Realizar busca

Diversificar a pauta de exportações fortaleceria o agronegócio brasileiro

Sueme Mori, diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária, aponta caminhos para o setor, em especial para pequenos e médios produtores

Sueme Mori, diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária, aponta caminhos para o setor, em especial para pequenos e médios produtores

 

Melancias produzidas em Goiás
Melancias produzidas em Goiás (Foto: Wenderson Araujo/Trilux/CNA)

 

Tiago Cordeiro

 

Faz relativamente pouco tempo que o Brasil se tornou uma potência global na exportação de alimentos. Para alcançar essa condição, consolidada ao longo dos últimos vinte anos, foi necessário realizar um esforço enorme, que se mostrou bem-sucedido. Ainda há muito espaço para crescer, contudo. É saudável, e necessário, continuar comercializando grãos, mas a pauta brasileira pode se tornar menos concentrada em soja e na China, com a diversificação das opções e a ampliação do número de produtores envolvidos no esforço exportador.

Essa é análise de Sueme Mori Andrade, diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a CNA. A instituição desenvolve uma série de ações com o objetivo de contribuir para fortalecer o poder exportador do setor, como o programa AgroBrazil, uma iniciativa que leva embaixadores e outros diplomatas para conhecer propriedades rurais brasileiras. Em sete edições, eles já conheceram as frutas do Vale do São Francisco, o café de Minas Gerais, os búfalos do Pará, as uvas do Rio Grande do Sul e o algodão da Bahia.

Na entrevista a seguir, Sueme apresenta sua visão do comércio internacional e aponta caminhos para a expansão do setor.

 

INSPER – Como a senhora avalia a força exportadora do agronegócio brasileiro? Ela aumentou ao longo dos anos e tem potencial para aumentar mais?

SUEME MORI – A história do agro brasileiro como potência exportadora é impressionante. Entre 2000 e 2010, as exportações do agro cresceram 234%. Saímos de R$ 20,6 bilhões para R$ 76,4 bilhões. Em 2021, exportamos R$ 120,5 bilhões. É muita coisa. A força exportadora do agro é muito grande e tem potencial para crescer mais. Temos todos os recursos naturais necessários, o produtor tem uma força empreendedora expressiva e a tecnologia permite aumentar ainda mais a produtividade. Também desenvolvemos pesquisas — basta lembrar que, até a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, desenvolver um trabalho pioneiro no cerrado, dizia-se que era impossível produzir qualquer coisa ali.

 

Os pequenos e médios produtores também são exportadores? Podem melhorar seu desempenho nesse campo?

Exportar é importante, é necessário, mas não é fácil. O Brasil tem um mercado interno muito grande, o que é ótimo, mas ao mesmo tempo limita um pouco a ambição do pequeno e médio produtor. Exportar requer um esforço de capital, estrutura, e demora para dar retorno financeiro. O empresário do agro brasileiro, nesse sentido, é um vitorioso. Mas, em termos da balança comercial, os pequenos e médios ainda não são expressivos. Por outro lado, numa economia globalizada, o produtor brasileiro já concorre, dentro do Brasil, com o mundo inteiro, o que pressiona os produtores de qualquer porte a também buscar novos mercados. Além disso, a cadeia é dolarizada. Quem exporta recolhe valores em dólares. Quem apenas compra insumos em dólares, mas não exporta, não capta o lucro na mesma moeda e acaba perdendo competitividade com as variações de câmbio.

 

A pauta de exportações do agro brasileiro é concentrada em uma variedade relativamente restrita de produtos. Por quê?

A pauta de exportações, de fato, é concentrada. O Brasil exporta de tudo, mas, em termos de volume, no ano passado, os grãos responderam por 32% do total. E podemos aumentar ainda mais a produção de grãos. Mas temos todas as condições de ampliar também outras pautas, em outras frentes.

 

Como a imagem do Brasil lá fora pode frear um crescimento maior das exportações do agro? O aumento do desmatamento nos últimos anos, por exemplo, pode ser um obstáculo?

Ainda não impacta, do ponto de vista prático. O produtor que exporta conhece as regulações, tanto nacionais quanto dos países consumidores, e toma todos os cuidados necessários. O que pode acontecer é um aumento do custo da produção, no sentido de que alguns países têm exigido, por exemplo, comprovação de origem por georreferenciamento, o que aumenta os custos. Por outro lado, o setor tem investido em ações de comunicação com os mercados compradores, de forma que eles conheçam as práticas sustentáveis do setor.

 

Quais são os principais desafios que um produtor enfrenta quando decide buscar mercados em outros países?

Definir para onde exportar, conhecer as regras, a tributação, os custos, as regulações, tudo isso é um desafio. Demanda um esforço inicial grande. Mas, depois que o produtor começa a observar o retorno, ele se beneficia e fortalece sua posição. Existem diferentes maneiras de buscar orientação para começar, inclusive nas embaixadas e nas agências, públicas e privadas, dedicadas à exportação. A própria CNA tem três escritórios presenciais capazes de prestar informações aos interessados em exportar.

 

Sueme Mori, da CNA
Sueme Mori Andrade, da CNA

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade