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Os grandes temas deste ano no agro que devem reverberar em 2023

Reveja os principais assuntos analisados pelo InsperAgroGlobal ao longo de 2022 — e que devem continuar gerando impactos no próximo ano

Reveja os principais assuntos analisados pelo Insper Agro Global ao longo de 2022 — e que devem continuar gerando impactos no próximo ano

 

O ano de 2022 se aproxima do fim mas está longe de acabar. Muitos dos assuntos discutidos com profundidade nos artigos, entrevistas e reportagens publicados nos últimos meses neste espaço continuarão repercutindo no próximo ano: a guerra entre a Rússia e a Ucrânia; as novas questões geopolíticas globais; os desafios ambientais e climáticos; além de questões macroeconômicas que causam efeitos nos mercados agropecuários globais e influenciam diretamente as exportações brasileiras do setor.

Relembre, a seguir, os principais temas que foram destaque em nossas newsletters neste ano.

 

Guerra entre a Rússia e a Ucrânia

No dia 24 de fevereiro, a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia. Por causa da diferença no poderio militar entre os dois países, alguns analistas previram um desfecho rápido para a guerra. No entanto, quase dez meses depois, o conflito ainda se arrasta e está redesenhando a geopolítica do agronegócio global.

Os dois países beligerantes são grandes exportadores de produtos agroalimentares — juntos, a Rússia e a Ucrânia respondiam por 27% das exportações globais de trigo, 18% de milho e 77% do óleo de girassol. O conflito trouxe o fantasma de uma crise alimentar global, que atinge um grande número de países em proporção não vista desde a Segunda Guerra Mundial. Houve imediata preocupação global com relação à manutenção regular do comércio de alimentos e insumos, mas que com o tempo foi se arrefecendo em função de acordos de escoamento de produtos alimentares pelo Mar Negro.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia deixou clara também a forte dependência do Brasil em relação a fertilizantes importados. Com um consumo de 8,3% da produção global, o Brasil fica atrás apenas da China (24%), da Índia (14,6%) e dos Estados Unidos (10,3%). Juntas, as quatro nações representam quase 60% do consumo mundial, mas apenas o Brasil tem produção doméstica de baixa relevância, o que coloca o país na sensível posição de maior importador de fertilizantes do mundo. A redução dessa dependência não ocorrerá no curto prazo, mas a crise mostrou a necessidade de um planejamento estratégico, com visão de longo prazo, para o setor de fertilizantes, uma demanda antiga no Brasil.

 

Geopolítica e comércio internacional

O conflito russo-ucraniano veio agravar uma situação que não é de hoje. Desde 2020 se verifica, em nível global, a escalada de preços dos alimentos, motivada pela combinação de fatores climáticos, elevação da demanda e disrupção em elos de cadeias produtivas agroalimentares em função da pandemia. A alta de preços elevou a preocupação mundial com segurança alimentar, gerando reações distorcivas de países no comércio global e evidenciando a inoperância das organizações multilaterais.

Os resultados da pandemia e as consequências da guerra têm impactado o comércio entre os países. Grande parte do mundo passou a olhar com maior atenção para as cadeias de produção, buscando fortalecer a produção de insumos ao seu redor. Muitos países estão buscando garantir maior produção de alimentos internamente, o que poderá impactar o Brasil no longo prazo, a depender de como o país reagirá a essas transformações. Mais do que nunca, a governança no agro brasileiro se tornou fundamental para enfrentar os novos desafios do comércio internacional.

Nestes tempos turbulentos, o agronegócio tem respondido à altura. Projeções do centro Insper Agro Global apontam que o setor caminha para um novo recorde de exportações. O total exportado pelo agro neste ano deve passar de 140 bilhões de dólares até o fim do ano, a preços correntes. Isso significa um novo recorde nas exportações agrícolas brasileiras — até hoje, o maior valor na série histórica foi de 120 bilhões de dólares, em 2021.

Não se pode perder de vista, contudo, que o Brasil ainda concentra as exportações de agro em poucos produtos e países, ficando à mercê de choques negativos na demanda dos países importadores. Desses poucos compradores, destaca-se a China, responsável por cerca de 35% de toda a exportação agropecuária brasileira. Isso mostra a necessidade de o país olhar com mais atenção para os impactos da geopolítica nos mercados agrícolas. Para garantir a sustentabilidade do seu crescimento, é imprescindível que o Brasil amplie a sua pauta de países parceiros e de produtos exportados.

 

Questões ambientais e climáticas

O ano de 2022 também deixou claro que é fundamental o Brasil olhar para as oportunidades que a preservação da floresta em pé — em sintonia com a expansão agrícola sustentável — proporciona. Globalmente, a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa (GEE) é a geração de energia, dada a ampla utilização de combustíveis fósseis. A segunda maior fonte de emissões é a atividade agropecuária, seguida por processos industriais, mudança no uso da terra/florestas e resíduos.

O Brasil está na sexta posição entre os maiores emissores de GEE — com cerca de 5% das emissões globais —, atrás de China (36%), Estados Unidos (18%), Índia (11%) e Rússia (6%) e em nível muito próximo da participação da Indonésia (5%). Se por um lado o país tem uma matriz energética bastante limpa em emissões, baseada na geração de hidroeletricidade e no uso de biocombustíveis, por outro apresenta altas emissões geradas pela mudança no uso da terra e pela agropecuária.

No Brasil, a agropecuária é a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa, respondendo por 27% do total. A necessidade de reduzir as emissões cria oportunidades para aprimorar os sistemas de produção de carne, o manejo do solo e o uso de resíduos orgânicos.

Por sua extensão territorial e rica biodiversidade, o Brasil ocupa uma posição crucial no combate aos efeitos das mudanças climáticas no planeta. A redução das emissões nacionais nos setores de mudança no uso da terra e agropecuário representa uma oportunidade, que pode ser traduzida em ganhos econômicos com o mercado de precificação de carbono. Segundo uma estimativa do Banco Mundial, 42% dos créditos de carbono gerados entre 2015 e 2020 foram derivados de projetos florestais.

Cabe destacar também que o Brasil tem uma oportunidade que poucos países têm: aumentar a produção agrícola e, ao mesmo tempo, sequestrar mais carbono. Isso graças ao potencial de mitigação climática presente nos solos, que são importantes sumidouros de carbono, especialmente em condições tropicais. O manejo do carbono no solo é uma relevante “solução climática natural” — ação de conservação e restauração da vegetação nativa e manejo do solo que aumenta o armazenamento de carbono ou evita as emissões de gases de efeito estufa.

O papel do agronegócio no combate às mudanças climáticas foi um dos temas discutidos durante a COP27, a Conferência das Partes realizada em Sharm El Sheikh, no Egito, em novembro.

 

Macroeconomia e mercados

O principal motor da expansão do agronegócio brasileiro tem sido o segmento exportador, que vem registrando sucessivos recordes graças ao alto patamar alcançado pelos preços internacionais (em dólares) pagos pelas principais commodities exportadas pelo país. No entanto, se por um lado esse resultado tem ajudado a minimizar os efeitos da crise gerada pela pandemia na economia brasileira, por outro tem causado preocupação para a sociedade em função de uma alta expressiva nos preços dos alimentos, influenciada também pela desvalorização do real no período. Essa preocupação ganhou contornos ainda mais graves com a guerra na Ucrânia.

É importante ponderar, no entanto, que nas últimas três décadas o agronegócio vem entregando altas taxas de crescimento de produção e produtividade, que resultaram em alimentos cada vez mais acessíveis e competitivos para o consumidor brasileiro, com evolução de preços reais abaixo dos demais setores da economia brasileira.

Em suma, o mundo vive hoje um patamar recorde de preços de produtos agroalimentares e uma forte alta no mercado de insumos em geral, sejam energéticos, sejam minerais (como no caso dos fertilizantes) ou agropecuários, que são resultado dos desequilíbrios nas relações de oferta, demanda e estoques. Economias vêm sendo impactadas pela alta inflação globalmente e, com isso, os bancos centrais vêm elevando juros, o que gera um reflexo negativo sobre o nível de atividade.

A desaceleração da economia chinesa é um fator especial de preocupação para o setor, que deve enfrentar um cenário desafiador em 2023. A grande volatilidade dos mercados tem dificultado previsões, mas para o próximo ano já se espera uma melhor relação de oferta combinada a uma demanda desaquecida, o que resultará na queda de preços relativos das commodities agrícolas. O agravante é que os custos da produção agropecuária seguem elevados, o que pode afetar significativamente as margens dos produtores. É esse o cenário desafiador que se desenha para o próximo ano.

 


Para rever as reportagens e os artigos publicados pelo Insper Agro Global ao longo de 21 edições da nossa Newsletter Quinzenal em 2022, clique aqui.

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