Aluno do Programa Avançado em Gestão Pública, o gaúcho Kassiano Fraga fala sobre o prêmio de boas práticas de gestão conquistado por sua cidade natal, fundada em 1760
O gaúcho Kassiano Fraga, de 27 anos, é diretor de Inovação e Empreendedorismo da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico no município onde nasceu, Santo Antônio da Patrulha, uma cidade com pouco mais de 40 mil habitantes na região metropolitana de Porto Alegre. A cada 15 dias, ele pega o avião e viaja a São Paulo, a mais de 1.000 quilômetros de distância, para assistir às aulas do Programa Avançado em Gestão Pública (PAGP) do Insper. “A rotina de viagens é um pouco desgastante, mas sei que é um esforço que vale muito a pena”, diz Fraga.
Formado em Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Fraga descobriu, ainda na época da faculdade, sua vocação para a gestão pública. Depois de concluir o curso de graduação, trabalhou por um tempo como professor no Maranhão. Retornou à cidade natal no final de 2020 para assumir o cargo que exerce atualmente. “Recebi um convite do prefeito eleito para liderar o desafio de trazer a inovação para o centro dos debates em Santo Antônio da Patrulha”, conta.
Os resultados do trabalho começam a aparecer. Em novembro, com um projeto batizado de InovaSAP, sua cidade — que foi fundada em 1760 e está entre as quatro mais antigas do estado — obteve o 1º lugar na categoria Ecossistema de Inovação do 4º Prêmio Boas Práticas na Gestão Pública Municipal, promovido pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). O objetivo desse prêmio é identificar, reconhecer e estimular práticas bem-sucedidas, inovadoras e replicáveis, desenvolvidas pelas administrações municipais e que contribuam para a implementação de políticas públicas locais. O InovaSAP foi um dos 45 projetos premiados, entre 557 projetos inscritos, de 220 prefeituras.
Na entrevista a seguir, Fraga conta um pouco mais sobre a importância do prêmio para a cidade e o caminho que vem trilhando para construir uma carreira na gestão pública.
Você poderia falar um pouco sobre o InovaSAP? Qual é o objetivo desse projeto e como ele foi implementado?
No começo de 2021, quando iniciei meu trabalho em Santo Antônio da Patrulha, recebi a missão de trazer a pauta da inovação para dentro do município. Naquele momento, ainda lidávamos com os impactos econômicos e sociais da pandemia, mas também tínhamos a preocupação com o cenário futuro da cidade e como nós, gestores públicos, poderíamos criar condições para posicioná-la diante de um mundo em acelerada transformação.
Nesse sentido, identificamos que a comunidade ainda estava distante dos debates em torno das oportunidades e dos desafios trazidos pela inovação e pela tecnologia, bem como a necessidade de aproximarmos a educação do desenvolvimento econômico do município. Foi assim que nasceu o InovaSAP.
Ao longo de 2021 e 2022, foi desenvolvida uma série de ações com o objetivo de colocar a inovação no centro dos debates do município, aproximando os jovens do novo mundo do trabalho e criando condições para o desenvolvimento de novos negócios na área de tecnologia. O primeiro passo foi a criação do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, do qual tive a honra de ser presidente. Ali, aproximamos empresas, universidade, poder público e sociedade civil para a construção de projetos em parceria para fortalecer nossas potencialidades.
Que resultados já foram gerados pelo projeto?
A partir desse trabalho inicial, realizamos a 1ª Semana de Inovação do município, ainda de forma virtual, em função da pandemia. Trouxemos grandes nomes para conversar com a nossa comunidade e ganhamos destaque em todo o estado. Em conjunto com uma série de parceiros, também realizamos formações voltadas a habilidades para a nova economia, impactando quase 200 jovens do município. Além disso, enviamos as maiores comitivas da história da cidade para os principais eventos de inovação que ocorreram no estado, como o South Summit Brazil. Articulamos com a FURG, universidade que possui um campus em Santo Antônio, a instalação do primeiro espaço de seu parque tecnológico em nosso município. Mais recentemente, aprovamos a primeira Lei Municipal de Inovação da região, fortalecendo a institucionalização dessa pauta. É importante destacar que todas essas ações foram resultado de uma grande mobilização de parceiros e não envolveram nenhum custo para o município.
E qual foi a sensação de ver esse projeto receber um prêmio em âmbito estadual?
É muito gratificante ver um projeto que trata de questões primordiais para o futuro das cidades receber esse reconhecimento em tão pouco tempo. Mais gratificante ainda é perceber resultados positivos, como foi o caso de dois estudantes que participaram de uma dessas ações dentro da sala de aula e que desenvolveram um projeto para tratar da saúde mental no ambiente escolar e vêm recebendo uma série de premiações, inclusive sendo selecionados para representar o Brasil no México durante a Infomatrix Internacional [competição de projetos científicos e tecnológicos]. Esse exemplo é bem representativo para demonstrar como a inovação não está limitada à tecnologia, podendo também contribuir na busca de soluções para problemas a nossa volta.
Você é formado em Direito. Quando começou a pensar em trabalhar com gestão pública?
Durante a faculdade, fiz estágios sempre na área jurídica, mas já nessa época identifiquei que meu interesse seria construir uma carreira dentro da gestão pública voltada para impacto social. Isso ocorreu muito em função de projetos de que participei na faculdade, como é o caso do Politize!, que me permitiu ter contato com diversas escolas com realidades diversas. Logo que me formei, em 2019, fui aprovado no programa de desenvolvimento de lideranças em educação do Ensina Brasil, que me permitiu atuar como professor em uma área de vulnerabilidade no país. Fui enviado para trabalhar como professor da rede estadual em São Luís, no Maranhão, em 2020. Trabalhei boa parte daquele ano de forma virtual, por causa da pandemia. Até que, no final de 2020, surgiu a oportunidade de retornar para Santo Antônio da Patrulha, a convite do prefeito eleito da cidade, que queria começar a trabalhar com inovação. A partir disso passei a ter essa experiência diretamente no Poder Executivo, no cargo de diretor da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico. Ao mesmo tempo, fui construindo novas parcerias e participando de outras iniciativas, como o ProLíder, um programa de desenvolvimento de liderança, e o Vetor Brasil, por meio do Programa Trainee de Gestão Pública. Nesse contexto, senti a necessidade de me aprofundar nesses temas, e o Programa Avançado em Gestão Pública foi o caminho mais natural para mim, pela oportunidade de ter aulas num contexto de excelência, como é o caso do Insper.
O que o PAGP está agregando à sua carreira ou ao trabalho que realiza atualmente?
Sempre tive o sonho de estudar no Insper, mas, como moro no Rio Grande do Sul, eu tinha dificuldade de visualizar esse sonho sendo realizado no curto prazo. Foi a partir de conversas com ex-alunos do curso que conheci melhor o programa de bolsas e comecei a entender que existia um caminho, e que o PAGP se enquadrava perfeitamente em meu momento de carreira.
Recebi a notícia da aprovação com uma alegria indescritível e pude iniciar o PAGP em 2022. Desde então, tenho tido uma experiência de aprendizado incrível. Além de simbolizar a excelência na educação e reunir em seus quadros alguns dos principais especialistas que contribuem para o debate público do país, tenho como colegas grandes profissionais que estão atuando em diversas regiões do país com projetos incríveis, possibilitando discussões de alto nível em cada encontro.
Além de uma experiência de aprendizagem muito rica, com professores excelentes e que são referências em suas áreas, o curso tem me disponibilizado uma série de ferramentas e exemplos de boas práticas que busco replicar diariamente em meus projetos.
O que você espera alcançar com o curso?
Mais de 90% dos municípios do país possuem menos de 100 mil habitantes e percebo que, em boa parte desses locais, existem grandes desafios comuns, como a modernização da gestão e a compreensão das mudanças que o mundo vem sofrendo. Nesse sentido, sempre almejei contribuir para a modernização dos pequenos e médios municípios e encontrar meios de conectá-los às melhores políticas públicas, possibilitando, consequentemente, a melhora da vida de seus cidadãos. Participar do PAGP tem me permitido alcançar esse objetivo, não apenas aperfeiçoando minhas ações, mas também conectando os desafios da minha cidade e região com pessoas que, assim como eu, querem transformar a realidade brasileira.