conversa. Ao longo dos anos, ela diz que aprendeu a usar o humor e leveza como forma de tentar quebrar essas barreiras.

Outro cuidado que ela procura tomar é na linguagem, usando termos mais inclusivos e que não presumem o gênero ou orientação sexual do outro, o que pode acabar reforçando exclusões e a sensação de isolamento. “Não é só respeitar o diferente, mas trazer para perto essas questões de diversidade — eu, como docente, tenho que saber usar muito bem a minha voz.”

Mas, assim como para Débora, nem sempre foi assim para Maria Elisa. “Eu tive uma decisão tardia em expor quem eu era”, diz ela, que, ao longo da vida, passou por dois casamentos héteros. A decisão envolvia, inclusive, contar para os próprios filhos. “Acho que tinha um medo mesmo de como iam me julgar. É muito importante quando a gente se reconhece e entende que há outras pessoas que tiveram jornadas tão bonitas como as nossas.”

Para Maria Elisa, o desafio da mulher lésbica é duplo. “Ser mulher no ambiente corporativo e acadêmico já é, por si só, uma das primeiras batalhas”, diz. “Em muitos espaços, você só vê homens — e como gay em um ambiente hétero, muitas vezes preconceituoso, é mais um desafio.” A impressão é que, em muitos ambientes, é preciso se esforçar duplamente para ser reconhecida. “Hoje sou reconhecida pela minha competência e isso me dá mais autonomia para ser quem eu sou”, afirma.

 

Maria Elisa Moreira
Maria Elisa Moreira: desafio duplo para as mulheres lésbicas

O papel das instituições

Tanto para Débora quanto para Marisa Elisa, na busca por mais diversidade e inclusão na sociedade, empresas e universidades têm um importante papel em fazer movimentar a discussão e criar práticas que tornem os ambientes mais seguros para todos.

Nesse sentido, iniciativas como a criação da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão são significativas, mas deveriam ser apenas o primeiro passo. “É uma boa sinalização de que isso possa de fato ser um valor”, diz Débora. “Mas é preciso ter ações muito concretas e questionar como naturalizamos o preconceito desde o processo seletivo até o nosso dia a dia.”

É por isso, também, que ela decidiu se abrir e começar a ocupar esses espaços. “Poder falar que estamos aqui e ser esse exemplo para os outros é extremamente importante, ainda mais no meu papel como gestora”, afirma. “Vou participar com muita alegria do dia da visibilidade lésbica. É uma forma de estimular discussões na escola.” Outras ações que devem ser feitas, acrescenta, é fazer benchmarking com outras instituições, ter ações afirmativas e, principalmente, deixar claro em todas as comunicações institucionais que a diversidade é, de fato, bem-vinda e celebrada.

“Precisamos ter mais espaço para a fala, para conversar sobre o assunto, e a movimentação que está acontecendo no Insper é um exercício excelente de inclusão e assertividade”, diz Maria Elisa. “É preciso que esse apoio seja bem claro e que, para além do discurso, vire uma maneira de ser.”

 


SOBRE O EVENTO

1ª. Roda de Conversa: Visibilidade Lésbica

Quando: 29 de agosto, às 18h

Onde: Rua Quatá, 300, Prédio 1, 4º andar, sala 410

Inscrições: https://www.insper.edu.br/agenda-de-eventos/roda-de-conversa-visibilidade-lesbica/

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