A professora Priscila Claro explica os objetivos do curso, desenhado para formar profissionais que levem em conta a sustentabilidade na busca de soluções para os desafios de suas organizações
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) são levados em consideração por organizações que atuam no Brasil para estabelecer prioridades e projetos relacionados a ESG (acrônimo em inglês que sintetiza as práticas ambientais, sociais e de governança), ainda que em diferentes níveis de maturidade.
Esta é uma das conclusões de uma pesquisa realizada pela professora Priscila Claro, em parceria com os Princípios para Educação Responsável das Nações Unidas (PRME) e com o Pacto Global, e que será publicada em abril no Observatório do Pacto.
A pesquisa também mostra que ter estratégias alinhadas a sustentabilidade é tema essencial na agenda da diretoria e do conselho e é cascateado para o nível da operação. Cerca de 60% das organizações consideram a ambição pelos ODS no nível da operação.
No entanto, ainda existem desafios para que as organizações consigam alavancar oportunidades em atuar de forma mais efetiva em todas as etapas da cadeia de valor para minimizar os impactos negativos. Além disso, há oportunidades para implementar sistemas dinâmicos para coleta e processamento de dados em tempo real a fim de orientar as estratégias de sustentabilidade. Em muitas organizações, a coleta de dados sobre resultados passados tem o objetivo exclusivamente de gerar relatórios de sustentabilidade.
A pauta de sustentabilidade, que não é nova no mercado, ganhou força nos últimos dois anos. De fato, nunca se falou tanto em ESG. Atento a essa demanda, o Insper, que mantém disciplinas e cursos relacionados a sustentabilidade há pelo menos 15 anos, inaugura agora o Programa Avançado em Sustentabilidade. Trata-se de um curso de pós-graduação, desenhado para formar profissionais que incluam sustentabilidade de maneira abrangente na busca por soluções para os desafios de suas organizações, sejam elas públicas, privadas ou de terceiro setor.
A professora associada Priscila Claro, que lidera o Núcleo de Estudos em Sustentabilidade e Negócios, é uma das idealizadoras do programa. Doutora em Administração pela Universidade Federal de Lavras, mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de Wageningen (WUR), na Holanda, ela trabalhou no Instituto de Economia Agrícola em Haia, na Holanda. Também atuou como pesquisadora do Pensa (Centro de Inteligência do Agronegócio), da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Na entrevista a seguir, a professora avalia o cenário atual e descreve os principais objetivos do Programa Avançado em Sustentabilidade do Insper.
ESG é uma sigla que ganhou notoriedade nos últimos anos, especialmente em função da carta aos investidores de Larry Fink, presidente e CEO da BlackRock, em 2020. Mas não é um termo novo. Foi cunhado no final da década de 80 e passou a vigorar no mercado no começo da década de 90. A ideia não é nova, nem o entendimento de por que o tema é importante.
O conceito remete diretamente às estratégias das empresas, que deveriam considerar três dimensões de atuação interdependentes: ambiental, social e econômica. Uma empresa que desenvolve estratégias relacionadas a metas de carbono zero precisa avaliar também a relação com o impacto nos trabalhadores e na comunidade do entorno. As estratégias ambientais têm impactos diretos em resultados econômicos.
Seria mentira dizer, hoje, que as empresas não podem crescer sem considerar a pauta ESG. Existem, sim, organizações, especialmente pequenas e médias, que encaram enormes desafios para implementar pautas ESG. Também existem muitos discursos vazios e muitas corporações que não conseguiram ajustar suas operações, seus produtos, seus comportamentos.
Por outro lado, a pressão pela adoção da pauta tem sido muito maior. E vem de diversas frentes: investidor, dono, acionista, parceiros e consumidores que buscam as empresas com base em propósitos. Cedo ou tarde, essa pressão vai chegar em todos os negócios. Será preciso então desenvolver uma estratégia consistente em ESG, o que significa avaliar os impactos positivos e negativos em toda a cadeia de valor. É uma questão de riscos e oportunidades.
A empresa que adotar uma estratégia apoiada em ESG vai agregar mais valor, inclusive para o acionista. O risco reputacional é importante, mas atualmente já conseguimos, também, relacionar a falta de uma estratégia ESG com risco financeiro.
A implementação das ações é mais importante do que a comunicação. Se a empresa não estiver preparada, com um plano bem estabelecido, com metas de curto e longo prazo, justificativas que façam sentido, ela pode comunicar um discurso vazio, que pode significar a prática de greenwashing.
Mais importante é fazer uma boa lição de casa, entender quais são os principais impactos, priorizar investimentos naqueles que são mais significativos. Além disso, o impacto não pode ser avaliado apenas da perspectiva do executivo, do acionista. Ele tem que ser avaliado na perspectiva também dos stakeholders externos.
Num segundo momento, a comunicação tem que ser transparente, clara e o mais simples possível, sempre comprometida com a realidade. A maioria das empresas não relatam o que não deu certo, o que também é esperado quando se trata do comprometimento em relação a ESG e sustentabilidade.
O Insper sempre trabalhou com projetos relacionados a sustentabilidade e ESG. Eu entrei na escola em 2006, precisamente para levar essa pauta para os cursos, os currículos, as linhas de pesquisa.
Já temos vários programas de educação executiva para empresas, mas agora percebemos que existe um mercado para esse programa, que foi desenhado para atender a profissionais de organizações, com ou sem fins lucrativos, empresas privadas e de capital aberto, que lidem com o desafio de sustentabilidade.
O objetivo é capacitar os profissionais para que eles façam bom diagnóstico de contexto, de impactos negativos e positivos que a cadeia de valor gera, e consigam desenhar estratégias.
Tiago Cordeiro