David Owens, professor da Universidade Vanderbilt, afirma que as pessoas não querem ideias criativas, mas problemas solucionados com criatividade. Isso só é possível com metodologia
Bruno Toranzo
“Sozinha, a criatividade não muda nada. Ela só faz sentido para gerar inovação quando é acompanhada de execução e adaptação”, afirmou David Owens, professor de inovação na Owen Graduate School of Management, parte da universidade americana Vanderbilt, em sessão durante o Seminário Internacional de Inovação, promovido pelo Insper. “As pessoas não querem ideias criativas, mas problemas solucionados por meio da criatividade. E isso somente é possível se houver metodologia ou framework que aponte como chegar a uma determinada situação ou crie uma lógica para isso.”
O estudioso afirmou que chegou a essa conclusão depois de pesquisar os comportamentos das organizações sobre inovação, design e desenvolvimento de produtos. Segundo Owens, a definição de inovação é relevante para que as pessoas enxerguem que, na realidade, a palavra não pode ser entendida como sinônimo de criatividade, por abranger muito mais do que isso.
Para que possam inovar, os profissionais precisam ter os insumos necessários, como saber qual é o mercado de atuação da empresa e como funciona sua cadeia de fornecimento. “A opinião dos consumidores sobre a empresa e seus serviços e produtos é igualmente relevante”, disse Owens. Outros aspectos que influenciam na capacidade inovativa são disposição para correr riscos, habilidade na execução das ideias e pesquisa de mercado para entender se há demanda para sua inovação, que pode vir no formato de produto ou serviço.
O professor americano enumerou seis barreiras para a inovação. A primeira delas é a mais óbvia: a falta de boas ideias. Afinal, é uma ideia que dá origem à inovação. Na sequência, a não disposição para correr riscos; a execução ruim da ideia; o desconhecimento das necessidades dos consumidores e do mercado como um todo; a não satisfação das aspirações dos consumidores; e a tecnologia ruim ou disfuncional, o que prejudica a experiência dos consumidores.
Por fim, Owens comparou duas fontes de ideias para as companhias: a inovação aberta (open innovation) e o empreendedorismo (entrepreneurship). A primeira utiliza o conhecimento coletivo e recursos externos à organização para auxiliar no desenvolvimento do negócio. As empresas usam a inovação aberta para ganhar perspectiva na pesquisa e no desenvolvimento de novos negócios. “É a melhor forma de entender o que acontece fora da organização.”
O problema é que esse modelo não consegue enxergar as tais seis barreiras internas à inovação que costumam existir nas organizações. “Falta esse contexto para entender como realmente gerar inovação”, destacou Owens. Já o empreendedorismo — ou a mentalidade empreendedora — conhece esse contexto interno, mas não visualiza o todo como faz a inovação aberta, pois está olhando apenas sob a perspectiva da empresa. “O ideal é contar com essas duas fontes de ideias no dia a dia, pois elas se complementam.”
Para Owens, um dos elementos mais importantes de uma boa ideia é saber explicá-la para outras pessoas, fazendo com que seja devidamente compreendida. “Pessoas bem articuladas, como Albert Einstein, souberam colocar no papel suas ideias com exatidão para que outras pessoas pudessem concordar com ela ou discordar dela”, afirmou. “Para que haja esse debate sobre a ideia, analisando sua viabilidade, ela precisa ser compreendida. Todos nós precisamos treinar para conseguirmos traduzir nossas ideias, ainda que pareçam complexas.”
Essas boas ideias, segundo Owens, só nascem a partir de novas percepções e novos dados em uma abordagem voltada para a resolução de problemas. Aquele comportamento ainda muito visto de estar imerso no próprio negócio, considerando somente questões próprias dele, não costuma ser uma fonte rica de ideias. Pelo contrário: a ordem é olhar para fora do negócio a fim de reconhecer, por exemplo, uma mudança no ambiente de negócios.
“Como saber que precisamos inovar se não reconhecemos nem mesmo uma evolução do mercado em que atuamos?”, questionou Owens. “O problema é que muitas empresas estão tão ocupadas que não conseguem enxergar essas novidades. As redes de hotéis, por exemplo, não reconheceram as transformações que levaram ao sucesso do Airbnb.”