Essa é a ideia defendida por Carlos Moreno, da Universidade Sorbonne, um conceito de metrópole descentralizada que vem sendo implementado em Paris
Tiago Cordeiro
Trabalho, lazer, compras, entretenimento, alimentação, atividades esportivas, atendimento de saúde, convívio social, tudo a 15 minutos da residência, a pé ou por bicicleta. Num cenário em que mais pessoas vão morar em ambientes urbanos, alcançar este objetivo poderia garantir qualidade de vida para parte expressiva da humanidade.
Hoje, 55% das pessoas no mundo já moram em cidades. Em 2050, serão 68%, o que significa 2,2 bilhões de pessoas a mais vivendo em metrópoles, de acordo com o Relatório Mundial das Cidades 2022, publicado pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat).
O desperdício produzido pelo deslocamento entre atividades é determinante não só para as emissões de gases poluentes, como também para a qualidade de vida e os indicadores de saúde. Afinal, uma cidade com opções próximas para todas as demandas reduziria os 127 minutos que cada brasileiro, em média, passa no trânsito todos os dias atualmente. É um tempo tipicamente caracterizado por estresse e sedentarismo.
A cidade de 15 minutos é viável, como tem afirmado Anne Hidalgo, prefeita de Paris desde 2014 e que vem trabalhando para implantar esse conceito na capital francesa. Um de seus principais defensores é Carlos Moreno, diretor científico da cadeira de Empreendedorismo, Territórios e Inovação da Universidade Sorbonne, em Paris.
“Aceitamos por tempo demais o inaceitável: edifícios sem uso, perda de interações sociais, cidades segmentadas, fragmentadas e desiguais, em que passamos muitas horas apenas nos deslocando”, afirmou Moreno durante a sessão “The 15 Minutes Cities”, parte do Seminário Internacional de Inovação, realizado pelo Insper e destinado a executivos e pensadores interessados em inovação.
A construção das cidades inteligentes foi o tema de três sessões, realizadas ao longo do dia 27 de outubro e que contaram com a organização do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, que atua de forma integrada aos programas educacionais e centros de pesquisa existentes no Insper.
Nascido na Colômbia e vivendo atualmente na França, Moreno conhece as dificuldades de implementar sua proposta precisamente nas metrópoles mais socialmente desiguais, onde estará boa parte da população global em 2050. “Entendo que locais diferentes enfrentam desafios próprios. Nesse sentido, sem regulamentação e mudanças no zoneamento, não é possível implementar este modelo”, afirmou.
Em outras palavras, “é preciso ter a coragem de adotar medidas firmes para incentivar empresas e organizações a participar deste processo, especialmente no mercado imobiliário e no setor de mobilidade urbana”.
De outro lado, o resultado será recompensador, afirmou. “Precisamos nos perguntar: em que tipo de cidades queremos viver? Podemos morar cercados por espaços de usos múltiplos, próximos de tudo o que precisamos e queremos. As cidades podem, e devem, ser espaço de conforto e felicidade.”